Este é o resumo do artigo de 11 páginas que tem por objetivo apresentar a nova geopolítica dos Estados Unidos com o governo Donald Trump no momento em que ocorre a progressiva decadência econômica e perda da condição de potência hegemônica no mundo pelos Estados Unidos e o esforço do governo norte-americano de utilizar todos os meios, econômicos, financeiros, tecnológicos, cibernéticos, espaciais e militares, para combater seu maior inimigo, a China, que ameaça sua hegemonia mundial. O livro de Paul Kennedy, Ascensão e queda das grandes potências: Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000, tornou-se grande clássico da geopolítica, desde sua publicação, há três décadas. Paul Kennedy afirma neste livro que, “se uma grande potência excede estrategicamente, por exemplo, pela conquista de territórios extensos como é o caso da Inglaterra no século XIX, ou em guerras onerosas como é o caso dos Estados Unidos desde a 2ª Guerra Mundial, corre o risco de ver as vantagens potenciais da expansão externa superadas pelas grandes despesas exigidas”.
Pode-se afirmar que, para evitar seu declínio como potência hegemônica no mundo, o governo dos Estados Unidos tem utilizado seu complexo industrial-militar e sua economia de guerra para combater seus inimigos potenciais, como é o caso da China que ameaça sua hegemonia mundial e da Rússia, aliada da China. A cooperação maciça entre as Forças Armadas dos Estados Unidos e suas indústrias durante a 2ª Guerra Mundial, quando dois terços da economia americana foram integrados ao esforço de guerra no final de 1943, ajudaram a formar o complexo industrial-militar e a transformação da economia dos Estados Unidos em economia de guerra a serviço da expansão do imperialismo norte-americano no pós guerra. A construção e expansão do complexo industrial-militar norte-americano e a economia de guerra durante a 2ª Guerra Mundial se constituíram em poderosos instrumentos a serviço do poder global dos Estados Unidos.
Desde a 2ª Guerra Mundial, os gastos militares se multiplicaram nos Estados Unidos e, impulsionados pela Guerra Fria e depois pelo atentado de 11 de setembro em Nova Iorque, nunca deixaram de crescer. A guerra tem sido utilizada, também, pelo governo dos Estados Unidos desde a 2ª Guerra Mundial como um esforço permanente para evitar a deterioração das condições econômicas ou crises monetárias do país, com o governo norte-americano promovendo a expansão de serviços e empregos nas forças armadas e a expansão da indústria bélica que é a maior do mundo. Com quase 40% dos gastos militares em todo o mundo, os Estados Unidos ultrapassam o que os demais países juntos gastam nessa rubrica. O orçamento militar para 2022 foi de 778 bilhões de dólares, e para 2023 subiu para 813 bilhões de dólares.
A guerra permanente dos Estados Unidos sustentada pelo complexo industrial-militar canibalizou o país criando um pântano social, político e econômico. A economia de guerra permanente, implantada desde o fim da 2ª Guerra Mundial, contribuiu para destruir a economia privada dos Estados Unidos e desperdiçou trilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes. A monopolização do capital pelo complexo industrial-militar elevou a dívida dos Estados Unidos a US$ 30 trilhões, US$ 6 trilhões a mais que o PIB do país de US$ 24 trilhões. O serviço dessa dívida custa US$ 300 bilhões por ano. Os Estados Unidos pagam um alto custo social, político e econômico por seu belicismo. O governo norte-americano vem assistindo passivamente esta situação enquanto os Estados Unidos apodrecem, moralmente, politicamente e economicamente. O aventureirismo militar dos Estados Unidos vem acelerando seu declínio, como ilustram a derrota no Vietnã e o desperdício de US$ 8 trilhões nas guerras no Oriente Médio.
Nos Estados Unidos, os gastos militares extravagantes são justificados em nome da “segurança nacional”. Os US$ 200 bilhões alocados recentemente pelo governo Joe Biden para a Ucrânia, a maior parte foi para as mãos de fabricantes de armas como Raytheon Technologies, General Dynamics, Northrop Grumman, BAE Systems, Lockheed Martin e Boeing. Enquanto isto, o povo norte-americano enfrenta ameaças existenciais que não eram levadas em conta pelo governo Joe Biden. O orçamento proposto para os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) no ano fiscal de 2023 foi de US$ 10,6 bilhões. O orçamento proposto para a Agência de Proteção Ambiental (EPA) foi de US$ 11,8 bilhões. A Ucrânia sozinha recebeu dos Estados Unidos mais recursos do que o alocado para a prevenção de doenças e para o meio ambiente nos Estados Unidos. Os problemas sociais e a emergência climática são secundárias para o governo norte-americano. A guerra é tudo o que importa.
O declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica faz com que o governo Trump busque “fazer os Estados Unidos grande novamente”. Com a ascensão de Trump ao poder, a geopolítica dos Estados Unidos sofreu uma mudança radical representada: 1) pelo acordo em gestação entre os Estados Unidos e a Rússia para reproduzir o que aconteceu após a 2ª Guerra Mundial como o acordo de Ialta entre os Estados Unidos e a União Soviética que celebraram o que se denomina de paz de hegemonia entre as duas maiores potências militares do planeta. Trata-se de um acordo que se estabelece entre duas grandes potências militares que constatam que é melhor haver uma regra de convivência do que partir para um enfrentamento militar de resultado desfavorável como estava ocorrendo durante o governo Joe Biden que financiou a Ucrânia militarmente na guerra contra a Rússia mesmo sabendo que não haveria condições de vencê-la; 2) pelo fim do apoio do governo dos Estados Unidos à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia diante de seu provável resultado desfavorável do ponto de vista econômico e militar; 3) pelo possível afastamento dos Estados Unidos da aliança militar ocidental na Europa, a OTAN, para reduzir ou eliminar seus gastos com uma guerra contra a Rússia que não produziria resultados favoráveis aos Estados Unidos do ponto de vista militar e econômico; e, 4) pela prioridade dada pelo governo Trump ao confronto dos Estados Unidos contra a China, que é o inimigo principal, cujo enfrentamento requer a adoção de estratégias comercial, financeira, tecnológica, cibernética, espacial e militar.
Portanto, para barrar a ascensão da China como potência hegemônica do planeta, a estratégia militar norte-americana está centrada na região Ásia-Pacífico, e na defesa de Israel no Oriente Médio para salvaguardar seus interesses petrolíferos e fazer frente à ameaça do Irã. A China é o inimigo maior dos Estados Unidos e a Rússia se transformou em inimigo menor. A parceria entre a China e a Rússia existe no setor do armamento. Ao longo da década de 1990, as vendas de armas para a China foram essenciais para a sobrevivência do complexo militar-industrial russo. A Rússia continuou sendo o maior fornecedor de armas modernas da China nos anos 2000 e houve mais recentemente transferência de tecnologia militar russa para a produção de novas armas chinesas. Além disso, os chineses permanecem grandes clientes de hidrocarbonetos russos. Enfim, a parceria estratégica entre China e Rússia é tão fundamental para os dois países que as diferenças acerca da questão energética, ou outras divergências de interesses, naturais entre estas duas potências, por mais importantes que sejam, não foram capazes de ameaçar a colaboração entre os dois países no que diz respeito à tentativa de limitar o poder dos Estados Unidos.
Pelo exposto, pode-se afirmar que, historicamente, o fim de uma potência hegemônica se consumou com a vitória econômica e militar da nova detentora do poder mundial. Isto aconteceu com a Holanda quando superou econômica e militarmente a Espanha e se impôs como potência hegemônica do fim do Século XVI até a maior parte do Século XVIII. O mesmo aconteceu com a Inglaterra que se impôs como potência hegemônica da segunda metade do Século XVIII até o início do Século XX suplantando econômica e militarmente a Holanda e depois de derrotar militarmente a França napoleônica que ambicionava também a hegemonia mundial. Os Estados Unidos e a União Soviética alcançaram a condição de potências hegemônicas após a 2ª Guerra Mundial devido ao declínio econômico da Inglaterra e a vitória militar de ambos sobre a Alemanha nazista que aspirava a conquista da hegemonia mundial. De 1945 até 1989, o mundo foi estruturado com base em um sistema bipolar que durou quase meio século de Guerra Fria sob o risco da eclosão de uma guerra nuclear que só não aconteceu porque houve o fim da União Soviética em 1989 após o qual os Estados Unidos exerceram sua hegemonia no mundo sem contestação até o início do século XXI.
Pela primeira vez na história, uma grande potência (Estados Unidos) assumiu a hegemonia mundial sem a necessidade de derrotar militarmente seu oponente (União Soviética). A partir do início do século XXI, a hegemonia mundial dos Estados Unidos passou a ser ameaçada pela China, que surgiu como potência emergente. A China, a segunda nação mais populosa do mundo, com o maior exército e a maior marinha do mundo, se sente "encurralada" pelos Estados Unidos e seus aliados no Pacífico ocidental com a OTAN asiática (QUAD e AUKUS). Em resposta, o presidente chinês Xi Jinping anunciou recentemente que a China aceleraria a expansão de seus gastos com defesa e nomeou a segurança nacional como a principal preocupação dos próximos anos. Então, como chegamos a esse ponto? O mundo está se aproximando de um conflito catastrófico no Pacífico entre a China e os Estados Unidos e seus aliados? Embora as tensões tenham crescido muito agora e possam aparecer novos incidentes dentro desse conflito, ambos os lados — China e Estados Unidos — sabem que uma guerra no Pacífico seria catastrófica para todos. Apesar de saberem que uma guerra no Pacífico seria catastrófica, tudo indica que a indústria bélica norte-americana se empenhará no sentido de armar cada vez mais os Estados Unidos e seus aliados na Ásia-Pacífico com a OTAN asiática, o QUAD e a AUKUS.
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