A Secretaria de Segurança Pública ( SSP ), a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Universidade de São Paulo ( USP ) lançaram na segunda-feira (23) um centro de pesquisa que utilizará ferramentas de inteligência artificial (IA) para orientar a construção de políticas de segurança pública e auxiliar na prevenção de crimes em São Paulo.
O Centro de Estudos em Analytics e Políticas de Segurança (FGV Analytics), que conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo ( Fapesp ), atuará em cima das principais demandas da sociedade recebidas a partir dos canais oficiais do estado. Com os dados será possível construir uma agenda de problemas para que o centro auxilie na construção de soluções a partir da análise e tratamento das informações.
Esses problemas, além de ter a participação de policiais na discussão e tentativa de resolução, agora passam a ter pesquisadores do Centro de Analytics da FGV. A missão é criar um arcabouço de pesquisa que acelere o uso de dados para estimular o processo decisório no planejamento e na elaboração de políticas públicas.
Em 2022, a Polícia Militar recebeu 18 milhões de chamados espalhados em 106 tipos de problemas diferentes relatados. A maioria – perturbação de sossego, averiguação de suspeitos e violência doméstica – concentrou 62% da demanda atendida pelo órgão.
“Boa parte desses crimes têm uma interface digital. Eles começam, terminam ou possuem um processo interno que entra no mundo digital, seja nas redes sociais ou na comunicação ponto-a-ponto”, explicou o coordenador João Henrique Martins, do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) da SSP e vice-diretor do FGV Analytics.
“Com o apoio da metodologia e do processo científico da universidade, a gente procura errar menos e não ser apenas assertivo, mas entregar aquilo que a população precisa no menor tempo e com mais precisão”, completou.
Outro aspecto salientado é que a universidade ajudará a qualificar a agenda do debate público sobre segurança, que só é possível fazer analisando os dados e aplicando a investigação científica, testando hipóteses e pesquisas controladas.
O diretor do FGV Analytics, João Luiz Becker, destacou que a criminalidade é extensivamente estudada pela academia. “Entretanto, a prevenção e redução de crimes são de difícil obtenção, pois exigem um profundo entendimento da complexa estrutura e dinâmica dos fatos”.
Ainda conforme o pesquisador, “os últimos desenvolvimentos em ciência de dados e aprendizagem de máquinas oferecem novas maneiras de prever a incidência de crimes e entender os impactos de características da sociedade e dos indivíduos no comportamento criminoso”, declarou.
Cracolândia é o primeiro tema de estudo para o FGV Analytics
A primeira demanda que será estudada pelos pesquisadores que compõem o centro de análises é o desenvolvimento de um sistema de monitoramento e de avaliação da região das cenas abertas de uso, popularmente conhecida como Cracolândia, no centro de São Paulo.
A intenção do trabalho conjunto é entender qual o tamanho real da população de adictos, das pessoas em situação de rua, identificar aqueles que se dedicam à mendicância, entre outros. Conforme os integrantes do FGV Analytics, é necessário diferenciar esses públicos e mensurar isso diariamente. “Assim, será possível saber se as políticas colocadas em curso estão tendo seu efeito desejado”, indicou Martins.
As informações levantadas durante a análise serão devolvidas para as agências que atuam em campo, como as polícias, secretarias de saúde e de assistência social, entre outras, para que consigam construir um sistema de informações a partir dos dados gerados com o uso de inteligência artificial. Para isso, serão utilizadas imagens captadas no local com o uso de drones, por exemplo.
O FGV Analytics, que incluirá redes de pesquisadores nacionais e internacionais e processos de inovação aberta, irá acompanhar a incorporação de novas ferramentas e tecnologias para avaliar o impacto na atividade policial e maximizar os benefícios do uso dessas tecnologias no dia a dia dos agentes de segurança.
Ataques em escolas
Ainda conforme o coordenador do CICC, o convênio entre a SSP e a FGV prevê o estudo de outros temas de relevância social. A proteção digital das escolas também está no escopo dos pesquisadores.
A ideia é que com o uso de algoritmos seja possível descobrir agressores ativos antes dos ataques ou no levantamento de informações que auxiliarão nas investigações. Outro ponto a ser abordado é a identificação dos chamados replicadores, aquelas pessoas que criam uma percepção de pânico com notícias falsas sobre supostos novos ataques.
“É um desafio grande porque estamos falando do meio digital em seus vários canais. Então precisamos de um trabalho de avaliação da comunicação que dê indícios de que um atirador ativo está prestes a se formar, seja porque propaga esses conteúdos, seja porque é vítima de bullying, e identificar elementos de radicalização”, comentou.
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