Este artigo tem por objetivo apresentar as estratégias que possibilitem o governo Lula recuperar sua popularidade e impedir a ascensão da extrema-direita ao poder no Brasil nas eleições presidenciais de 2026. As últimas pesquisas da Quaest e DataFolha apresentam resultados desfavoráveis ao governo Lula. Em janeiro, a Genial/Quaest apontou que 37% dos brasileiros avaliavam negativamente o governo enquanto 31% avaliavam positivamente. Em fevereiro, o Datafolha registrou uma avaliação positiva de apenas 24%, com 41% de avaliação negativa. Segundo o Datafolha, a aprovação de Lula caiu acentuadamente entre aqueles que ganham menos de dois salários mínimos. Entre esse grupo, tradicional bastião de apoio a Lula, sua avaliação de “ótimo/bom” passou de 49% para 29%. A queda foi mais acentuada entre as mulheres (38% para 24%) do que entre os homens e mais significativa no Nordeste (49% para 33%). Esses são justamente os segmentos sociais mais sensíveis à maior inflação de alimentos. A pesquisa Datafolha sugere que a inflação de alimentos é o “calcanhar de Aquiles" do governo Lula. Estes resultados desfavoráveis estão relacionados com a incapacidade do Banco Central de reduzir as taxas de inflação em geral e em especial dos alimentos, reduzir os níveis elevados do dólar em relação ao real e reduzir as taxas de juros exorbitantes. O governo Lula está sendo responsabilizado indevidamente pela incapacidade do Banco Central em combater a inflação. Como o Banco Central demonstra incapacidade em combater a inflação, o governo Lula deveria assumir este papel para reverter a taxa de inflação visando recuperar sua popularidade e impedir o avanço da extrema-direita rumo ao poder nas eleições presidenciais de 2026.
A primeira das ameaças que precisam ser enfrentadas pelo governo Lula diz respeito às taxas de inflação, em especial a de alimentos, responsável pela avaliação negativa do governo junto às populações de baixa renda e à classe média. Na era contemporânea, tem sido uma prática dominante em países capitalistas como o Brasil combater a inflação com a elevação das taxas de juros cuja ineficácia é comprovada com a persistência da inflação e não sua redução. Além de não contribuir para reduzir a inflação, as altas taxas de juros representam transferência de renda de toda a sociedade para uma parcela relativamente pequena da população, os portadores de títulos da dívida pública, os chamados rentistas. Está comprovado que o controle da inflação pelo Banco Central tem sido extremamente ineficaz porque, além de não controlar efetivamente a inflação, tem sido danoso para a economia nacional ao levar o País à recessão, à queda dos investimentos, ao aumento do desemprego e à elevação da dívida pública. Diante da incapacidade do Banco Central em controlar a inflação, o governo Lula precisa atuar no sentido de combater dois tipos de inflação: 1) a inflação de demanda de bens e serviços devido à insuficiência de sua oferta interna, em especial a de alimentos; e 2) a inflação de custos devido à baixa produtividade dos setores produtivos e de infraestrutura da economia brasileira.
Como o governo Lula deveria combater a inflação de demanda? Para combater a inflação de demanda de bens e serviços, o governo Lula deveria: 1) adotar a política de aumentar a oferta interna de produtos agrícolas e industriais, de matérias- primas e insumos agrícolas e industriais só permitindo sua exportação depois de atender a demanda do mercado interno para aumentar sua oferta no Brasil com a formação de estoques governamentais reguladores para fazer com que haja baixa de preços em geral; 2) promover a importação de produtos agrícolas e industriais, de matérias- primas e insumos agrícolas e industriais para aumentar sua oferta no Brasil com a formação de estoques governamentais reguladores para fazer com que haja baixa de preços em geral; e, 3) planejar a expansão futura da oferta de bens e serviços na economia brasileira em conjunto com o setor produtivo para que a produção nacional atenda a futura demanda interna de bens e serviços. Como o governo Lula deveria combater a inflação de custos? O combate à inflação de custos da economia brasileira demandaria mais tempo porque o governo brasileiro precisaria: 1) incentivar o aumento da produtividade na produção agrícola, industrial, do comércio e dos serviços e na infraestrutura de energia e transporte com o uso de novas tecnologias para promover a redução de seus custos; e, 2) abandonar a política neoliberal de câmbio flutuante, que é a principal causa da alta do dólar na economia brasileira que impacta sobre a inflação de vários produtos, como ocorre atualmente, para colaborar no combate à inflação de custos na economia brasileira com a adoção da política de câmbio fixo para evitar seu aumento descontrolado.
Sobre o câmbio flutuante, é importante observar que este regime cambial foi adotado no Brasil desde 1999, durante o segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando foi introduzido o modelo econômico neoliberal. O sistema de câmbio flutuante é aquele em que o mercado estabelece os valores das taxas de câmbio através da lei da oferta e da procura. Neste sistema pode ocorrer grande variação das taxas de câmbio em intervalos curtos de tempo. O Banco Central do Brasil permite a variação das taxas de câmbio dentro de uma determinada faixa (valor máximo e valor mínimo). Esse intervalo é chamado de banda cambial. Quando as taxas de câmbio saem deste intervalo, então ocorre a intervenção do Banco Central, que atua comprando ou vendendo moeda estrangeira. Com a política de câmbio flutuante com banda cambial, o Banco Central tenta fazer as duas coisas ao mesmo tempo, isto é, determinar uma política monetária e uma política cambial, sendo que ambas são mutuamente excludentes, impossíveis de serem efetuadas simultaneamente gerando, em consequência descompassos. Assim é que, ao vender moeda forte no mercado cambial, o governo recebe em Reais aumentando a massa monetária à disposição da economia. Se compra moeda forte, o governo terá que retirar Reais de circulação. Em ambos os casos, inevitavelmente, a política cambial acaba entrando em choque com a política monetária e os ataques especulativos são a consequência inevitável como vem acontecendo atualmente.
Para evitar que o dólar contribua para o aumento da inflação de custos no Brasil, o governo Lula precisa abandonar a política de câmbio flutuante e adotar a política de câmbio fixo, que é aquele em que o valor da moeda estrangeira é fixado pelo governo. Com o câmbio fixo, a moeda nacional passa a ter um valor fixo em relação a essa moeda-lastro que pode ser o dólar, outra moeda forte ou o ouro. É importante observar que a adoção do câmbio fixo resulta da vontade política do governo expressa em decisões e ações governamentais ao contrário do câmbio flutuante com ou sem banda cambial que resulta da vontade do mercado financeiro. Uma taxa de câmbio flutuante baseada nas leis de mercado, mesmo com banda cambial, depende quase que exclusivamente, de variáveis que não estão sob o controle governamental, como o crescimento da economia dos Estados Unidos e da economia mundial que podem atentar contra o desenvolvimento nacional. Ao contrário do Brasil, que adota uma taxa de câmbio flutuante com banda cambial, a China, por exemplo, optou por uma taxa de câmbio fixa em relação ao Dólar. A política cambial chinesa vem contribuindo para tornarem competitivas as exportações chinesas no comércio internacional e acumular reservas cambiais que atingiram 3,5 trilhões de dólares em 2024 as quais vêm se constituindo em instrumento fundamental para a aquisição de empresas e realização de investimentos no mercado mundial.
A segunda das ameaças que precisam ser enfrentadas pelo governo Lula diz respeito à constatação de que grupos neofascistas contando com o apoio de setores da sociedade brasileira possam voltar a ameaçar a democracia brasileira ascendendo ao poder nas eleições presidenciais de 2026. Esta situação obriga a todos os democratas do Brasil a somarem esforços para impedir a ascensão da extrema-direita ao poder no Brasil em 2026. Para evitar o fim do sistema democrático no Brasil com a ascensão ao poder do neofascismo em todos os níveis de governo, é preciso que seja constituída uma frente ampla democrática e antifascista no governo, no Parlamento e na Sociedade Civil para defender a Constituição de 1988 e lutar contra os atos das forças políticas de oposição ao sistema democrático que sejam contrários aos interesses da grande maioria da população e da democracia no Brasil. A frente ampla democrática e antifascista no governo se materializaria com a presença nos ministérios de forças políticas do centro democrático, no parlamento com a ação articulada das forças políticas de sustentação do governo com as forças políticas do centro democrático e na sociedade civil com a ação articulada de organizações sociais na sustentação das forças democráticas e antifascistas.
Esta frente ampla democrática e antifascista deve ser utilizada, portanto, para barrar o avanço do neofascismo no Brasil promovendo aliança do governo Lula com forças políticas do centro democrático e mobilizando a sociedade civil organizada para eleger em 2026 um presidente da República progressista, eleger a maioria dos governadores de estado e obter maioria parlamentar no Congresso Nacional que estejam comprometidos com os avanços políticos, econômicos e sociais no Brasil. Estas são as condições para evitar que, em 2026, os extremistas de direita neofascistas reconquistem a Presidência da República, ampliem sua participação nos governos estaduais e no Congresso Nacional e coloquem em prática seu nefasto projeto neofascista, antissocial e antinacional, em detrimento da população brasileira. A frente ampla democrática e antifascista no campo político seria complementar à estratégia do governo Lula, no campo econômico, em combater a inflação de demanda, com a adoção de uma política que contribua para o aumento da oferta de bens e serviços, isto é, com importações e aumento da produção interna, e ao combater a inflação de custos no Brasil com o aumento da produtividade dos setores produtivos e de infraestrutura da economia brasileira e a adoção do câmbio fixo. Estas são as condições para o governo Lula recuperar sua popularidade e impedir a ascensão da extrema-direita ao poder no Brasil.
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