Este é o resumo do artigo de 12 páginas que tem por objetivo apresentar as inovações que ocorreram em educação ao longo da história da humanidade. A palavra inovação significa em síntese novidade. A palavra inovação se refere a uma ideia, método ou objeto que é criado e que pouco se parece com padrões anteriores. Inovação pode ser também definida como fazer mais com menos recursos, por permitir ganhos de eficiência em processos, quer produtivos quer administrativos ou financeiros, quer na prestação de serviços. A inovação tanto pode ocorrer por meio de uma ação perfeitamente planejada quanto por simples acaso. No entanto, empiricamente verifica-se que poucas inovações surgem do acaso. A maior parte das inovações em educação, em especial as mais bem-sucedidas, resultaram de uma busca consciente e intencional de oportunidades para inovar introduzindo algo novo. As inovações em educação podem ser classificadas em dois grandes grupos: a) Inovação Radical ou de Ruptura que se caracteriza pela incessante busca de algo novo que leva a ruptura e quebra de paradigmas anteriores; e, b) Inovação Incremental ou Inovação por Processo de Melhoria Contínua que se caracteriza por uma busca de aperfeiçoamento constante e gradual.
Na Antiguidade, o povo da Fenícia, que ocupava a região dos atuais Líbano, Palestina, Síria e Israel, inovou ao simplificar a técnica da escrita até chegarem, finalmente, a um sistema puramente alfabético. O império romano foi o primeiro a promover a inovação de um sistema de ensino oficial, a partir de um organismo centralizado e sob responsabilidade do Estado. A Idade Média é tida como idade das “trevas”. Apesar disto, foi neste período que ocorreu outra grande inovação na educação com o nascimento da Universidade no ano 1000, na Europa. O desenvolvimento da escola como instituição de ensino foi uma inovação na educação que está intimamente ligada à burguesia e ao capitalismo. Além da universidade, outra modalidade de ensino surgiu como inovação na Idade Média a partir dos anos 1000, as corporações de ofício, que se distinguem da formação escolar pelo fato de se realizar no local de trabalho no qual adolescentes aprendizes recebiam orientação de mestres sapateiros, joalheiros, padeiros, etc. a quem ficavam sob sua tutela.
No século XVI, surgiram duas propostas de educação: a da Reforma Protestante e a da Contrarreforma comandada pela Igreja Católica. Estas foram as principais concepções de educação que vigoraram a partir do século XVI e séculos seguintes. A expansão da escola começou na Europa com as reformas religiosas, especialmente a luterana, que trouxe como inovação na educação a exigência da presença de meninos e meninas nos bancos escolares sem distinção de classe. Nos séculos XVI e XVII, a educação ganhou impulso adquirindo nova feição com a inovação das classes escolares divididas por idades e a proposta de meninos e meninas frequentarem a escola que foram conquistas dessa época. No século XVI, as igrejas criadas pelas reformas religiosas, especialmente a reforma luterana, desempenharam papel fundamental na educação com sua ênfase de as famílias enviarem seus filhos à escola. No século XVII, aconteceu outra inovação na educação com a renovação pedagógica proposta por Jan Comenius de “ensinar tudo a todos” baseada no empirismo (observação direta das coisas). Comenius propôs uma escola para a vida toda que, dividida em graus, ensinasse tudo a todos totalmente. O século XVIII foi marcado por inúmeras transformações que tiveram grande influência das ideias iluministas. A educação como um direito de todos, a obrigação do Estado de manter escolas, o direito à educação pública e gratuita, a garantia de que a escola pública não esteja sob o domínio de nenhum credo religioso (laicidade) foram bandeiras defendidas pela burguesia revolucionária, mas que não foram totalmente colocadas em prática depois que se tornou classe dominante.
Nos séculos que antecederam a Revolução Industrial na Inglaterra em 1786, à medida que a Europa apresentou seus primeiros avanços tanto na tecnologia quanto no comércio, a importância da educação começou a aumentar. A partir deste momento, pela primeira vez na história, houve a inovação na educação com a formação de recursos humanos voltados para atender as necessidades da industrialização por uma força de trabalho munida de alfabetização, letramento matemático e habilidades mecânicas. Os trabalhadores desenvolviam habilidades sobretudo por meio do treinamento no local de trabalho. A 1ª Revolução Industrial e o nascimento das fábricas gerou espaço para o surgimento da moderna instituição escolar pública. A fábrica e a escola nascem juntas, as leis que criam as escolas de Estado vêm juntas com as leis que suprimem a aprendizagem corporativa. Começou a declinar a influência católica na educação, cujo declínio cresceu no século XIX, com a supressão da ordem dos jesuítas. No século XVIII, o processo de laicização da educação foi avançando com a subtração da influência religiosa. Jean- Jacques Rousseau é considerado o pai da pedagogia moderna por representar seu pensamento o mais avançado porque procurou apontar para o homem como alcançar a felicidade, tanto no que se refere ao indivíduo quanto no que se relaciona à sociedade. Ao formular sua pedagogia traçou as linhas com o objetivo de fazer da criança um adulto bom baseado na sua crença na bondade natural do homem.
Propostas inovadoras de intervenção estatal no campo da educação já vinham ocorrendo antes de 1789 em vários países. Foi em 1717, na Prússia, que a educação pública foi instituída como escola obrigatória para crianças entre 5 e 12 anos, pelo rei Frederico Guilherme. Posteriormente, surgiram leis que impediam a contratação para o trabalho de qualquer criança que não concluísse esse estudo obrigatório. Na Inglaterra, surgiu no final do século XVIII, o ensino mútuo, iniciativa educacional inovadora promovida por particulares no qual adolescentes instruídos diretamente pelo mestre atuavam como auxiliares ou monitores ensinando outros adolescentes. No século XIX, surgiram inovações no campo da pedagogia com as pedagogias de Pestalozzi, bem como, as pedagogias positivista e socialista. A pedagogia de Pestalozzi retoma a pedagogia de Rousseau que considerava que o homem é bom e precisa ser assistido em seu desenvolvimento, considera que deve ser desenvolvida a educação moral, intelectual e profissional estreitamente ligadas entre si e considerava, também, que é necessário a instrução levar em conta as diversas experiências que cada aluno deve realizar no próprio meio. A pedagogia positivista de Émile Durkheim considerava que a educação é um aprendizado social e um meio para conformar os indivíduos às normas e valores coletivos por parte das sociedades. A pedagogia socialista proposta por Karl Marx e Friedrich Engels considerava que a educação significa formação intelectual, educação física e instrução tecnológica e que é através da educação que se transforma a sociedade. Marx e Engels defendiam a tese de que a escola deveria ser inteiramente laica e livre da influência da Igreja e do Estado.
Foi em 1833, que uma lei revolucionou a educação primária na França e no mundo: a lei que instituía a obrigação de uma escola primária de crianças para comunas com mais de 500 habitantes, além de uma escola de formação de professores do ensino básico em cada departamento francês. Essas leis serviram como ponto de partida para novas leis sobre a educação que surgiriam no mundo todo. A inovação representada pela Educação a Distância (EAD), hoje bastante utilizada, mediada por tecnologias em que alunos e professores estão separados espacial e/ou temporalmente, ou seja, não estão fisicamente presentes em um ambiente presencial de ensino-aprendizagem, é conhecida desde o século XIX. No século XX, o debate educacional envolveu duas grandes correntes teóricas: a Escola Nova e a concepção marxista, a primeira identificada com o capitalismo e a segunda com o socialismo. Nenhuma dessas duas correntes foi integralmente aplicada. A Escola Nova foi a corrente pedagógica de maior influência na educação do século XX. Seu teórico foi John Dewey que teve no Brasil Anísio Teixeira como seu seguidor. A pedagogia de Dewey valoriza a criança, coloca-a no centro da atividade didática opondo-se às características autoritárias da escola tradicional. A pedagogia marxista adotava estratégias educativas considerando a centralidade do trabalho na formação do homem voltada para o futuro e o papel prioritário que ele deve assumir enfatizando o valor da educação integralmente humana de todas as pessoas libertadas das condições de submissão e alienação. O ideólogo marxista, Antonio Gramsci, formulou um modelo pedagógico mais rico. Em sua teorização valorizou a atividade humana que interpreta e transforma a realidade.
No século XX, houve várias inovações pedagógicas originais nos países em desenvolvimento que tiveram ressonância na Europa e nos Estados Unidos como a campanha de educação de adultos aplicando modelos de conscientização inovadoras como fez Paulo Freire no Brasil. Segundo Paulo Freire, no âmbito das poucas escolas existentes, prevalecia uma concepção de ensino-aprendizagem baseada em conteúdos pedagógicos que estavam totalmente desassociados da realidade socioeconômica concreta vivida pela sociedade brasileira de então. Paulo Freire desenvolveu sua “pedagogia do oprimido”. Na era contemporânea, a educação deixou de ser apenas presencial para se tornar, também, não presencial ou parcialmente presencial com a educação a distância (EAD) que é, modernamente, uma modalidade de educação mediada por tecnologias em que alunos e professores estão separados espacial e/ou temporalmente, ou seja, não estão fisicamente presentes em um ambiente presencial de ensino-aprendizagem. Hoje a educação pode ser processada de forma presencial, semipresencial e educação a distância. Hoje, as possibilidades da EAD são amplas. Pode-se fazer um curso a distância praticamente nos mesmos moldes dos presenciais, com os estudantes assistindo, pela internet às aulas de professores, com exibição de conteúdos audiovisuais. As avaliações podem ser feitas em tempo real, também pela rede, com tempo certo para a sua realização. A metodologia de ensino, a forma de avaliar a aprendizagem dos alunos e a atuação do corpo docente na educação a distância passaram por uma revolução. O progresso tecnológico facilitou a difusão do conhecimento obscurecendo a centralidade da escola tornando uma exigência redefinir seu papel na era contemporânea. A escola deixou de ser o único locus que transmite o saber. Na era contemporânea, cabe, entretanto, à escola a formação humana plena.
Uma revolução nos sistemas de educação já está acontecendo na era contemporânea no que diz respeito à adoção de novas metodologias de ensino como as descritas a seguir:
1. Salas de aula- Ao invés de serem destinadas à teoria, as salas terão como objetivo a prática. O aluno aprende a teoria em casa e prática nas salas de aula com auxílio de um professor/mentor.
2. Aprendizado personalizado- Estudantes irão aprender com ferramentas que se adaptam a suas próprias capacidades, podendo aprender em tempo e locais diferentes. Isso significa que alunos acima da média serão desafiados com exercícios mais difíceis e os com mais dificuldade terão a oportunidade de praticar mais até que atinjam o nível desejado. Esse processo fará com que os professores sejam mais capazes de ver claramente qual tipo de ajuda cada estudante precisa.
3. Livre escolha- Estudantes terão a liberdade de modificar seu processo de aprendizagem, escolhendo as matérias que desejam aprender com base em suas próprias preferências e poderão utilizar diferentes dispositivos, programas e técnicas que julgarem necessários para o próprio aprendizado.
4. Aplicabilidade prática- O conhecimento não ficará apenas na teoria, ele será posto em prática através de projetos para que os alunos adquiram o domínio da técnica e também pratiquem organização, trabalho em equipe e liderança.
5. QE > QI (quociente emocional > quociente de inteligência)- Uma vez que a tecnologia traz mais eficiência e vem cada vez mais substituindo o trabalho humano em diversas áreas, a formação deverá contemplar a presença de habilidades essencialmente humanas e valorizar ainda mais as interações sociais. As escolas deverão prover mais oportunidades para os alunos adquirirem habilidades do mundo real, que farão a diferença em seus trabalhos. Isso significa mais espaço para programas de trabalho, mais projetos colaborativos, mais prática.
6. O sistema de avaliações irá mudar- Muitos argumentam que a forma como o sistema de perguntas e respostas das provas não é eficaz, pois muitos alunos apenas decoram os conteúdos e os esquecem no dia seguinte após a avaliação. Ainda, esse sistema não avalia adequadamente o que realmente o aluno é capaz de fazer com aquele conteúdo na prática. Por isso, a tendência é que as avaliações passem a ocorrer na realização de projetos reais, com os alunos colocando a mão na massa.
O Professor José Moran, um dos fundadores do Projeto Escola do Futuro da USP (Universidade de São Paulo), pesquisador e designer de projetos inovadores na educação com ênfase em valores, metodologias ativas, modelos flexíveis e tecnologias digitais, considera que a educação do futuro deveria apresentar as características seguintes:
1. Não deve ser adotado um único modelo, proposta, caminho para a educação. Trabalhar com desafios, com projetos reais, com jogos parece o caminho mais importante hoje que pode ser realizado de várias formas e em contextos diferentes. Pode-se ensinar por problemas e projetos num modelo disciplinar e em modelos sem disciplinas isoladas; com modelos mais abertos – de construção mais participativa e processual – e com modelos mais roteirizados, preparados anteriormente, planejados nos seus mínimos detalhes.
2. Alguns componentes são fundamentais para o sucesso da aprendizagem: a criação de desafios, atividades, jogos que realmente trazem as competências necessárias para cada etapa, que solicitam informações pertinentes, que oferecem recompensas estimulantes, que combinam percursos pessoais com participação significativa em grupos, que se inserem em plataformas adaptativas, que reconhecem cada aluno e ao mesmo tempo aprendem com a interação, tudo isso utilizando as tecnologias adequadas. O articulador das etapas individuais e grupais é o docente, com sua capacidade de acompanhar, mediar, de analisar os processos, resultados, lacunas e necessidades, a partir dos percursos realizados pelos alunos individual e grupalmente. Esse novo papel do professor é mais complexo do que o anterior de transmitir informações. Precisa de uma preparação em competências mais amplas, além do conhecimento do conteúdo, como saber adaptar-se ao grupo e a cada aluno; planejar, acompanhar e avaliar atividades significativas e diferentes.
3. Ensinar e aprender podem ser feitos de forma muito mais flexível, ativa e baseada no ritmo de cada aluno. O modelo mais interessante e promissor de utilização de tecnologias é o de concentrar no ambiente virtual o que é informação básica e na sala de aula as atividades mais criativas e supervisionadas. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas reais, jogos é muito importante para que os alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam também no seu próprio ritmo. É decisivo, também, para valorizar mais o papel do professor como gestor de processos ricos de aprendizagens significativas e não o de um simples repassador de informações. Se mudarmos a mentalidade dos docentes para serem mediadores, poderão utilizar os recursos próximos, tecnologias simples, como os que estão no celular, uma câmera para ilustrar, um programa gratuito para juntar as imagens e contar com elas histórias interessantes e os alunos serem autores, protagonistas do seu processo de aprender.
4. Os desafios de mudanças na educação são estruturais. É preciso aumentar o número de escolas de qualidade, de escolas com bons gestores, docentes e infraestrutura, que consigam motivar os alunos e que realmente promovam uma aprendizagem significativa, complexa e abrangente. Precisa haver plano de carreira, formação e valorização de gestores educacionais e professores. É preciso políticas consistentes de formação, para atrair os melhores professores, remunerá-los bem e qualificá-los melhor, de políticas inovadoras de gestão que levem os modelos de sucesso de gestão para a educação básica e superior.
5. Os educadores precisam aprender a realizar-se como pessoas e como profissionais, em contextos precários e difíceis, aprender a evoluir sempre em todos os campos, a ser mais afetivos e ao mesmo tempo saber gerenciar grupos. Devem se transformar em educadores inspiradores e motivadores.
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