Neste artigo, são apresentadas as evidências de que o fim do capitalismo deverá ocorrer no século XXI, bem como as características do socialismo democrático a ser construído em substituição ao capitalismo. O sistema capitalista mundial caminha inevitavelmente para seu fim em meados do século XXI quando a taxa de lucro global e a taxa de crescimento do Produto Mundial Bruto alcançarão o valor zero. O sistema capitalista mundial chegará ao seu fim em meados do século XXI porque há uma tendência de queda na taxa de lucro mundial de 1869 a 2007, na taxa de lucro das grandes corporações dos Estados Unidos de 1947 a 2007 e na taxa de crescimento do Produto Bruto Mundial de 1961 a 2007. Para determinar quando essas taxas chegarão a zero no futuro, mantendo a tendência de queda, efetuou-se os cálculos usando o método dos mínimos quadrados da Estatística.
Se for considerada a evolução da taxa de lucro do sistema capitalista mundial do período 1869- 1947 e, for mantida a tendência de queda desta taxa de lucro no período mais recente, 1947- 2007, a taxa de lucro do sistema capitalista mundial tenderia para o valor igual a zero em 2037. Se for mantida a tendência de queda desta taxa de lucro nos próximos anos, a taxa de lucro das corporações dos Estados Unidos alcançará o valor zero em 2043. Se for mantida a tendência de queda na taxa de crescimento do Produto Mundial Bruto nos próximos anos, esta taxa alcançará o valor zero em 2053. Este cenário levará ao fim do processo de acumulação do capital confirmando a tendência de que o capitalismo não perdurará para sempre como modo de produção, como muitos pensam, porque ele terá o mesmo fim de outros modos de produção que desapareceram, como é o caso do escravismo no século V e do feudalismo no século XIV. Além disso, o capitalismo evoluirá com as características de entropia ao apresentar a tendência universal de evoluir para uma crescente desordem e autodestruição até o seu fim em meados do século XXI.
Conclui-se, pelo exposto, que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado em meados do século XXI (2037, 2043 ou 2053) quando cessará o processo de acumulação do capital com as taxas de lucro global e de crescimento da economia mundial alcançando o valor zero. A tendência decrescente das taxas de lucro no sistema capitalista mundial mostra o caráter histórico, transitório do modo de produção capitalista e o conflito que se estabelece com as possibilidades de continuar seu desenvolvimento. Assim, as bases da teoria de Marx apresentadas em sua obra O Capital estão sendo confirmadas. Karl Marx previu que a taxa de lucro tenderá a cair no longo prazo, década após década. Não só haverá altos e baixos em cada ciclo de “boom” e crise, mas também haverá uma tendência à queda no longo prazo, tornando cada “boom” mais curto e cada queda mais profunda. Além dos sinais de decadência representados pela queda da taxa de lucro mundial, da taxa de lucro das grandes corporações dos Estados Unidos, da taxa de crescimento do Produto Bruto Mundial que alcançarão o valor zero em meados do século XXI, outro sinal importante de decadência do capitalismo é a gigantesca dívida global, que alcançou US$ 275 trilhões em 2020 em dívidas governamentais, corporativas e domésticas, quase três vezes o Produto Bruto Mundial, que se constitui em uma bomba prestes a explodir.
O Institute of International Finance (IIF) afirma que a dívida global era inferior a US$ 100 trilhões em 2003, atingiu US$ 177,7 trilhões em 2008, US$ 209,4 trilhões em 2013 e US$ 247,2 trilhões em 2018. A dívida mundial subiu quase US$ 150 trilhões em 15 anos. Cerca de US$ 10 trilhões a cada ano. Os níveis de endividamento das famílias, dos setores corporativos não financeiros e do governo atingiram US$ 186,5 trilhões no primeiro trimestre de 2018. A dívida do setor financeiro subiu para um recorde de US$ 60,6 trilhões. O crescimento econômico mundial está sendo sustentado no crédito e no endividamento. A dívida dos mercados emergentes subiu para um recorde de US$ 58,5 trilhões no primeiro trimestre de 2018 – mais de 84% desde o início da crise mundial em 2008. Nos últimos 5 anos, a dívida do governo subiu mais acentuadamente no Brasil, Arábia Saudita, Nigéria e Argentina, de acordo com o IIF. Depois da crise mundial de 2008, a expectativa geral era de que as dívidas fossem reduzidas. Não foi o que aconteceu. Vários países têm governos, empresas e famílias com dívidas que ultrapassam amplamente o PIB.
Estados Unidos, China e Japão são os maiores devedores do planeta sendo responsáveis por 45,93% da dívida total. Isto significa dizer que, se houver o calote no pagamento da dívida nesses três países, a economia mundial pode enfrentar situações semelhantes às ocorridas em 1929 com a grande depressão ou em 2008 com a grande recessão que ainda perdura. Um dos países endividados que merece uma análise especial pelo fato de se constituir na maior economia e no país mais endividado do planeta é os Estados Unidos. A dívida pública dos Estados Unidos vem batendo recordes, especialmente a partir de 2019 com a eclosão da pandemia dos novo coronavirus porque o país gasta e compra além da sua capacidade emitindo dólares e títulos do Tesouro. O risco de grandes catástrofes nos Estados Unidos com seu excessivo endividamento não desapareceu, mas se estendeu no tempo, ao preço de aumentá-las em proporção e explosão quando vier a estourar. Ressalte-se que o endividamento público dos Estados Unidos está fortemente relacionado com os gastos militares.
Pelo exposto, pode-se afirmar que o sistema capitalista evolui, portanto, com uma tendência universal de evoluir para uma crescente desordem e autodestruição. Esta situação é demonstrada pela tendência de queda da taxa de lucro global, da taxa de lucro das grandes corporações dos Estados Unidos e da taxa de crescimento do Produto Bruto Mundial que alcançarão o valor zero em meados do século XXI, bem como pelo endividamento excessivo dos países do mundo especialmente, Estados Unidos, China e Japão. A imprevisibilidade do capitalismo resulta do fato de ser um sistema que opera caoticamente, sem planejamento e controle, ao negar, com o liberalismo e o neoliberalismo, a regulação do sistema capitalista mundial. Tudo o que acaba de ser descrito deixa evidenciado que não há solução para os problemas que afligem a humanidade nos marcos do capitalismo com a realização de reformas políticas, econômicas, sociais e ambientais. Será o mesmo que “enxugar gelo”. Diante da perspectiva de fim do sistema capitalista mundial em meados do século XXI, a humanidade precisa construir uma nova sociedade que deveria ser o socialismo democrático tendo como objetivo criar um ambiente de liberdade, igualdade e fraternidade entre os seres humanos para a conquista de sua felicidade resgatando os ideais do Iluminismo.
Admitindo a possibilidade de derrocada do sistema capitalista mundial em consequência da crise atual, é importante considerar a possibilidade de que o socialismo democrático venha a substituí-lo ainda no século XXI. Este socialismo teria que ser de novo tipo haja vista o fracasso do socialismo implantado na União Soviética e em outros países. A tentativa fracassada de construção do socialismo nos moldes soviéticos em vários países do mundo demonstra sua inviabilidade política. O socialismo democrático do futuro deve considerar o Estado ser governado em cada país na base do consenso entre as classes sociais, todas elas movidas pelo interesse coletivo e não pelo interesse individual ou de uma classe dominante como tem sido predominante ao longo da história da humanidade. Para edificar o socialismo democrático em substituição ao capitalismo, é preciso que haja uma transição com a construção do Estado de Bem Estar Social com o modelo de sociedade nos moldes do construído nos países escandinavos que, sendo um híbrido entre o que existe de mais positivo nos sistemas capitalista e socialista, prepararia o terreno para a edificação do socialismo democrático no futuro.
O Estado de Bem-Estar Social consiste em um modo de organização econômica, política e social na qual o Estado atuaria como organizador da economia e agente de promoção social. O Estado procuraria conciliar o interesse dos “de cima” com os “de baixo” na pirâmide social. O modelo escandinavo de desenvolvimento político, econômico e social deveria servir de referencial como modelo de sociedade a ser perseguido por todos os povos do mundo como transição para o socialismo democrático do futuro porque os países escandinavos são considerados os mais bem governados do planeta, os que apresentam o maior progresso político, econômico e social e têm os povos mais felizes do mundo. O Estado do Bem Estar Social e o socialismo democrático do futuro a ser construído no mundo deve ser ajustado às condições específicas de cada país.
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* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.
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