O projeto Capacitacapoeira, realizado nesta quarta-feira (23), na Casa da Capoeira, localizada no Centro Cultural Glauber Rocha, marcou mais uma etapa da programação do Novembro Negro, desenvolvido pela Prefeitura, por meio da Coordenação de Igualdade Racial, setor vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes).
Ao longo do dia, mestres e contramestres se sucederam no oferecimento de oficinas que abordaram diferentes aspectos do universo da capoeira. Inicialmente, sob a coordenação do mestre Sorriso, que falou sobre psicomotricidade. Em seguida, foi a vez de Lázaro Vieira, o mestre Dendê, líder do grupo Arte e Movimento, trazer informações sobre cantigas e toques de atabaque. “A capoeira é um corpo que fala. É um espaço de liberdade”, defendeu Dendê, 43 anos, que há três décadas se dedica à prática e ao ensino da capoeira.
Logo depois, o contramestre Águia Branca conversou com os participantes a respeito da movimentação básica da capoeira. Águia Branca disse que a capoeira poderia ser lembrada com mais frequência pelos poderes públicos – e que a presença dessa prática esportiva no Novembro Negro é uma forma de torná-la mais visível socialmente. “Estarmos aqui é um prazer imenso, porque é visibilidade para nós”, afirmou o contramestre – que, fora do mundo da capoeira, chama-se Robson Porto.
A programação prosseguiu com as oficinas sobre movimentação de capoeira, ministradas pelo mestre Ferrugem, e de postura, base e movimento, a cargo do contramestre Kekel. As atividades foram concluídas com uma aula do presidente da Casa da Capoeira, mestre Acordeom, sobre cantigas, toques e instrumentalidade.
Já Acordeom, cujo nome oficial é Antônio Santos, defendeu que a inclusão da capoeira nos eventos oficiais, como o Novembro Negro, pode auxiliar na luta diária contra o racismo e os preconceitos que parte da população ainda mantém com relação às práticas culturais de matriz africana. “Isto é importante para deixar uma reflexão: por que o racismo e o preconceito existem? Como desconstruir isso”, questionou Acordeom, de 55 anos – 45 deles vividos no mundo da capoeira.
A desconstrução, segundo o mestre, passa pela conquista do respeito por parte dos capoeiristas. “Quando vou à praça para participar de uma roda, não estou indo para fazer bagunça, como algumas pessoas pensam. Estou indo para reforçar quem eu sou. E nós somos homens e mulheres negros de resistência”, afirmou. “Nosso objetivo é despertar a sociedade, para que nos respeite. Queremos desconstruir os preconceitos em todos os eixos. Racismo e preconceito, não; respeito, sim”, concluiu.
Aprender capoeira é combater o racismo, diz jovem capoeirista
Essa consciência é bem conhecida por Beatriz Araújo Silva, 22 anos, praticante da capoeira desde os 15. Na escala acadêmica da prática esportiva, ela está na terceira graduação, que é simbolizada pelo cordel verde e amarelo que traz na cintura. “Aprender capoeira é também aprender como combater o racismo diariamente. É um orgulho para mim, também como mulher, e para incentivar outras mulheres pretas”, disse Beatriz. O conhecimento que ela adquiriu nas aulas de capoeira, conforme seu relato, foi iniciado anos antes, ainda no programa Conquista Criança, no qual entrou aos 7 anos, e no qual permaneceu até os 19. “Lá, eu comecei a aprender capoeira, percussão e costura”, contou a capoeirista.
Políticas públicas não podem parar, defende coordenador de Igualdade Racial
A programação do Novembro Negro se encerra na manhã de quinta-feira (24), na Praça Nove de Novembro. A partir das 9h, será realizada uma roda de capoeira para a qual são esperados mais de 20 grupos com atuação em Vitória da Conquista.
O coordenador municipal de Igualdade Racial, Ricardo Alves, reforçou o caráter de resistência que permeia a realização de um projeto como o Novembro Negro. “É a consolidação de políticas de Estado que foram desenvolvidas lá atrás e são resultado de muitas lutas. Estar neste local é muito caro e representativo para todos nós”, defendeu Ricardo. “Nosso compromisso é manter essas políticas públicas, independentemente de quem seja o gestor. As políticas públicas não podem parar”, complementou o coordenador.
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