Ao considerar Lula e Bolsonaro como seus candidatos preferenciais, o povo brasileiro não está percebendo que ambos têm programas econômicos neoliberais que, no caso de Bolsonaro, é radicalmente ultraneoliberal, enquanto no caso de Lula incorpora elementos desenvolvimentistas e humanistas. Ciro Gomes, por sua vez, que apresenta o melhor programa econômico para o Brasil porque é nacional desenvolvimentista, muito dificilmente superará Lula ou Bolsonaro no 1º turno das eleições presidenciais. Tudo leva a crer que Lula deverá vencer as eleições presidenciais pelo fato de apresentar grande vantagem sobre Bolsonaro, segundo as pesquisas eleitorais, e existir uma tendência de vários setores sociais, como a burguesia e a classe média alta, que apoiavam Bolsonaro, de aderirem à candidatura de Lula aumentando ainda mais suas chances de vencer as eleições. Lula está buscando apoios de vários partidos políticos de centro e de direita à sua candidatura, além de tentar a retirada de outras candidaturas presidenciais para que elas venham apoiá-lo. Lula busca apoios de segmentos das classes sociais economicamente dominantes (burguesia) que foram e ainda são sustentáculos do governo Bolsonaro. Esta estratégia de Lula de ampliação de apoios políticos visa possibilitar sua vitória nas eleições presidenciais ainda no 1º turno. Conquistada a vitória nas eleições, seja no 1º ou no 2º turno, Lula pretende realizar um governo similar ao que desempenhou de 2002 a 2010, fazendo concessões às classes economicamente dominantes (burguesia), aos partidos políticos de centro e de direita no parlamento para conquistar maioria parlamentar e, também, às classes subalternas (pequena burguesia, proletariado urbano e rural e lumpemproletariado) com a realização de programas sociais que atendam os interesses dessas classes, sobretudo no combate à miséria da população pobre para assegurar sua governabilidade.
Lula tentaria fazer uma repetição do governo que ele realizou de 2002 a 2010. A pergunta que se faz é se o futuro governo Lula teria condições de superar os gigantescos problemas econômicos e sociais do País com a mesma política adotada pelo seu governo de 2002 a 2010? A resposta é não porque os atuais problemas econômicos e sociais do País se agigantaram exigindo como solução a ruptura do governo brasileiro com o modelo econômico neoliberal adotado desde 1990, quando a economia brasileira passou a ser ditada pelas forças do mercado. A solução só viria com a adoção do modelo nacional desenvolvimentista ajustado aos novos tempos em que o governo brasileiro assumiria as rédeas da economia nacional. Sem ruptura com o modelo econômico neoliberal e sem a adoção do modelo nacional desenvolvimentista ajustado aos novos tempos, a economia brasileira não voltará a crescer e se desenvolver e, consequentemente, não serão eliminados os problemas de desemprego, pobreza, violência, inflação, desindustrialização e dependência externa, entre outros, que afetam profundamente a sociedade brasileira na atualidade. É muito provável que o futuro governo Lula não rompa os laços do Brasil com o neoliberalismo e a dependência do País com o exterior, após sua vitória nas eleições pelo fato de estar contando para se eleger com o apoio de vários segmentos das classes sociais economicamente dominantes do Brasil que impediria a realização das reformas estruturais necessárias ao País. Apesar disto, a vitória de Lula no 1º ou no 2º turno das eleições presidenciais proporcionaria, entretanto, como principal benefício para a maioria do povo brasileiro o fato de abrir a perspectiva de amenização da crise social do País ao evitar a reeleição de Bolsonaro que realizou o pior governo da história do Brasil, além de impedir a implantação de uma ditadura no País desejada por Bolsonaro.
Este cenário acima descrito é o que ocorreria dentro da normalidade político-institucional com a realização de eleições sem qualquer incidente. Outro cenário alternativo ao acima descrito está relacionado com a possibilidade do presidente Bolsonaro realizar um golpe de estado antes ou durante as próximas eleições para impedir a eleição de Lula diante de sua derrota inevitável nas urnas. O golpe de estado poderá ocorrer em 7 de setembro ou nos dias das eleições (2 de outubro no 1º turno ou 30 de outubro no 2º turno) quando Bolsonaro poderá tentar mobilizar seus fanáticos apoiadores para realizarem atos atentatórios às instituições democráticas e, consequentemente, inviabilizar a realização das eleições. O questionamento que Bolsonaro faz há muito tempo da confiabilidade das urnas eletrônicas tem sido recorrente e pode ser usado como pretexto para desencadear o golpe de estado antes e durante as eleições. A tentativa de golpe de estado por Bolsonaro é muito provável que aconteça porque ele sabe que não tem chances de vencer as eleições e que, sem o mandato presidencial, terá que responder pelos inúmeros crimes que vem praticando e ser preso. Diante desta perspectiva, Bolsonaro será capaz de fazer tudo para não ser afastado do poder.
Se ocorrer o golpe de estado a ser perpetrado por Bolsonaro, muito certamente haverá manifestações contrárias no plano internacional e fortes reações contrárias de amplos setores da sociedade brasileira. A depender da virulência do golpe de estado, o Brasil poderá ser engolfado em um estado de guerra civil que pode redundar em um banho de sangue de grandes proporções cujos desdobramentos são imprevisíveis. Dois caminhos podem resultar do golpe de estado: 1) Bolsonaro ser mal sucedido na realização do golpe de estado graças à pronta ação das forças democráticas, ser apeado do poder e as instituições democráticas serem mantidas no Brasil; e, 2) Bolsonaro ser bem sucedido na realização do golpe de estado se mantendo no poder e implantando uma ditadura. No primeiro caso, ele e seus apoiadores responderão judicialmente pela tentativa de golpe de estado e, no segundo caso, seu sucesso resultaria do apoio obtido das Forças Armadas e de policiais militares, milícias e caminhoneiros, entre outros, a seu governo ditatorial. Admitindo que Bolsonaro seja bem sucedido na realização do golpe de estado para impedir a realização de eleições, ele não terá a mínima condição de governar o País pelo fato de não ter legitimidade por não ter sido reeleito e não contar com o apoio da grande maioria da população brasileira que o rejeita. É oportuno observar que, em uma República presidencialista como a do Brasil, a efetiva Governabilidade é alcançada quando o Poder Executivo conta com o apoio da maioria das classes sociais economicamente dominantes, do Parlamento e de amplos setores da sociedade civil. A efetiva Governabilidade não seria alcançada pelo governo ditatorial de Bolsonaro por não reunir todas essas condições.
Para haver governabilidade no Brasil, o governo ditatorial de Bolsonaro precisaria atender as demandas da grande maioria maioria das classes economicamente dominantes (burguesia) e das diversas classes sociais subalternas (pequena burguesia, proletariado urbano e rural e lumpemproletariado) para obter o apoio da Sociedade Civil, bem como deve contar com uma ampla base política de sustentação no Parlamento para obter a aprovação de seus projetos legislativos. Este é, portanto, o tripé da governabilidade: 1) apoio das classes sociais economicamente dominantes; 2) apoio das diversas classes sociais subalternas; e, 3) apoio da maioria do Parlamento. Bolsonaro poderá contar com o apoio de parte ponderável das classes economicamente dominantes (burguesia) e da maioria do Parlamento, mas não terá o apoio da grande maioria das classes sociais subalternas (pequena burguesia, proletariado urbano e rural e lumpemproletariado). Assim, se aprofundaria o conflito existente entre o governo Bolsonaro e a Sociedade Civil. É preciso observar que a Governabilidade só é alcançada quando acontece: 1) o relacionamento o mais construtivo possível entre os poderes constituídos da República (Executivo, Legislativo e Judiciário); 2) o relacionamento o mais construtivo possível entre os poderes constituídos da República e os governos dos estados componentes da federação brasileira e municipais; e, 3) o relacionamento o mais construtivo possível entre os poderes constituídos da República e a Sociedade Civil. Mesmo depois do golpe de estado, nada assegura que Bolsonaro exercerá a Governabilidade do Brasil porque, além de não ter legitimidade para exercer o poder, seu relacionamento não será construtivo com os poderes Legislativo e Judiciário, com os governos estaduais e, sobretudo, com a sociedade civil como ocorreu de 2018 até o momento. Governabilidade expressa, em síntese, a possibilidade do governo de uma nação realizar políticas públicas resultantes da convergência entre as várias instâncias do Estado nacional entre si e deste com as organizações da Sociedade Civil. São estas, portanto, as condições para um governo exercer a Governabilidade que expressa, em síntese, a possibilidade do governo de uma nação realizar políticas públicas que não seria o caso de um governo ditatorial de Bolsonaro.
Em síntese, o Brasil terá dois futuros alternativos resultantes das próximas eleições presidenciais: 1) Neoliberalismo com políticas sociais humanistas e democracia com Lula no poder; e, 2) Ultra-neoliberalismo com arrocho social e ditadura com Bolsonaro no poder. Espero e desejo que prevaleça o futuro que melhor corresponda aos magnos interesses da grande maioria do povo brasileiro com a vitória das forças políticas democráticas.
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* Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.
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