O capitalismo é um sistema complexo, dinâmico, adaptativo e não linear porque possui elementos ou agentes em grande número que interagem entre si formando uma ou mais estruturas que se originam das interações entre tais agentes. Os sistemas complexos são sistemas que se caracterizam por serem dinâmicos que tem como características fundamentais sua sensível dependência das condições iniciais pelo qual, mínimas diferenças no início de um processo qualquer, podem levar a situações completamente opostas ao longo do tempo.
Nesses sistemas, inúmeros elementos estão em interação de forma imprevisível e aleatória. Este é o caso da economia de mercado capitalista porque não existe uma governança eficaz do sistema econômico. Os sistemas entram em um estado de caos quando flutuações que eram, até então, corrigidas por realimentações negativas auto estabilizadoras ficam fora de controle. A trajetória de desenvolvimento torna-se não linear: tendências predominantes colapsam e em seu lugar surgem vários desenvolvimentos complexos. Raramente o caos é uma condição prolongada; na maior parte dos casos, é apenas uma época transitória entre estados mais estáveis.
Quando está sujeito a “flutuações”, um sistema dinâmico é levado a um ponto de bifurcação a partir do qual o sistema alcança uma nova estabilidade dinâmica (avanço revolucionário) ou entra em colapso. No ponto de bifurcação, o sistema tem que ser reestruturado ou entrará em colapso. Esta é a situação vivida pela economia mundial que, após a crise que eclodiu em 2008 nos Estados Unidos e se espraiou pelo planeta, não houve uma reestruturação dos sistemas econômicos nacionais e mundial. O caminho do avanço revolucionário, que levaria à superação da crise econômica mundial eclodida em 2008 e não foi resolvida até hoje, requereria a reestruturação do sistema econômico mundial transformando-o em um sistema auto-organizável, e sensível ao feedback adaptando-se ao novo ambiente e aprendendo por meio de sua experiência.
Diante do fracasso do neoliberalismo e de sua incapacidade de lidar com a crise global do capitalismo, o Keynesianismo poderá ser a solução desde que que ele seja aplicado globalmente, isto é, ele operaria no planejamento econômico, não apenas ao nível nacional para obter estabilidade econômica e o pleno emprego dos fatores em cada país, mas também ao nível mundial para eliminar o caos econômico global que predomina atualmente com o neoliberalismo. O Keynesianismo deveria ser adotado, portanto, ao nível planetário visando assegurar a estabilidade econômica e o pleno emprego dos fatores globalmente. Com o Keynesianismo global, haveria a coordenação de políticas econômicas Keynesianas em nível planetário que só poderia ser realizada com a existência de um governo mundial. Esta seria a forma de obter a estabilidade da economia mundial para eliminar o caos que caracteriza a globalização neoliberal dominante atualmente em todo o mundo.
Cabe observar que o modelo econômico Keynesiano foi formulado originalmente na década de 1940 para ser aplicado em cada país. O grande economista John Maynard Keynes acreditava que o capitalismo poderia superar seus problemas estruturais como sistema econômico desde que fossem feitas reformas significativas como ele propôs haja vista que o capitalismo liberal, que dominou a economia mundial até 1945, havia se mostrado incompatível com a manutenção do pleno emprego e da estabilidade econômica. O Keynesianismo, adotado após a 2ª Guerra Mundial, contribuiu decisivamente para o desenvolvimento econômico da maioria dos países do mundo de 1945 até 1965 que é denominado “golden age” (era de ouro). O Keynesianismo deixou de ser eficaz na década de 1970 com a queda no crescimento econômico mundial após os denominados “anos gloriosos” (1945/1965), porque não havia um governo mundial que coordenasse as políticas econômicas nacionais para solucionar as duas crises do petróleo e a crise da dívida de grande parte dos países do mundo que ficaram insolventes junto aos bancos internacionais. Cabe observar que nos “anos gloriosos” (1945/1965), foram registrados índices ímpares de crescimento econômico e geração de emprego e renda na economia mundial e a combinação de crescimento econômico com mão-de-obra plenamente empregada, com salários razoáveis e protegida pelo Estado de bem-estar social especialmente nos países da Europa Ocidental.
Para gerir um sistema complexo como o capitalismo, é preciso criar mecanismos de “feedback” e controle com a existência de um governo mundial para assegurar a estabilidade do sistema econômico. Com o Keynesianismo global adotado no planejamento da economia mundial e a existência de um governo mundial seria possível eliminar o caos gerador de incertezas que caracteriza a economia mundial sujeita a instabilidades constantes. A eliminação do caos ou atenuação da instabilidade e da incerteza com suas turbulências e seus riscos na economia mundial só será alcançada com a existência de um governo mundial que atuaria para assegurar a coordenação entre as políticas econômicas Keynesianas adotadas em cada país e globalmente.
Para ser eficaz, o governo mundial deveria adotar o processo de planejamento Keynesiano da economia que contribua para eliminar a instabilidade e a incerteza com suas turbulências e seus riscos. A humanidade só caminhará rumo a uma efetiva integração econômica, inicialmente, e, política, posteriormente, entre os países, desde que exista um governo mundial e que funcione, também, um Estado de direito globalizado. O ordenamento da sociedade no plano mundial poderia ser alcançado com a constituição de um governo mundial que visaria não apenas o ordenamento econômico e das relações internacionais em nível mundial, mas, sobretudo, criar as condições para enfrentar os desafios da humanidade no Século XXI. Os países individualmente, mesmo os mais poderosos, e as instituições mundiais atuais como ONU, FMI, OMC, entre outras, não reúnem as condições para realizar essas ações.
Para viabilizar um governo mundial é preciso que, de início, seja constituído um Fórum Mundial pela Paz e pelo Progresso da Humanidade por organizações da Sociedade Civil e governos de todos os países do mundo. Neste Fórum seriam debatidos e estabelecidos os objetivos e estratégias de um movimento mundial pela constituição de um governo e um parlamento mundial visando sensibilizar a população mundial e os governos nacionais no sentido de tornar realidade um mundo de paz e de progresso para toda a humanidade. Este seria o caminho que tornaria possível transformar a utopia do governo mundial em realidade. Sem a constituição de um governo mundial democrático, o cenário que se descortina para o futuro será o de desordem econômica, política e social e da guerra de todos contra todos.
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* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.
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