A pedagoga Cleidiane Sales da Silva, de 35 anos, é mãe do Rafael, de 14, diagnosticado com autismo desde os seis anos. O garoto é paciente do Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência (Naia) do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
“Toda terça-feira de manhã estamos por aqui. Além do autismo, ele tem TDAH [transtorno do déficit de atenção com hiperatividade] e epilepsia. Antes de vir para o HSM, eu tinha de pagar consulta particular com psicólogo e psiquiatra, o que ficava muito caro para mim. Aqui, ele tem toda a assistência especializada, tudo gratuito e de qualidade. O tratamento é essencial para a estabilidade dele”, avalia a mãe do jovem.
O Naia cuida de cerca de 80 crianças e adolescentes, com idades de 4 a 16 anos, diagnosticados com o transtorno do espectro autista (TEA). Em 2022, o serviço acolheu 1.023 pessoas. A assistência a pacientes com autismo representa 24% do número total de atendimentos no ambulatório. Já na Emergência do HSM, no ano passado, foram recebidos 157 usuários com esse perfil.
Diagnosticado com autismo aos seis anos, Rafael, hoje com 14 anos, é assistido pelo ambulatório do HSM
A consulta realizada no Naia pode ser mensal ou semanal, a depender da necessidade. A equipe multiprofissional é composta por psiquiatras, psicólogos, residentes em Psiquiatria, assistente social e médico pediatra, responsáveis pelo acolhimento de todo o núcleo familiar do paciente. “A família da pessoa com autismo merece ser olhada e cuidada porque sofre muito, se for deixada de lado, e pode até desenvolver transtornos mentais nesse caminho”, explica o psiquiatra do ambulatório, Erick Rebouças, especialista em Infância e Adolescência.
Na Semana de Conscientização do Autismo, o HSM reforça a importância de ficar atento aos primeiros sintomas para que o diagnóstico e o acompanhamento sejam feitos o mais breve possível. Segundo levantamento doCenter for Disease Control, órgão governamental norteamericano, a incidência de autismo nos Estados Unidos é de uma em cada 36 crianças.
A médica psiquiatra Denise Evangelista, atuante no Naia, observa que o Brasil tem uma estimativa de seis milhões de pessoas vivendo com autismo. No mundo, são cerca de 78 milhões de casos. “O TEA é uma condição neurobiológica de origem genética que pode sofrer influência de fatores ambientais, trazendo prejuízos ao bebê em desenvolvimento durante a gravidez. Assim, mitos como a vacinação, os métodos de criação ou as mães que demonstram pouco afeto não são fatores que tenham correlação com o autismo”, afirma Evangelista.
De acordo com a psiquiatra, qualquer sintoma ou comportamento que possa trazer prejuízo à vida familiar, escolar ou social de um indivíduo deve ser investigado. “Se traz consequências negativas como afastamento de amigos e estresse em casa, deve ser cuidado. Não existem medicamentos específicos para o autismo, mas alguns podem ser usados para tratar sintomas e comportamentos que atrapalham o funcionamento global da pessoa, garantindo sua adesão às terapias multidisciplinares, diminuindo seu sofrimento e melhorando sua qualidade – e também de sua família”, diz.
O diagnóstico do TEA é clínico, não existindo um exame específico de comprovação. É realizado após a investigação do médico que, junto à equipe multiprofissional, identifica sinais e sintomas para definir se a criança ou o adolescente está dentro do espectro autista.
No Naia, as intervenções e as terapias desenvolvidas favorecem adaptações. É indicado acompanhamento com fonoaudiólogo(a), terapeuta ocupacional, psicólogo(a), psiquiatra, psicopedagogo(a) e educador físico(a), promovendo uma assistência multidisciplinar.
“A presença do psicólogo nesse processo é importante para trabalhar os aspectos do desenvolvimento social, os estímulos das funções cognitivas, a comunicação e os problemas emocionais”, afirma a psicóloga Marleide Oliveira.
O Serviço de Psicologia utiliza atividades educativas como jogos de palavras, blocos, livros de histórias, desenhos e pinturas, a fim de promover a interação, a comunicação e a imaginação do paciente.
Em relação ao uso de medicações, os psiquiatras do ambulatório receitam somente as necessárias, com doses baixas, pelo menor tempo possível.
Para ser atendido pelo Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência (Naia) do HSM, é necessário encaminhamento de unidades básicas de saúde, de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e daCentral Estadual de Regulação.
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