Neste conflito, além da Rússia e da Ucrânia, estão envolvidos os Estados Unidos, os países da União Europeia e a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar ocidental, que foi constituída depois da 2ª Guerra Mundial, quando os Estados Unidos e seus aliados europeus se uniram no plano militar para enfrentar a União Soviética e o Pacto de Varsóvia, aliança militar da União Soviética com os países socialistas do leste europeu. Com o fim da União Soviética em 1989, o Pacto de Varsóvia se desfez, mas a OTAN foi mantida e expandida para atender os interesses geopolíticos dos Estados Unidos com a incorporação dos países que pertenceram ao Pacto de Varsóvia, bem como com a adesão recente da Finlândia e da Suécia. É oportuno observar que a OTAN tem como um de seus pilares garantir a segurança de seus países-membros, que pode ocorrer de forma diplomática ou com o uso de forças militares. Os países-membros da OTAN fornecem parte de seu contingente militar para eventuais ações desse porte, uma vez que a organização não possui força militar própria.
A OTAN contava durante a Guerra Fria entre os Estados e a União Soviética até 1989 com 16 países: 1) Alemanha; 2) Bélgica; 3) Canadá; 4) Dinamarca; 5) Espanha; 6) Estados Unidos; 7) França; 8) Grécia; 9) Holanda; 10) Islândia; 11) Itália; 12) Luxemburgo; 13) Noruega; 14) Portugal; 15) Turquia; 16) Reino Unido. Para atender os interesses geopolíticos dos Estados Unidos e de sua indústria bélica, a OTAN se expandiu, após o fim da União Soviética em 1989, atraindo em 1997 mais 14 países que integravam o sistema socialista do leste europeu como Albânia, Bulgária, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Macedônia, Montenegro, Polônia, República Tcheca e Romênia. A Figura 1 mostra os países europeus que ingressaram na OTAN antes de 1997 e os que ingressaram a partir de 1997. Mais recentemente, Finlândia e Suécia aderiram à OTAN. Com o fim da União Soviética em 1989 e do Pacto de Varsóvia, aliança militar dos países socialistas do leste europeu, a OTAN (aliança militar ocidental) se expandiu começando pelo Mar Báltico, atravessou a Europa Central, passando pela intervenção nos Bálcãs (ex-Iugoslávia) e chegando até a Ásia Central e o Paquistão, ampliando as fronteiras da aliança militar ocidental sob a liderança dos Estados Unidos. Maior aproximação dos países integrantes da OTAN da fronteira com a Rússia se completaria com a incorporação da Ucrânia à aliança militar ocidental como deseja os Estados Unidos, seus aliados da União Europeia e o governo ucraniano.
Tudo isto faz parte da estratégia dos Estados Unidos e de seus aliados europeus de se aproximarem das fronteiras da Rússia que é considerada, juntamente com a China, inimiga das potências ocidentais devido ao propósito dos governantes russos sob a liderança de Vladimir Putin de fazer com que Rússia volte a ter o mesmo poder que o exercido pela União Soviética no cenário político internacional e, também, devido à aliança militar celebrada em 2000 entre a Rússia e a China. A expansão da OTAN rumo às fronteiras russas é considerada pelos governantes russos como o principal perigo externo para a Rússia. Diante da iminência de a Ucrânia se integrar à OTAN, a Rússia reagiu intervindo militarmente neste país para evitar a todo o custo que ele fosse incorporado à OTAN. A invasão da Rússia começou com dezenas de ataques com mísseis em cidades por toda a Ucrânia antes do amanhecer de 24 de fevereiro de 2022. As tropas terrestres russas avançaram rapidamente e em poucas semanas controlavam grandes áreas da Ucrânia e avançaram para os subúrbios de Kiev. As forças russas bombardearam Kharkiv e tomaram o território no leste e no sul até Kherson e cercaram a cidade portuária de Mariupol. A intervenção militar da Rússia na Ucrânia fez com que os Estados Unidos e os países da União Europeia fornecessem maciço apoio militar à Ucrânia, através da OTAN, para se defender militarmente da Rússia.
Ao invés de tentar negociar uma solução de paz para a guerra na Ucrânia, o governo dos Estados Unidos presidido por Joe Biden preferiu armar o governo da Ucrânia para resistir à invasão russa e estabelecer sanções econômicas contra o governo da Rússia e contra seus cidadãos. O fato é que a invasão russa à Ucrânia beneficiou economicamente os Estados Unidos, sobretudo sua indústria bélica, que aumentou as exportações de armas em mais de 14% e respondem por 40% das transferências globais de armamento. O Congresso dos Estados Unidos tem aprovado sistematicamente verbas vultosas para o fortalecimento militar da Ucrânia desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, tanto quanto os países da União Europeia cujos gastos militares com a guerra na Ucrânia chegaram a US$ 480 bilhões em 2022. As causas da guerra entre a Rússia e a Ucrânia são, portanto, sobretudo, geopolíticas e estratégicas. A chegada de Vladimir Putin ao poder na Rússia no ano 2000 modificou radicalmente esse quadro geopolítico, até então muito desfavorável para os russos. Vladimir Putin no poder marcou o início da recuperação geopolítica da Rússia, cuja posição tinha sido muito enfraquecida durante a década de 1990 com o governo Ieltsin que assumiu o poder após o fim da União Soviética.
São dois os cenários futuros para a guerra entre a Rússia e a Ucrânia; 1) O conflito bélico se restringe à Ucrânia; e, 2) O conflito se estende pela Europa e pelo mundo. Se o conflito se restringir à Ucrânia, a Rússia manterá em seu poder os territórios ucranianos já conquistados até que, acumulando forças, venha a ocupar militarmente toda a Ucrânia para impor sua vontade ao inimigo. O conflito poderá se tornar generalizado inicialmente na Europa se a OTAN intervir militarmente ao lado do governo da Ucrânia. Isto abriria caminho para a 3ª Guerra Mundial com o envolvimento das grandes potências militares de consequências imprevisíveis com o uso de armas nucleares conforme Putin ameaçou de retaliação os países que intervirem militarmente em apoio à Ucrânia. Pelo exposto, fica evidenciada a responsabilidade do governo dos Estados Unidos pela possibilidade de eclosão da 3ª Guerra Mundial porque promoveu desde 1997 a expansão da OTAN até as fronteiras da Rússia que se completaria com a incorporação da Ucrânia à aliança militar ocidental, além de impor sanções econômicas contra a Rússia. Os governos dos países da União Europeia são, também, responsáveis pela possibilidade de eclosão da 3ª Guerra Mundial porque estão dando sustentação à irracionalidade do governo Joe Biden no conflito com a Rússia. Por sua vez, a ONU é outro grande responsável pela possibilidade de eclosão da 3ª Guerra Mundial porque não tem contribuído no sentido de buscar o fim da guerra na Ucrânia e, ao contrário, está colaborando para seu acirramento com as resoluções anti-Rússia aprovadas pela Assembleia Geral.
Os fatos da vida demonstram que a guerra entre Rússia e Ucrânia significa a continuidade da velha ordem mundial em que os conflitos de interesses entre as grandes potências têm sido resolvidos a “manu-militare”, isto é, por meios militares. Há séculos, a humanidade se defronta com conflitos entre as grandes potências que não são resolvidas pela via diplomática e sim pelos meios militares porque vivemos em um mundo sem um governo mundial e sem um direito internacional que seja respeitado por todos os países, especialmente pelas grandes potências que procuram impor suas vontades na cena mundial. Sem a existência de um governo mundial e um parlamento mundial democraticamente eleitos pela população mundial, bem como a existência de uma Corte Suprema mundial, não há como o direito internacional ser aplicado efetivamente e ser respeitado por todos os países. Urge a humanidade se dotar o mais urgentemente possível de instrumentos necessários à construção de um mundo de paz.
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*Fernando Alcoforado, 84, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.
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