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Bar Porta Aberta: Durante quatro anos um bar jamais fechou as portas

Inaugurado no final de 1959, o Bar Porta Aberta, no Beco do Mocó, funcionou ininterruptamente até 1964, quando foi fechado pelo Regime Militar. Fre...

17/01/2025 às 09h38
Por: Redação Fonte: Prefeitura de Feira de Santana - BA
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Foto: Reprodução/Prefeitura de Feira de Santana - BA
Foto: Reprodução/Prefeitura de Feira de Santana - BA

Inaugurado no final de 1959, o Bar Porta Aberta, no Beco do Mocó, funcionou ininterruptamente até 1964, quando foi fechado pelo Regime Militar. Frequentado por boêmios e seresteiros famosos, como Altemar Dutra, o bar foi um pórtico da alegria, criado pelo cearense Francisco José de Souza, o “Chico Chiada”, e dois irmãos.

Um bar com portas abertas, durante 24 horas, ou de forma ininterrupta, talvez seja possível hoje, mas na década de 1950, do século passado, era algo improvável, impossível mesmo. No entanto, como “todos os caminhos passam em Feira de Santana”, como disse o saudoso Carlos Pitta, aqui já houve um estabelecimento assim, que rapidamente se consolidou e ‘enraizou’ no coração da rapaziada, tanto durante o dia quanto à noite, tornando-se o indubitável recanto da boemia — ou seja, daqueles que preferiam passar a vida noturna fora de casa, conversando, cantando e ‘molhando a garganta’, como se dizia.

O Bar Porta Aberta surgiu no final de 1959 com a chegada dos irmãos Francisco José de Souza, Carlos e João, cearenses de Fortaleza, mas de família oriunda de Pacajus, a 30 km da capital. De temperamento alegre e comunicativo, Francisco, que logo se popularizou como “Chico Chiada” e se tornou um líder político admirador do ex-prefeito Colbert Martins da Silva, escolheu o Beco do Mocó — hoje uma área de forte comércio, mas naquela época um trecho onde ‘mulher séria não passava’ — para instalar o estabelecimento. O motivo da escolha nunca se soube, a não ser que o bar estava próximo de uma casa comercial de outra família da terra de José de Alencar, os Bantin, que tinha na Rua Marechal Deodoro a Loja A Cearense. Mas uma coisa talvez nada tenha a ver com outra.

O fato é que o então Beco do Mocó, com uma vida noturna efervescente, onde boêmios veteranos e ‘marinheiros de primeira viagem’ se encontravam no ‘porto’ em busca de ‘recatadas donzelas’, recebeu o Bar Porta Aberta de braços abertos. Prestigiado por bons seresteiros da cidade, o bar tinha frequentadores habituais como Waldick Soriano e recebia visitantes ilustres dos discos e do rádio, como Carlos Alberto e Altemar Dutra.

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Carlos Sousa, um dos três cearenses responsáveis pelo bar, seresteiro com experiência na música, durante breve passagem em uma mercearia na cidade de Santos, São Paulo, tinha registro vocal semelhante ao de Altemar Dutra. “Quem ouvia Carlos e não sabia, acreditava que era Altemar”, diziam amigos. Tomando conhecimento da existência desse seu ‘sósia vocal’ na cidade, depois de uma apresentação de sucesso no Feira Tênis Clube, Altemar Dutra o dirigiu a pé, com o violonista Gelivard Sampaio, até o bar, onde o conheceu e ficou sabendo que não se tratava de um imitador, mas sim de um jovem que possuía registro vocal igual ao seu, o que não é muito comum entre os que cantam, e com isso ficaram amigos.

O Porta Aberta fez parte ativa da vida da cidade princesa não apenas como ponto de boêmios, seresteiros e inconformados, mas também de intelectuais e estudantes que queriam um local aprazível onde pudessem se descontrair de forma bem amistosa. Mas esse cenário foi apagado em 1964, após quase cinco anos mágicos vividos pelos frequentadores do estabelecimento. O Brasil vivia o Regime Militar, que proibia a cidadania, o direito de ser livre, de pensar e de se divertir. Assim, as portas do Bar Porta Aberta fecharam-se em 1964, não de forma espontânea, mas por determinação do regime.

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Francisco José de Souza, “Chico Chiada”, foi líder estudantil, formou-se em Magistério, foi presidente da Associação dos Moradores do Conjunto Jomafa, diretor do Clube Euterpe Feirense e da Liga Feirense de Desportos, trabalhou em algumas empresas do estado e foi um dedicado e eficiente ambientalista, preocupado com as questões sociais. Casado com a professora Maria José, a professora Zezé, e pai de Fernando, Egleson e Luiza Diná, também professora e jornalista, Francisco José de Souza faleceu em 11 de outubro de 2007 e teve seu trabalho reconhecido pelo prefeito José Ronaldo de Carvalho, que o homenageou colocando seu nome em uma das praças do Conjunto Jomafa, que dele recebeu todo o cuidado, com o carinho de um verdadeiro feirense, embora cearense de origem.

Por Zadir Marques Porto

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