Este é o resumo do artigo de 12 páginas que tem por objetivo demonstrar que a queda da lucratividade mundial do capital a partir de 1998 contribuiu para a crise da globalização neoliberal cujas nefastas consequências econômicas e sociais contribuíram para o avanço do nacionalismo e da extrema direita neofascista no mundo. Este artigo analisa a crise da globalização neoliberal com a queda da lucratividade mundial do capital a partir de 1998, as nefastas consequências econômicas e sociais da globalização neoliberal em todos os quadrantes da Terra, o avanço do nacionalismo como resultado das nefastas consequências da globalização neoliberal e o avanço da extrema direita neofascista no mundo como resultado das nefastas consequências da globalização neoliberal.
Ao analisar a crise da globalização neoliberal com a queda da lucratividade mundial do capital a partir de 1998, concluiu-se que, após a Idade de Ouro de 1950 a 1966 de crescimento e grande lucratividade do capital (de 9,5% ao ano para 10,3% ao ano), houve uma queda na lucratividade mundial do capital de 1966 a 1983 (de 10,3% ao ano para 6,6% ao ano), que voltou a crescer no período neoliberal com a globalização ou integração da economia mundial de 1983 a 1998 (de 6,6% ao ano para 7,8% ao ano). Entretanto, a partir de 1998, há uma tendência de queda da lucratividade do capital (7,8% ao ano para 6,8% ao ano) dando início à longa depressão da economia mundial. A globalização neoliberal inaugurada em 1983 propõe a desregulamentação, privatizações e a retirada do Estado de muitas áreas de atendimento social. Quase todos os países do mundo aderiram voluntariamente ou sob pressões coercitivas ao neoliberalismo a partir da década de 1990.
O período neoliberal significou, a partir de 1983, a quebra de barreiras tarifárias, cotas e outras restrições comerciais, permitindo assim que as empresas multinacionais, as maiores beneficiárias da globalização neoliberal, operassem livremente e transferissem os seus investimentos para áreas de mão de obra barata com a finalidade de aumentar sua lucratividade. O pressuposto foi o de que isso levaria à expansão global e ao desenvolvimento harmonioso das forças produtivas e ao crescimento dos recursos do mundo que, de fato, aconteceu de 1983 a 1998, mas arrefeceu após esta data. Os sinais do colapso da globalização econômica e financeira contemporânea já estavam se apresentando a partir de 2010 quando ocorreu a menor taxa de lucratividade do capital até então registrada (6,4% ao ano em 2010).
A globalização neoliberal, com a sua crescente interconexão econômica, social e cultural, beneficia principalmente as empresas transnacionais que expandiram suas operações para novos mercados, reduzindo custos de produção e aumentando lucros. A globalização neoliberal exacerbou as desigualdades entre países capitalistas centrais e periféricos e levou os países capitalistas periféricos a serem mais dependentes dos países industrializados e a enfrentarem dificuldades em competir. A globalização levou à perda de empregos em setores industriais, à precarização do trabalho e à erosão das culturas tradicionais, tanto nos países capitalistas centrais como nos países capitalistas periféricos. A globalização faz, também, com que haja diminuição da soberania nacional devido à crescente presença das empresas multinacionais nas economias nacionais. Há também o perigo de perda da identidade nacional, já que as sociedades se assemelham cada vez mais, com os mesmos gostos culturais, modas, etc.
Com a globalização neoliberal, a desigualdade de riqueza chegou a níveis alarmantes em todo o mundo (1% dos mais ricos detinham metade de toda a riqueza mundial, enquanto os 50% mais pobres ficavam com meros 5%). O próprio FMI afirma que políticas neoliberais aumentaram as desigualdades sociais. O Brasil é um caso exemplar das nefastas consequências da globalização neoliberal. O modelo econômico neoliberal adotado no Brasil contribuiu para provocar uma verdadeira devastação na economia brasileira desde sua implantação em 1990 configurada: 1) no crescimento econômico decenal pífio cujo menor valor foi 0,8% ao ano e o maior 3,7% ao ano de 1981 a 2020; 2) na queda nas taxas de investimento na economia brasileira que alcançou 16,4% do PIB em 2021 bastante inferior a 27% alcançado em 1987; 3) na desindustrialização da economia brasileira cuja participação da indústria na formação do PIB foi de 11% em 2019 bastante inferior aos 27,3% alcançados em 1986; 4) no agravamento dos problemas sociais do Brasil com o aumento da concentração de renda (o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país), do desemprego (a taxa de desemprego de 6,9% correspondente a 7,5 milhões de desempregados no 2º trimestre de 2024), e da extrema pobreza (9,6 milhões de pessoas sobrevivem com R$ 145 ou US$ 33,02 mensais); e, 5) incapacitação do Estado brasileiro na solução dos problemas econômicos e sociais.
O modelo econômico neoliberal implantado em 1990 no Brasil é o grande responsável por incapacitar o Estado brasileiro na solução dos problemas econômicos e sociais do Brasil ao dificultar sua ação como indutor do desenvolvimento econômico e social com a adoção da política de privatizações, da política do teto de gasto público a partir do governo Michel Temer e da autonomia do Banco Central a partir do governo Jair Bolsonaro como parte da estratégia do capitalismo neoliberal globalizado de transformá-lo em Estado mínimo. Ressalte-se que Estado mínimo é o nome dado à ideia do capitalismo neoliberal de que o papel do estado dentro da sociedade deve ser o menor possível exercendo apenas as atividades consideradas “essenciais” e de primeira ordem. Os teóricos do capitalismo neoliberal defendem, também, a mínima cobrança de impostos e a privatização dos serviços públicos.
Portanto, o processo de globalização contemporânea centrada no neoliberalismo produziu duas graves consequências para toda a humanidade: a primeira, representada pelo fracasso na promoção do desenvolvimento econômico e social nos países capitalistas centrais e periféricos e, a segunda, representada pela crise geral do sistema capitalista mundial que pode levar o mundo à depressão. Toda esta situação tende a gerar instabilidades políticas, econômicas e sociais em todos os quadrantes da Terra. Essas instabilidades podem fazer com que em cada país forças políticas insatisfeitas com a situação atual se mobilizem em torno de: 1) teses nacionalistas antiglobalização quando existe ameaça real à soberania e à integridade nacional, a seu crescimento econômico, a suas instituições políticas, à sua cultura e a sobrevivência de seu povo; e, 2) teses neofascistas de oposição aos governos que inclui ultranacionalismo, supremacia racial, populismo, autoritarismo, nativismo, xenofobia e sentimento anti-imigração, bem como oposição à democracia liberal, ao parlamentarismo, liberalismo, marxismo, capitalismo, comunismo e socialismo. As teses nacionalistas e neofascistas estão sendo colocadas na ordem-do-dia em vários países do mundo na atualidade, inclusive no Brasil.
Um resultado das nefastas consequências da globalização neoliberal é o avanço do nacionalismo no mundo (Estados Unidos, Rússia, China, Hungria, Polônia, Turquia e Índia, entre outros países). Na tentativa de cada país defender e estimular sua própria economia com o caminho nacionalista, são adotadas medidas protecionistas ou autárquicas, como as adotadas pelo presidente Donald Trump dos Estados Unidos, que podem levar a uma reação extremamente negativa em cadeia em todo o sistema capitalista mundial. Isso reduziria o comércio internacional, aumentaria o desemprego e auto-alimentaria a crise em escala global. A tentativa de promover o desenvolvimento nacional apoiado nos seus próprios recursos e no mercado interno em cada país com o caminho nacionalista levaria ao pior cenário global: a depressão da economia mundial. A falta de resposta para a crise econômica gerada pela globalização neoliberal está colocando em xeque a legitimidade da União Europeia que está ameaçada de fragmentação com o surgimento de teses nacionalistas em vários países europeus defensoras do rompimento de seus países com a União Europeia, como já ocorreu com o Reino Unido, através do Brexit.
Outro resultado das nefastas consequências da globalização neoliberal é o avanço da extrema-direita neofascista em vários países do mundo. O neofascismo está no poder no Japão, na Índia, na Hungria, na Turquia e nos Estados Unidos. A isto devemos acrescentar os vários partidos neofascistas com base de massas, candidatos ao poder, sobretudo na Europa como o Rassemblement National da família Le Pen na França, a Lega de Salvini na Itália, o AfD na Alemanha, o FPÖ na Áustria, etc. No Brasil, os neofascistas liderados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde criminalmente pela tentativa de golpe de estado durante seu governo, podem voltar ao poder nas eleições de 2026. Em várias partes do mundo, o crescimento da extrema-direita segue firme e forte, contando com o apoio de uma ampla rede transnacional e colocando enormes desafios para os mecanismos de governança local. Na Europa e nos Estados Unidos, o neofascismo combate a imigração, leva ao crescimento da xenofobia e fortalecimento dos discursos identitários, elementos centrais na pauta da extrema-direita. A ascensão da extrema-direita no mundo tem como um denominador comum o rechaço ao “globalismo” e a defesa do conservadorismo.
O neofascismo avança celeremente nos Estados Unidos com a ascensão ao poder de Donald Trump. O fascismo atual nos Estados Unidos tem dupla conotação, sendo nacionalista ao desenvolver ações que visam manter a hegemonia mundial norte-americana e empreender ações em defesa do capitalismo. O mundo de hoje se assemelha ao período entre as duas guerras mundiais quando o fascismo surgiu em toda a Europa. A causa subjacente é a mesma: uma crise profunda do capitalismo. Além disso, a crise decorre da mesma condição: uma queda da taxa de lucro no processo de acumulação de capital, especialmente sob a forma de capital fictício ou financeiro, e uma composição orgânica de capital em que a produção depende cada vez mais de máquinas ou robôs que substituem o trabalho humano. O resultado é que o valor da produção diminui, e com esse declínio os lucros diminuem.
Para assistir o vídeo, acessar o website https://www.youtube.com/watch?
Para ler o artigo de 12 páginas em Português, Inglês e Francês, acessar os websites do Academia.edu <https://www.academia.edu/
* Fernando Alcoforado, 85, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, do IPB- Instituto Politécnico da Bahia e da Academia Baiana de Educação, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.
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