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Semana de 22 foi marco de uma nova atitude de São Paulo diante do mundo

A criação da Universidade de São Paulo, em 1934 e, da FAPESP, em 1962, 40 anos depois da Semana de 22, são fruto dessa mudança

17/02/2022 às 17h55
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Secom Estado de São Paulo
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Foto: Reprodução/Secom Estado de São Paulo
Foto: Reprodução/Secom Estado de São Paulo

Embora suas origens estejam na literatura e na arte, o modernismo criou um ambiente de renovação e de mudança, uma atitude nova diante do mundo e do conhecimento. Isso impactou enormemente o ensino e a pesquisa, sobretudo na área de Humanidades, mas extrapolou em muito esse domínio.

A avaliação foi feita ontem (16/02) pelo presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, durante a abertura da 8ª Conferência FAPESP 60 anos, disponível no YouTube.

“A própria criação da Universidade de São Paulo [USP, em 1934] e, por consequência, da FAPESP [em 1962], 40 anos depois da Semana de 22, fazem parte dessa nova atitude diante do mundo”, disse Zago.

O evento teve como mediadora Flávia Camargo Toni, professora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP).

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Segundo a pesquisadora, a década seguinte à Semana de Arte Moderna foi propícia para reformas no ensino em todo o país, com a fundação da USP em 1934 e do Departamento de Cultura de São Paulo, que tinha o modernista Mário de Andrade à frente.

“O laço do modernismo na área de Humanidades sedimentou-se na efeméride de 40 anos da Semana, quando na década de 1960 o governador Carvalho Pinto fundou a FAPESP”, afirmou a pesquisadora. No mesmo ano de 1962, acrescentou Toni, era fundado o IEB-USP, comandado por Sérgio Buarque de Holanda.

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Zago disse ser importante lembrar que existiam antecedentes ao modernismo e que uma inquietação se revelava mesmo fora de São Paulo, mas que estes não se limitavam às artes e à literatura.

“Toda a sociedade brasileira se modernizava. E a cidade de São Paulo, que naquele momento se enriquecia e se tornava um polo industrial, saía de sua condição quase provinciana para vir, ao longo do tempo, se tornar no século 21 uma das capitais internacionais da cultura”, contou.

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Walnice Nogueira Galvão, professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), recordou que 1922 teve a efeméride do centenário da Independência do Brasil e fatos políticos que repercutiram nas décadas seguintes, como a eclosão do Tenentismo e o episódio da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, além da fundação do Partido Comunista Brasileiro e a realização do Primeiro Congresso Feminista do Brasil, comandado pela bióloga e futura diretora do Museu Nacional, Bertha Lutz.

Fora do Brasil, ocorria a publicação de Ulisses, de James Joyce, e do poema The Waste Land, de T.S. Eliot, além da morte de Marcel Proust. “Uma agenda cultural foi sendo construída passo a passo, longamente, durante os cem anos seguintes”, afirmou.

Interesse renovado

Telê Ancona Lopez, professora emérita da FFLCH-USP, afirmou que os vínculos com a FAPESP nos estudos do modernismo se consolidam, evoluem e se alastram no IEB-USP.

“Penso que as comemorações servem, sobretudo, para que a análise e o distanciamento histórico do que foi feito um dia enriqueçam o nosso olhar, a memória e a história”, disse a pesquisadora, que foi curadora do Arquivo Mário de Andrade no IEB-USP até 2008 e coordenou o projeto “Estudo do processo de criação de Mário de Andrade nos manuscritos de seu arquivo, em sua correspondência, em sua marginália e em suas leituras”, apoiado pela FAPESP.

Jacqueline Penjon, professora da Universidade da Sorbonne Nouvelle, na França, lembrou que a Paris dos anos 1920 não tomou conhecimento da Semana de Arte Moderna de 1922.

Aquele ano, porém, foi muito importante para as relações culturais franco-brasileiras, que vinham se intensificando desde 1908 com a fundação de uma associação das universidades e grandes escolas da capital francesa para as relações com a América Latina.

“A partir disso, vemos que não há nenhuma referência à Semana de Arte Moderna, apenas ao centenário da Independência. A França foi convidada para uma grande exposição que aconteceu no Rio de Janeiro e na Revue de l’Amérique Latine [revista fundada naquele ano] só se falava dessa exposição e da triste sina do Conde D’Eu [marido da Princesa Isabel], que falece justamente quando ia assistir a essa exposição”, contou.

Em 1924, no entanto, Paris receberia a primeira exposição de arte latino-americana, em que Tarsila do Amaral e Anita Malfatti são bastante elogiadas. Há ainda concertos de Heitor Villa-Lobos.

O interesse no modernismo, porém, se esvai nos anos 1930 e só é retomado na década de 1970, quando é publicada a tradução para o francês de Macunaíma e uma revista literária lança uma edição especial dedicada ao modernismo brasileiro.

Embora muito já tenha sido estudado sobre a Semana, as pesquisadoras concordam que ainda há uma gama de possibilidades de novos estudos. Nogueira Galvão lembrou os recém-lançados A arte de devorar o mundo: Aventuras gastronômicas de Oswald de Andrade, livro escrito pelo neto do modernista, Rudá K. Andrade; e O guarda-roupa modernista: O casal Tarsila e Oswald e a moda, de Carolina Casarin.

Ancona Lopez falou sobre como as análises da correspondência de Mário de Andrade têm desfeito ilusões e trazido novos fatos sobre os modernistas. Penjon, por sua vez, lembrou de uma nova leva de obras do período sendo traduzidas agora para o francês.

Para assistir ao evento na íntegra acesse: https://youtu.be/2ZdKiMaOClY.

Outros eventos on-line em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna acontecem hoje (17/02) e amanhã (18/02). A programação pode ser acessada em: https://fapesp.br/eventos/semanartemoderna.

Os vídeos dos sete primeiros eventos da série Conferências FAPESP 60 anos estão disponíveis em: https://60anos.fapesp.br/conferencias.

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