Ao menos 140 tiroteios ocorreram em Salvador e Região Metropolitana em agosto. Ao todo, 124 pessoas foram baleadas, sendo 100 mortas e 24 feridas, segundo o relatório mensal lançado pelo Instituto Fogo Cruzado. O segundo balanço do instituto, desde sua chegada à Bahia, mostra ainda que, dos disparos mapeados em agosto, 48 ocorreram durante ações ou operações policiais. Ou seja, 34% dos casos.
Do total de pessoas mortas, 94 eram homens e cinco mulheres. Das 100 pessoas mortas, 43 foram atingidas em ações policiais. O Instituto Fogo Cruzado atua na Bahia em parceria com a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas. Os dados também estão disponíveis na API do instituto, onde podem ser consultados de forma aberta e gratuita.
Ao todo, houve sete chacinas, seis em operações policiais em agosto, deixando 24 pessoas mortas. Entre essas vítimas, 21 foram mortas em operações policiais. O Instituto classifica como chacina casos de violência com ao menos três pessoas mortas. O Fogo Cruzado registrou mais chacinas em Salvador do que nos outros estados mapeados no Brasil: foram três na Região Metropolitana do Rio e nenhuma chacina na Região Metropolitana do Recife.
Casos emblemáticos de tiroteio envolvendo operações policiais ocorreram em agosto, como o da creche onde as crianças se jogaram no chão para se proteger dos disparos no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador. No mesmo território, outro caso envolvendo a segurança pública assustou as pessoas que participavam da tradicional festa Nordeste Day, que faz parte do calendário anual da comunidade. Ao final do evento, a polícia militar dispersou a multidão que estava no largo com tiros para o alto, bombas de gás lacrimogêneo e sprays de pimenta. Moradores foram à imprensa denunciar o caso como violência policial.
Para Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, neste segundo mês de monitoramento, o panorama é de uma Salvador violenta para além das regiões mais afastadas do centro. Maria Isabel lembra casos que romperam as barreiras das áreas periféricas da cidade, como o assassinato da adolescente Cristal, no início de agosto, a metros da sede do Comando Geral da Polícia Militar, no Campo Grande, e do Corredor da Vitória — uma das áreas mais nobres da capital.
“Mais do que números, os contextos da violência em Salvador e RMS se apresentam de forma cada vez mais grave. São sete chacinas com 24 vítimas. Ao menos três pessoas mortas por balas perdidas, entre elas, dona Maria de Lourdes, uma idosa de 65 anos que fazia sua caminhada matinal quando cruzou com uma perseguição policial”, comenta.
Maria Isabel Couto acrescenta ainda os conflitos entre policiais e traficantes em dias sucessivos no Nordeste de Amaralina. “A fotografia das crianças deitadas no chão da creche Dália de Menezes é o retrato literal dessa gravidade. São casos que nos remetem à conclusão óbvia de que a segurança pública precisa operar a fim de garantir direitos às pessoas e não o contrário”.
Segundo Dudu Ribeiro, cofundador da Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas e coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, “o que nós vemos é um sistema feito para operar contra a nossa população e a favor da manutenção dessas ações, que acabam por vitimar as camadas mais vulneráveis da sociedade. Quando falamos de segurança pública o questionamento que fica é, segurança de quem e para quem? Quem está seguro quando um dado representativo como esse é divulgado? Essa violência toda é retroalimentada pelo Estado e nosso papel é denunciar esse sistema de mortes através da divulgação desses casos, sendo de interesse público e não podem ser minimizados. Esta política de morte e violência é financiada com o dinheiro público. A lógica da guerra sequestra recursos públicos para manter os processos de violência racial. Este é outro ponto importante que precisamos trazer,” finaliza.
Esse é o segundo relatório do Instituto Fogo Cruzado na Bahia. O aplicativo do Instituto funciona de forma colaborativa e anônima com registro de dados e informações sobre tiroteios e violência por arma de fogo. Por meio das informações coletadas e de um mapeamento ativo, o Instituto realiza o levantamento e faz a contabilização, especificando as localidades e os recortes dos dados (chacinas, balas perdidas, tiroteios e outros indicadores). O mapeamento pode ser acompanhado diariamente através do aplicativo disponível para Android e iOS ou no Twitter.
O mapa da violência armada:
Salvador: 101 tiroteios, 58 mortos e 19 feridos
Camaçari: 15 tiroteios, 11 mortos e 2 feridos
Lauro de Freitas: 9 tiroteios, 5 mortos e 3 feridos
Simões Filho: 8 tiroteios, 16 mortos
Mata de São João: 2 tiroteios, 2 mortos
Dias D'ávila: 2 tiroteios, 2 mortos
Vera Cruz: 2 tiroteios, 2 mortos
Candeias: 1 tiroteio, 2 mortos
O perfil da violência armada.
Em agosto foram registradas sete chacinas, seis em operações policiais.
Ao todo, 24 pessoas foram vítimas de chacinas. Sendo 21 de operações policiais;
Salvador e Simões Filho registraram o mesmo número de chacinas: três em cada município;
Cinco pessoas foram atingidas por balas perdidas em agosto. Três morreram. Uma vítima atingida em ação ou operação policial e as outras duas não.
Duas crianças, três adolescentes e dois idosos foram baleados em Salvador e RMS em agosto: entre as vítimas, uma criança, dois adolescentes e um idoso morreram.
Seis pessoas foram baleadas quando estavam em casa: todas as vítimas morreram.
Um motoboy/mototaxista e três motoristas de aplicativo foram mortos a tiros em agosto.
Dois vendedores ambulantes foram baleados em Salvador e RMS: um deles sobreviveu.
SOBRE O FOGO CRUZADO.
O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.
Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e de Salvador.
Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.
Assessoria de imprensa, Fogo Cruzado — Midiã Noelle.
https://fogocruzado.org.br/dados/relatorios/grande-salvador-agosto-2022
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