Este artigo tem por objetivo apresentar as estratégias necessárias para o Brasil lidar com as consequências negativas resultantes do governo Donald Trump dos Estados Unidos. Como é do conhecimento de todos, a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos produzirá gigantescos impactos econômicos nos Estados Unidos, sobre a democracia americana, sobre os setores de energia e meio ambiente dos Estados Unidos e do mundo e, também, sobre a geopolítica mundial. Haverá impactos também na esfera mundial com a administração Trump que buscará fortalecer seus aliados de extrema-direita no mundo, comprometerá o comércio internacional com sua política restritiva às importações contribuindo para a recessão econômica mundial, agravará a mudança climática global com sua política energética de uso prioritário de combustíveis fósseis e incrementará a guerra comercial com a China e os conflitos internacionais em sua tentativa de impedir a ascensão da China como potência hegemônica do planeta em meados do século XXI. O governo do Brasil terá que lidar com a possibilidade de interferência do governo Trump sobre os assuntos internos do Brasil, inclusive com o fortalecimento da extrema-direita do País em especial nas eleições majoritárias de 2026 e interferência na esfera econômica com restrição às exportações do Brasil para comprometer o desempenho econômico do Brasil em detrimento do governo Lula. Diante desses fatos, este artigo apresenta o que o governo brasileiro deveria fazer para lidar com as ameaças representadas pelo futuro governo Trump.
É importante observar que, na esfera da democracia, Trump representa ameaça não apenas para a democracia americana e o estado de direito dos Estados Unidos, mas também para todo o mundo com a perspectiva de que ele use o poder dos Estados Unidos para intervir nos assuntos de determinados países visando ampliar os interesses dos Estados Unidos e expandir a extrema-direita no mundo. Não há dúvidas sobre os instintos autoritários de Trump. Trump será um perigo, não apenas para o estado de direito nos Estados Unidos, mas também com a possibilidade de ele usar todo o poderio do governo norte-americano no avanço da extrema-direita no mundo e particularmente no Brasil. Na esfera econômica, Trump propôs aumento muito maior nas tarifas de importações. Estas medidas gerarão estagflação nos Estados Unidos (inflação com estagnação) e recessão na economia mundial. Trump propôs realizar deportação em massa de imigrantes ilegais, de 12 milhões de moradores deste país, que provocará escassez de mão de obra e consequente aumento do custo da mão de obra nos Estados Unidos. A escassez de mão de obra em indústrias que dependem de mão de obra imigrante, como na agricultura, na construção civil e em matadouros, entre outros setores, também seria inflacionária. Tudo isto contribuiria para a ocorrência de uma recessão nos Estados Unidos e de recessão global com a queda no comércio internacional que impactará negativamente sobre as exportações brasileiras.
Na esfera da energia e do meio ambiente, as empresas de petróleo e gás natural serão as principais beneficiárias da política energética do governo Trump, as tecnologias de energia limpa deixarão de ser prioridades e tanto Trump quanto seu partido não estarão inclinados a assinar quaisquer iniciativas internacionais significativas no combate às mudanças climáticas globais como o do Acordo do Clima de Paris. Trump prometeu repetidamente acabar com um conjunto de políticas do governo Biden que incentivam o uso de energias renováveis nos Estados Unidos. Isso sinaliza uma mudança brusca nas políticas do presidente Joe Biden que restringem a extração de combustíveis fósseis em terras e águas públicas. O governo Biden também impôs uma regulamentação que impede a perfuração em mais da metade da Reserva Nacional de Petróleo no Alasca. Trump deverá instruir seu Departamento do Interior a revisar todas essas políticas imediatamente. A consequência disto tudo será o agravamento da mudança climática global. Na esfera da geopolítica, a velha ordem mundial no novo mundo será uma temporada aberta para valentões como Trump. A futura política externa de Trump apresenta riscos alarmantes com a retórica do “America First”. O governo Trump será capaz de intimidar econômica e militarmente todos os países que representarem obstáculo a seus interesses estratégicos sem medo das consequências devido à inoperância da ONU. É importante destacar que, além do poder econômico que possui, os Estados Unidos têm 865 bases militares em cerca de 130 países, contando na América Latina e no Caribe com pelo menos 76 bases militares que são alimentadas pela indústria bélica norte-americana que é responsável pela produção de 60% das armas do mundo. O combate às mudanças climáticas até o controle de armas ficarão cada vez mais difíceis durante o governo Trump.
Quais estratégias o Brasil deveria adotar neste contexto?
Na esfera da democracia, diante do avanço da extrema-direita no mundo com a vitória de Donald Trump e sua muito provável interferência visando o fortalecimento da extrema-direita no Brasil, a estratégia correta do Brasil seria a de fazer com que as forças progressistas do País se unam e perseverem na construção de uma sólida aliança com forças políticas do centro democrático visando a construção de uma frente democrática e antifascista no parlamento. As forças progressistas do País precisam, também, mobilizar a sociedade civil organizada para neutralizar as forças políticas retrógradas defensoras do neofascismo e do neoliberalismo, eleger em 2026 um presidente da República progressista, a maioria dos governadores de estado e a maioria parlamentar no Congresso Nacional de candidatos que estejam comprometidos com os avanços políticos, econômicos e sociais no Brasil. Estas são as condições para evitar que a extrema-direita reconquiste o poder no Brasil. Estas são as condições para o Estado brasileiro abandonar o neoliberalismo e promover o desenvolvimento do Brasil em benefício da grande maioria da população brasileira e não apenas dos detentores do capital nacional e internacional como ocorre atualmente.
Na esfera econômica, a estratégia correta do governo brasileiro deveria aprofundar as relações econômicas com a China, principal parceiro comercial do Brasil no mercado internacional e priorizar o desenvolvimento do mercado interno com a adoção de medidas voltadas para a reativação da economia brasileira, diante do cenário desfavorável representado pela recessão global e pela queda nas exportações brasileiras. A assinatura de 37 acordos comerciais no dia 20/11/2024 entre o Brasil e a China é altamente importante porque possibilitará reativar a economia brasileira alavancando o desenvolvimento do mercado interno do Brasil. Este acordo comercial contribuirá para a participação chinesa nos investimentos do governo Lula em obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na construção e reforma das rotas de integração regional na América do Sul, nos aportes em projetos de transição energética e na modernização do parque industrial brasileiro alicerçando a cooperação entre o Brasil e a China pelos próximos 50 anos em áreas como infraestrutura sustentável, transição energética, inteligência artificial, economia digital, saúde e aeroespacial, estabelecendo sinergias entre as estratégias brasileiras de desenvolvimento, como a NIB (Nova Indústria Brasil), o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, e o Plano de Transformação Ecológica, e a Iniciativa Cinturão e a nova Rota da Seda. Além dessas iniciativas, é preciso fortalecer o papel do Estado brasileiro para capacitá-lo a reativar a economia brasileira com o abandono do modelo econômico neoliberal implantado em 1990 e das políticas de privatizações, do teto de gastos e da independência do Banco Central. O modelo neoliberal terá que ser substituído de imediato pelo modelo nacional desenvolvimentista ajustado aos novos tempos com ativa participação do Estado no planejamento econômico como ocorreu no período 1930/1980 quando o Brasil alcançou seu maior desenvolvimento econômico e social ao longo da história.
Na esfera do meio ambiente e combate à mudança climática, o governo do Brasil deveria adotar estratégias que contribuam para a sustentabilidade dos setores industrial e agropecuário, da Amazônia, das cidades e dos setores de energia e transportes. Estabelecer para as indústrias metas de sustentabilidade ambiental relacionadas com o uso racional de recursos naturais renováveis, não poluição ou poluição mínima possível do meio ambiente, o descarte dos resíduos de forma adequada com o uso da logística reversa, a utilização da energia renovável sempre que possível, a reutilização da água ao máximo nos processos industriais e a implementação de uma cultura de desenvolvimento sustentável. Estabelecer para o setor agropecuário metas de sustentabilidade ambiental relacionadas com o abandono do modelo baseado na revolução verde e a adoção de um novo modelo a ser desenvolvido em bases ecológicas que tenha uma visão sistêmica e integrada da produção agropecuária em seu ambiente, mas também, com a efetiva redução da excessiva concentração da propriedade da terra em mãos de poucos, através de uma reforma agrária a mais democrática possível. Estabelecer para a Amazônia metas de sustentabilidade ambiental para que os recursos naturais nela existentes sejam utilizados racionalmente em benefício da população nela residente e do progresso econômico e social do Brasil. Estabelecer para as cidades brasileiras metas de sustentabilidade ambiental para assegurar o direito da população à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para a atual e futuras gerações e o direito da população a decidir sobre o destino de suas cidades, bem como preparar as cidades para enfrentar eventos climáticos extremos. Estabelecer para o setor de energia metas de sustentabilidade ambiental que substitua os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) por fontes de energia limpa e renovável para evitar a mudança climática catastrófica global, bem como adotar medidas de eficiência energética ou de economia de energia para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. Estabelecer para o setor de transportes sustentabilidade ambiental adotando como prioridade a realização de investimentos na expansão de ferrovias e de hidrovias porque os trens e os navios são os meios de transporte que menos emitem gases do efeito estufa, bem como abandonar a expansão do sistema de transporte rodoviário.
Na esfera da geopolítica mundial, o governo do Brasil não deveria se alinhar a nenhuma das grandes potências em confronto (Estados Unidos e China) e sim manter boas relações com todas elas para evitar que o Brasil seja palco de confrontos militares danosos a nosso país e à população brasileira e, sobretudo, defender o fim do inoperante conselho de segurança da ONU e a formação de uma nova governança mundial a ser constituída composta pela ONU que se constituiria como governo mundial, a Assembleia Geral da ONU como parlamento mundial e o TPI- Tribunal Penal Internacional de Haia como corte suprema mundial. O poder mundial deveria estar concentrado na Assembleia Geral da ONU como parlamento mundial cujas decisões deveriam ser respeitadas por todos os países do mundo. O governo mundial com a ONU reestruturada teriam seus membros eleitos democraticamente pelo parlamento mundial que teriam todos os países nele representados e eleitos pelos cidadãos de cada país e os membros da corte suprema teriam mandato por tempo determinado e seriam indicados pelo governo mundial e aprovados pelo parlamento mundial. Só assim, seria possível acabar com o caos na economia mundial, assegurar que a civilização se sobreponha à barbárie dominante atualmente no mundo e fazer com que as leis internacionais sejam respeitadas, o combate à mudança climática global seja eficaz, a democracia possa se afirmar em todos os países do mundo e um mundo de paz, progresso e felicidade possa ser construído em benefício de toda a humanidade. O governo do Brasil só deveria se alinhar com a China, do ponto de vista geopolítico, apenas na hipótese do avanço das hostilidades do governo Trump com sua interferência negativa nos assuntos internos do Brasil, seja na área política, seja na área econômica.
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