a desigualdade entre homens e mulheres, apontando suas causas e as soluções necessárias. A desigualdade de gênero ocorre quando há privilégio de um gênero, o masculino, em detrimento de outro, o feminino. Historicamente, os direitos e vontades dos homens se sobrepuseram aos das mulheres. Esta diferença está enraizada em nossa sociedade sob a forma do machismo, muito em função de uma cultura patriarcal ultrapassada que considera as mulheres inferiores ou menos capazes do que os homens. A estrutura familiar e as relações sociais antigas colocavam o gênero masculino no lugar mais elevado da pirâmide social. Historicamente, as mulheres receberam um papel de submissão em relação aos homens. A superioridade financeira masculina sempre potencializou a dependência da mulher e limitou o seu poder de escolha. A desigualdade de gênero é usada como justificativa para a violência contra a mulher, reforça sua falta de representatividade nos espaços políticos e as diferenças salariais em relação aos homens principalmente pela inferioridade salarial mesmo sendo as mulheres maioria no mercado de trabalho com curso superior em diversos países.
O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 produzido pela equipe de Thomas Piketty, na Escola de Economia de Paris, nos fornece as primeiras estimativas da desigualdade de gênero nos rendimentos globais. A atual desigualdade de renda de gênero continua muito alta sendo inferior a 35% da renda global do trabalho. Em um mundo com plena igualdade de gênero, as mulheres deveriam ganhar 50% de toda a renda do trabalho. Em 30 anos, o progresso foi muito lento em nível global e a dinâmica foi diferente entre os países, com alguns registrando progresso como os países escandinavos (Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia), mas outros observando reduções na participação das mulheres nos rendimentos, como é o caso da China. Relatório do Banco Mundial mostra que cerca de 2,4 bilhões de mulheres têm menos oportunidades e direitos econômicos do que homens no mundo, 178 países (93,6%) mantém barreiras legais que impedem a participação plena das mulheres na economia, 95 países (50%) não garantem equidade salarial para trabalhos de igual valor, 86 países (45%) têm restrição para as mulheres acessarem o mercado de trabalho e apenas 12 países (6,3%) oferecem condições iguais para homens e mulheres em todas as áreas de atuação. No Brasil, um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, apesar da alta presença das mulheres no mercado de trabalho e do grau de instrução ser maior para elas, a desigualdade de gênero ainda afeta as mulheres nos ambientes corporativos do Brasil.
A desigualdade de gênero é muito alta em todo o mundo à exceção dos países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia). Os países nórdicos ou escandinavos, como Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia mantêm os primeiros lugares do ranking mundial da redução da desigualdade entre gêneros
A Islândia tornou-se o primeiro país do mundo a tornar a desigualdade salarial entre homens e mulheres ilegal, com uma lei que exige que empresas com 25 ou mais empregados provem que pagam homens e mulheres que realizam o mesmo trabalho de maneira igualitária. Na Islândia, a diferença salarial entre homens e mulheres foi de apenas 5,7% em 2017, e poderá diminuir ainda mais este ano com a nova lei. Os países escandinavos encabeçam, frequentemente, o ranking dos 144 países do Relatório Global sobre Intervalo de Gênero do Fórum Econômico Mundial. A Islândia, a Noruega, a Finlândia, a Suécia e a Dinamarca normalmente estão no Top 5 da lista, com algumas das mais altas taxas de participação de mulheres na força de trabalho do mundo. A economia também se beneficiou porque tendo mais mulheres empregadas impulsionou o PIB per capita em 10% a 20% nos últimos 40 a 50 anos, segundo um relatório da OCDE.
A política de igualdade de gênero utilizada nos países escandinavos resulta do fato de terem adotado um modelo de sociedade que possui alguns traços em comum: Estado de Bem-Estar-Social universalista que é voltado para melhorar a autonomia individual, promovendo a mobilidade social e assegurando a prestação universal de direitos humanos básicos e a estabilização da economia. Se distingue, também, por sua ênfase na participação da força de trabalho, promovendo igualdade de gênero, redução da desigualdade social, aumento dos níveis de benefícios à população e grande magnitude de redistribuição da riqueza. Foi a social democracia construída até hoje, sobretudo nos países escandinavos, o único modelo de sociedade que permitiu avanços econômicos, sociais e políticos simultâneos com o Estado atuando como mediador dos conflitos entre os interesses do capital e da Sociedade Civil. Não é por acaso que os países escandinavos, além de apresentarem grandes êxitos econômicos e sociais, são líderes em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no mundo.
A igualdade de gênero pode ser alcançada no mundo, portanto, com a adoção do Estado de Bem-Estar-Social universalista nos moldes dos países escandinavos com a adaptação necessária em cada país voltado para promover a igualdade de gênero, reduzir a desigualdade social, oferecer extensos níveis de benefícios à população e realizar a redistribuição da riqueza. Só assim as mulheres obterão igualdade de oportunidades e de renda em relação aos homens no mercado de trabalho e alcançarão sua verdadeira emancipação da tirania secular que contra as mulheres vem sendo exercida na sociedade em todo o mundo ao longo da história.
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* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.
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