O grupo de crianças e adolescentes uniformizados chama a atenção, em frente ao Observatório Astronômico, no Campus Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Em grupos separados por idades, eles realizam atividades, brincam, fazem amizades e, principalmente, aprendem valores, respeito, amizade, fraternidade e o amor pela natureza. Há quase três décadas, o Grupo Escoteiro Campos Gerais reúne escoteiros e escotistas, desde os “lobinhos” até os “velhos lobos”.
O grupo de escoteiros se mantém vivo através de gincanas, atividades ao ar livre, acampamentos, trilhas, jogos, mutirões… tudo repleto de muito aprendizado, valores e diversão. Neste Dia Mundial do Escoteiro, comemorado em 23 de abril, a UEPG celebra o Grupo que realiza suas atividades dentro da instituição.
O lema “Sempre Alerta” orienta a atuação de cerca de 150 mil escoteiros no Brasil, que integram um dos maiores movimentos do mundo: em todo o planeta, são cerca de 57 milhões de escoteiros. O escotismo iniciou em 1907, pelo ex-oficial do Exército Britânico Robert Baden-Powell, que aplicou técnicas militares a um grupo de jovens.
Divididos em grupos por idade (Lobinho, de 07 a 10 anos; Escoteiro, de 11 a 14 anos; Sênior, de 15 a 17 anos; e Pioneiro, de 18 a 21 anos), os escoteiros realizam atividades de habilidades escoteiras, ligadas à natureza e à sociedade. Eles podem aprender especialidades de cinco grandes áreas: Ciência e Tecnologia, Cultura, Desportos, Serviços e Habilidades Escoteiras. Não interessa o tema: o objetivo é “aprender fazendo”. Os adultos podem participar como escotistas de apoio ou como chefes, que são os voluntários responsáveis pela educação escoteira.
Silvana Sabbag Iurkoski participa do grupo escoteiro desde 1982, quando tinha 13 anos. “Eu entrei no começo, quando começavam a aceitar meninas no movimento”, lembra. Participou durante toda a adolescência e, após uma pausa na vida adulta, retornou quando trouxe os filhos para a atividade. Para ela, o escotismo foi uma escola de valores e caráter. “Você aprende a ter respeito com o próximo em qualquer circunstância. O escotismo é um grande acolhedor”, resume. “Nosso objetivo não é que o jovem cresça e continue no escotismo ou que seja um chefe. Não, a gente quer que ele seja útil para a sociedade, seja uma pessoa que faça a diferença, deixe cada lugar por onde passar um pouco melhor do que quando ele chegou”.
O grupo foi fundado em 08 de agosto de 1998, sob o nome de Grupo Escoteiro 92/PR e batizado inicialmente como Regnum Dei, devido à ligação inicial com o Centro Bíblico. Em 25 de novembro de 2006, surgiu o Grupo Escoteiro Campos Gerais, com o nome e nos moldes que utiliza até hoje: uma associação civil sem fins lucrativos, de caráter educacional, cultural, beneficente, filantrópico e comunitário. Em Ponta Grossa, há outros dois grupos escoteiros ativos: Princesa dos Campos (fundado em 1992) e Lagoa Dourada (2011).
As cores dos lenços refletem um dos objetivos do Gecage: azul e branco representam o município de Ponta Grossa. Segundo o histórico do Grupo, o intuito é formar “homens e mulheres retos de caráter, limpos de pensamento, autênticos em sua forma de agir, leais, dignos de confiança; cidadãos capazes de tomarem suas próprias decisões, respeitarem o ser humano, a vida e o trabalho honrado; alegres, e dispostos a partilhar sua alegria, leais ao seu país, mas construtores da Paz, em harmonia com todos os povos”.
Os encontros acontecem semanalmente, aos sábados, das 14h30 às 17h30. O Gecage está com vagas abertas para jovens de todas as idades e para adultos. “O movimento escoteiro não é uma coisa só para crianças. Ele pode ser voltado para o adulto jovem que, inclusive, frequenta a faculdade da UEPG, ou para os professores, servidores, ou para filhos de servidores, e assim por diante”, explica a servidora da UEPG Thalita Taques Fonseca Celinski, que participa do Gecage.
Parceria
O Movimento Escoteiro, ou World Scouting, é o maior movimento educacional juvenil do mundo, que promove o desenvolvimento de jovens através de atividades variadas e atividades de aventura, com foco na formação de liderança e cidadania. “O movimento escoteiro é uma fraternidade mundial”, conta Thalita, que é a chefe do Clã Pioneiro do Gecage. No Brasil, o grupo é vinculado à União dos Escoteiros do Brasil e à Regional do Paraná; e no mundo, à Organização Mundial do Movimento Escoteiro. “Não é um bando de gente brincando com criança no final de semana”, graceja. “Existe um porquê de cada coisa que a gente faz, por trás de cada atividade programada. Existe um método educativo extracurricular que a gente aplica com o jovem para formar adultos bons cidadãos, formar adultos que sejam bons para a sociedade e para o mundo, adultos que contribuam para a sociedade, por um mundo melhor”.
Os escoteiros participam de projetos e de tarefas que são recompensadas com insígnias: distintivos que reconhecem o progresso e as conquistas individuais dos escoteiros em diferentes áreas de interesse. Essas insígnias podem ser parte de projetos internacionais baseados nos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), como o Mensageiros da Paz, uma iniciativa que busca inspirar jovens escoteiros em todo o mundo a trabalharem por suas comunidades, impactando-as positivamente, em prol da Paz. Aqui no Gecage, o Clã Pioneiro se inspirou a participar do projeto e se uniu a um pessoal da UEPG que já faz a diferença: o Projeto de Extensão Uso Racional de Medicamentos, do curso de Farmácia.
A chefe Thalita conta que várias atividades dos escoteiros abordam o lixo: reciclar, reduzir e reutilizar. Mas dessa vez, o desafio é aprender sobre o descarte correto de medicamentos e divulgar essas informações para a comunidade. “O descarte errado causa grande impacto na natureza, no nosso planeta e na nossa saúde também”, explica. “Existe a maneira certa de estar realizando o descarte. Não é no vaso sanitário, não é no lixo comum, porque ele vai cair na rede de esgoto e vai cair no nosso solo, vai voltar pros nossos rios e mares, vai voltar para a água, que muitas vezes é aquela água que acaba voltando para a nossa casa. Além disso, tem muitos medicamentos que têm que ser primeiro destruídos pra daí ser descartados”.
Na primeira fase, os alunos do projeto de extensão, juntamente com o coordenador, professor Sinvaldo Baglie, promovem uma capacitação com os escoteiros. “Eles vão dar um treinamento, explicando por que deve ser feito o descarte correto dos medicamentos, como é feito esse descarte do que a gente tem em casa, onde descartar, e qual o impacto disso na natureza”, conta Thalita. Depois, vem o trabalho duro dos lobos e lobinhos para disseminar todo esse conhecimento. “Aí eles vão contar isso para os amigos deles, para os pais, familiares. Depois, eles vão contar para o amigo na escola, para o papai e para a mamãe do amiguinho, eles vão estar disseminando esse conhecimento na sociedade, ensinando o vô, ensinando a tia, professora da escola”. O Gecage também vai participar da tradicional atividade do Dia Mundial do Uso Racional de Medicamentos, 05 de maio, no Terminal Central de Ponta Grossa, com orientações e panfletagem à comunidade.
“Nós estamos dentro da UEPG. Somos parceiros”, reforça Thalita. Segundo ela, o grupo está de portas abertas para projetos, atividades e estágios dos cursos da Universidade. “O movimento escoteiro é para a sociedade, é para a comunidade, a gente está aí para servir, então nós podemos colaborar com outros projetos dentro da UEPG, assim como a UEPG pode vir até nós”.
Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper e Arquivo Gecage
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