Com 12 anos estudava no Colégio de nome Brasil América em Botafogo no Rio de Janeiro, década de 50. Filho único era tão realmente amado por minha mãe e meu pai que ela dormia com meu retrato e de meu pai ao lado dela com um terço que rezava todo dia.
Meu pai tinha uma mecha do meu cabelo com pequena foto 3×4 na carteira dele. Assim fui criado até com certo exagero, pois aos 10 anos ainda me davam banho. Eles dois, meus pais, eram bonissimos com todos.
Minha educação foi primorosa na minha infância onde encheram meu tempo com aulas particulares, aulas de inglês (uma Professora inglesa que morava com a irmã, ambas viúvas, na rua Banco dos Ingleses no belo Campo Grande, francês com Simone Malbuisson (Aguiar) Mello, prima de meu pai, no Canela; violino com o Professor Anphilofio de Oliveira (nascido em São Felix), Aritmética, Português, História e Geografia com a Professora Hyldete.
O barbeiro Lourival ia cortar meu cabelo em casa, desde a primeira vez, e até a morte dele, torcedor do simpático Ipiranga, enquanto tomava aulas com a Professora Hyldete. As outras aulas eram de meu pai de bondade superior. Mamãe de família Católica, Apostólica Romana, indo comungar quase diariamente, meu pai marxista não engajado em partidos, era um cientista da sociologia da educação.
Como pode isso? Até economia meu pai ensinava assim: fazia rifa de São João, colocava fogos pequenos, um banquinho onde sentava com 6 anos para vender traques e estrelinhas para aprender passar o troco. Um grande educador. Colocava-me com os operários da construção ao lado (casa de Orlando Gomes no Canela) para fazer casinha com tijolos, massas. Os operários tomavam conta de mim.
A Bahia ficou pequena para um homem desse e foi para o Rio de Janeiro. Houve uma ruptura. Ficava Bahia e Rio anos assim. Perto do Brasil América ficava o INEP dirigido pelo notável Anísio Teixeira. Com 12 anos conheci a nata intelectual do Brasil lá no Rio de Janeiro. Com 14 anos jogava nos “Dentes de Leite” do Fluminense.
Também li a “Dialética da Natureza” de Engels. Não parei mais… até hoje idoso. Voltei a Bahia por minha mãezinha. Voltei ao Rio de Janeiro por meu paizinho. Colocou-me interno em um dos melhores Colégios do Brasil em Petrópolis: Colégio Werneck. Nordestino que sou era muito frio. Voltei a Bahia: Colégio Shophia Costa Pinto excelente com aulas de tudo.
Pois, bem! Foi nessa época que ouvi falar em Joãozinho da Goméia. Era muito badalado pela Revista “O Cruzeiro”. Darci Ribeiro começou a estudar a vida desse Babalorixá. Até cinema da época Joãozinho da Goméia era chamado. Carnavalesco tinha seu terreiro em Duque de Caxias na baixada fluminense. Controvertido, desaforado, inteligente e falava correto. Era homossexual assumido claramente.
Usava torço árabe. Joãozinho da Goméia movimentou o Rio de Janeiro ao ponto de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek receberem ele. Duque de Caxias ficou conhecida, a cidade, por causa dele e depois pela “lurdinha” — metralhadora do político Tenório (um terror com aquela capa preta).
Joãozinho da Goméia brilhava não só no seu terreiro famoso do candomblé no Rio, também na burguesia e foi para São Paulo. Por sinal, morreu em SP. Porque saiu de Inhambupe para Salvador nunca soube por mais que lesse sobre o assunto.
Porque saiu de Salvador? Porque inovou tanto que as Ialorixás, os babalorixás foram arredios com Joãozinho da Goméia. Jorge Amado chegou a escrever sobre o assunto “misturava Angola, com Banto, com Ketu, Jeje”, dizia nosso notável Amado Jorge.
Menininha do Gantois era dócil e recebia o Babalorixá Joãozinho da Coméia. No dia 27 de junho de 1964 quem entra no CEAO- UFBA onde eu trabalhava? Joãozinho da Goméia com Vivaldo da Costa Lima. Assim, vi de frente esse badalado Babalorixá com torço islamita das baianas de acarajé da minha velha Bahia. Em 2020 a Escola de Samba Grande Rio homenageou Joãozinho da Goméia NA Marquês de Sapucaí.
Onde foi seu célebre terreiro em Duque de Caxias está sendo o terreno tombado materialmente como cultura. 50 anos atrás Joãozinho da Coméia morria aos 56 anos. Nasceu em Inhambupe em 1914, nas décadas de 40 em Salvador, pressionado foi até a glória no Rio de Janeiro.
Este Brasil tem tanta arte, cultura, história, tem a velha Bahia este Brasil que esse povo não merecia o desastre de um irresponsável Bolsonaro com uma trupe absurda como agora Milton Ribeiro, Pastores horríveis no berro, mais esse cara de pau d'água arco ex-presidente Presidente da Caixa Econômica Federal. Uma coisa é gentileza outra coisa é desrespeito. No mundo da ignorância e maldade parece não ser a vida de Joãozinho da Goméia.
29/06/2022. (JMPCP).
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