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Direitos Humanos Moradia Digna

Mulheres negras podem levar até 184 anos para realizar o sonho da casa própria, aponta levantamento “Sem moradia digna, não há justiça de gênero”.

Publicação aborda como as desigualdades de gênero impactam desproporcionalmente o acesso à moradia adequada.

28/03/2025 às 13h33 Atualizada em 28/03/2025 às 14h54
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Imprensa Habitat Brasil
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Foto: Reprodução
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A ONG Habitat para a Humanidade Brasil lança a campanha “Sem moradia digna, não há futuro”, trazendo à tona um dado alarmante: mulheres negras no Brasil podem levar até sete gerações para conseguir comprar uma casa própria. O primeiro levantamento da iniciativa, intitulado “Sem moradia digna, não há justiça de gênero”, reúne dados coletados ao longo de 5 anos, revela como as desigualdades de gênero impactam desproporcionalmente o acesso à moradia adequada, perpetuando ciclos de pobreza e violência. 

O déficit habitacional atingiu 6,2 milhões de domicílios, enquanto outros 26,5 milhões enfrentam inadequações habitacionais, como problemas de infraestrutura, condições edilícias precárias e insegurança fundiária, segundo a Fundação João Pinheiro. Entre os lares em situação de déficit habitacional, 62,6% são chefiados por mulheres. 

A partir desse cenário, o levantamento aponta que o agravamento da feminização da pobreza obriga as mulheres a destinar 30% de sua renda ao aluguel, enquanto enfrentam menores salários, longas jornadas em trabalhos mal remunerados e a responsabilidade pelo cuidado não remunerado. Além disso, muitas sofrem violência doméstica e familiar. 

Diante dessa realidade, uma mulher negra precisaria de 184 anos, ou sete gerações, para juntar o dinheiro necessário para comprar uma casa própria em uma favela brasileira, segundo o levantamento. 

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O estudo tomou como base dados de imóveis à venda nas maiores favelas do país, segundo o Censo 2021, e a remuneração média de uma mulher negra no Brasil (Relação Anual de Informações Sociais de 2023). Considerando uma mulher que tem renda estável, apenas se desloque para o trabalho, pague aluguel, se alimente e crie seu filho – ou seja, que não tenha lazer, imprevistos, doenças repentinas, cenários de gastos aumentados, bem como que conte com rede de apoio gratuita e vaga na escola para sua criança — ela teria uma sobra de R$31,62 por mês para comprar uma casa em uma favela brasileira, no valor médio de R$69.828,57. 

Esse dado escancara a dificuldade de acesso à moradia digna, mesmo em um cenário favorável (estimado apenas para o estudo). Em muitos casos, a alternativa para garantir um teto é morar de favor, em condições precárias ou sacrificando necessidades básicas para pagar o aluguel. 

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“Sem moradia digna, as mulheres têm pagado um preço alto — que custa seu tempo de vida, sua saúde física e mental, a possibilidade de estudar, trabalhar, descansar e sonhar com um futuro melhor. São essas mesmas mulheres que cuidam de si, dos outros e de suas comunidades, construindo, dia após dia, um país possível. Um futuro melhor, um futuro mulher. Ter o básico precisa ser um direito desta geração — e não apenas da oitava geração daquelas que lutam hoje. Não há futuro sem dignidade no presente. E essa dignidade começa pela moradia digna”, afirma Raquel Ludermir, Gerente de Incidência Política da ONG Habitat para a Humanidade Brasil. 

O levantamento também aborda as relações entre a falta de uma moradia digna com o ciclo de violência doméstica, a saúde da família, especialmente das crianças e saúde mental das mães, e a falta de acesso a serviços básicos. 

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Link para o estudo: Link  

Sobre a Habitat para a Humanidade Brasil.

Habitat para a Humanidade Brasil é uma organização da sociedade civil que, há mais de 30 anos, atua para combater as desigualdades e garantir que pessoas em condições de pobreza tenham um lugar digno para viver. Presente em mais de 70 países, a organização promove a incidência em políticas públicas pelo direito à cidade e soluções de acesso à moradia, à água e ao saneamento, em articulação com diversos setores e comunidades.

 

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