Em um movimento inédito no Rio Grande do Sul, a Secretaria do Esporte e Lazer (SEL), juntamente com a Central Única das Favelas (Cufa) de Frederico Westphalen, promoveram o programa Segue o Jogo, que contemplou 1,3 mil projetos sociais que trabalham diversas categorias desportivas com kits de equipamentos. No total, o edital distribuiu R$ 3,8 milhões em materiais esportivos.
Além de contemplar entidades coletivas formais que têm CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), o programa possibilitou que pessoas físicas e coletivos informais recebessem recursos. Os valores distribuídos variaram de R$ 2 mil a R$ 10 mil por ação selecionada. Para participar do edital, era necessário que o projeto fosse desenvolvido em um dos 23 municípios participantes do Programa RS Seguro.
A seleção aconteceu no final de 2022, e as entregas foram realizadas até a metade de janeiro deste ano. Com o projeto, a SEL buscou reconhecer a importância do esporte no desenvolvimento social e valorizar as iniciativas individuais e coletivas desenvolvidas no Estado.
Segundo o titular da SEL, Danrlei de Deus, com o Segue o Jogo o governo impactou locais de maior vulnerabilidade social onde, de outras formas, não conseguiria chegar. “Estamos conseguindo fazer um trabalho nunca feito na história do Rio Grande do Sul. Tenho muito orgulho de estar ao lado desses projetos”, ressaltou.
O secretário reafirmou que programas desse tipo são importantes por abranger projetos que usam o esporte como ferramenta de transformação social. As iniciativas se configuram grandes aliadas para manter crianças e adolescentes nas escolas, contribuindo para uma formação de qualidade e gerando melhorias na vida nas comunidades.
Canoagem na Escola
Iniciado há 18 anos, o projeto Canoagem na Escola, desenvolvido pela Associação Leopoldense de Ecologia e Canoagem (Aleca), em parceria com a prefeitura de São Leopoldo, atende a 180 crianças e adolescentes no contraturno escolar. Para se manter na iniciativa, os alunos precisam se dedicar nos estudos, podendo deixar de participar caso recebam reclamações ou tenham queda no rendimento.
“Como o próprio nome do projeto fiz, é obrigatório estar bem no colégio, então os participantes precisam apresentar o boletim escolar, não podem ter reclamação e nem faltar aula. Brinco que se eles furam na escola, a gente dá um barco furado para eles aqui”, comentou a coordenadora do projeto, Daniela Maióli.
Os alunos que se destacam nos treinos são selecionados para compor a pré-equipe e a equipe oficial da Aleca, que já foi campeã em diversos eventos esportivos dentro e fora do Brasil.
Por meio do Segue o Jogo, o projeto recebeu smartwatches, uniformes e remos. Conforme o professor de Educação Física Luís Marcelo Carneiro, os materiais recebidos vão incentivar a equipe e aprimorar os treinos. “O relógio ajudará com os treinamentos que realizamos no rio. O aparelho monitora dados como velocidade, distância, tempo de volta, tempo parcial e velocidade média, por exemplo”, explicou.
Karatê Ji In
Desenvolvido no salão de festas de um condomínio residencial no município de São Leopoldo, o Karatê Ji In foi outro projeto contemplado pelo programa Segue o Jogo. Sob o comando do sensei Moisés Costa da Silva, os alunos aprendem as técnicas da arte marcial e são instruídos a praticar o respeito mútuo com as pessoas que convivem.
Segundo Silva, o karatê, além de beneficiar a saúde física dos atletas, proporciona melhorias na capacidade de eles terem foco em outras atividades.“O esporte forma o aluno psicologicamente, através da concentração. Isso também ajuda na escola porque, aprendendo a se concentrar dentro de uma aula de arte marcial, melhora a concentração nos estudos, reduz o desvio da atenção”, explicou.
Durante as aulas, os alunos praticam as duas modalidades principais do esporte. No kata, não há contato físico, pratica-se somente a execução correta dos movimentos. No kumitê, dois karatecas entram em combate, com pontuação definida dependendo do golpe ou área de impacto.
Com os materiais recebidos pela equipe, o treinador afirma que haverá melhora significativa nas condições para que os atletas participem de competições em todo o Brasil. “Nós precisamos usar proteções que são obrigatórias. Luvas, para conter o toque no rosto, e capacete, que é de suma importância para evitar danos na linha da face. São materiais exigidos nos torneios e, sem eles, o atleta não adentra a área de competição”, salientou.
Escola Estadual Tuiuti
Na Escola Estadual de Ensino Médio Tuiuti, de Gravataí, os alunos são incentivados a praticar diversas categorias esportivas. Os resultados se tornam perceptíveis por meio das conquistas em jogos escolares no município e no Estado, o que faz com que pais procurem a instituição ao conhecerem o trabalho nela desenvolvido.
Conforme a diretora Geovana Affeldt, a Tuiuti atende 800 alunos nos três turnos, que serão beneficiados pelos diferentes materiais recebidos por meio do projeto desenvolvido pelo governo com a Cufa de Frederico Westphalen. “É algo que podemos oferecer para os alunos o ano inteiro e que, com a verba de manutenção da escola, não conseguiríamos com essa diversidade e qualidade que o Segue o Jogo trouxe para nós”, avalia.
A escola tem a sua própria semana de jogos. As Olímpiadas do Tuiuti ocorrem há 22 anos, durante uma semana de novembro. A professora de Educação Física Mariane Nascimento conta que, já no início do ano, os alunos começam a perguntar ansiosos sobre os jogos. As turmas disputam entre si e, no final da semana, a que tiver maior pontuação recebe medalhas.
“Eles vão se apaixonando pelo esporte que gostam mais. Há alunos que fazem todos, mas, durante a competição, podem escolher os dois com que têm mais afinidade e neles participam a semana toda. Se envolvem só no turno de aula, não precisa vir no contraturno, e tudo é pontuado. É organizado, movimenta a escola inteira. Os professores fazem mesa e arbitragem. Os jogos ocorrem simultaneamente, de três a quatro por dia. É uma semana exaustiva, mas recompensadora”, celebra.
União dos Skatistas de Esteio
Em Esteio, mais de 70 crianças de três comunidades foram contempladas com skates recebidos por meio do Segue o Jogo. Todas são participantes de oficinas desenvolvidas e aplicadas pela União dos Skatistas de Esteio (USE), juntamente com a prefeitura do município.
Segundo o presidente da USE, Anderson Roberto Domingues, o equipamento impacta em como as crianças se sentem na hora de praticar o esporte, contribuindo também para uma formação cidadã.
“A diferença fica no sentimento da criança saber que aquilo é dela e que ela pode deixar do jeitinho que ela gosta, que ela quer. Tendo o próprio skate, se sentem incluídos no processo e eles mesmo fazem o que bem entenderem. Customizam, escrevem o nome em cima, mas, acima de tudo, praticam, que é o verdadeiro objetivo do projeto. O impacto é muito positivo. A gente vê a evolução deles como atletas e pessoas”, ressaltou.
O projeto ajuda também a ampliar a visão de mundo dos participantes, possibilitando que eles conheçam lugares além das comunidades onde vivem. Domingues afirma que a participação afeta positivamente o comportamento das crianças, fazendo com que ajam corretamente, pois, em caso contrário, podem ser impedidos de participar das aulas.
As oficinas acontecem de forma contínua na Praça da Juventude e na Praça do Centro de Esportes Unificados (CEU), contudo, aulas itinerantes também são desenvolvidas em escolas do município.
Renascer Bom de Bola
Fundada pela gari aposentada Rozeli da Silva, a organização não governamental (ONG) Renascer atende a 380 crianças e adolescentes do bairro Restinga, em Porto Alegre, no contraturno escolar. Com diversas atividades para desenvolver criatividade e sociabilidade, a ONG busca levar mais o esporte para a vidas dos participantes.
Junto com o treinador Luiz Aurélio Pereira Vargas Júnior, Rozeli desenvolve o projeto Renascer Bom de Bola, que trabalha o futebol com os alunos. Ela ainda sonha ver suas crianças se destacando no esporte. Entretanto, apesar de o projeto existir há mais de 25 anos, a ONG enfrentava falta de recursos. Os materiais recebidos por meio do Segue o Jogo, segundo Rozeli, trouxeram uma transformação positiva.
“Quando as crianças têm materiais, têm bola, isso muda muita coisa. Não só na minha vida, mas na deles, porque agora eles têm um colete para jogar e mostrar que são do Renascer Bom de Bola, estão fardados para participar de um campeonato. Não precisa mais ficar pedindo roupa emprestada. Esse projeto veio para nos engrandecer”, comemora.
Paradesporto de Caxias do Sul
Na Serra, a Associação de Apoio ao Desporto e Paradesporto de Caxias do Sul (AADP) trabalha o basquete e o atletismo com uma turma diversa de alunos, que vão de adolescentes até adultos. Por meio do Segue o Jogo, a entidade recebeu bolas profissionais, itens para treino, equipamentos para lançamento de peso e dardos e uma cadeira adaptada para prática esportiva.
O professor Márcio Dias Velasquez conta que o material fez muita diferença, pois era uma necessidade que a associação tinha para melhorar os treinos dos atletas. O trabalho desenvolvido vem gerando respostas muito positivas. “Alguns alunos, quando chegaram meses atrás, tinham muito mais dificuldades de coordenação, coisas que teoricamente seriam simples, como se abaixar, e hoje já estão conseguindo executar com mais facilidade”, comentou.
A melhora é percebida além do desenvolvimento físico dos participantes, aponta o assistente social da AADP, Gamaiel Bourscheidt.“Sabemos que o esporte trabalha também a questão de identidade, de pertencimento, de socialização, e isso impacta tanto na família quanto em quem está na escola, ou em um espaço de trabalho, para quem está começando. Tudo isso faz parte do conjunto de desenvolvimento biopsicossocial, que envolve desenvolvimento pessoal, social, de saúde e assim por diante”, concluiu.
Escolinha da Tia Léia
Criada há mais de 30 anos no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, por Marileia Soares Pires, a Tia Léia, a Escolinha de Futebol Panamá atende a cerca de 20 crianças. A entrega dos materiais pelo Segue o Jogo sanou um problema enfrentado no treinamento dos participantes.
“Antes, a gente treinava com as pedras, e agora vamos treinar com cones. Isso é maravilhoso. Antes tínhamos uma bola e hoje são seis. Chegou fardamento também. Tudo isso é gratificante e eu agradeço a oportunidade que tivemos de nos inscrever e sermos contemplados”, ressaltou tia Léia.
A instituição tem o objetivo principal de mostrar para as crianças e adolescentes que existe um caminho bom para conseguirem o que desejam e realizar seus sonhos. Na escolinha, os alunos são incentivados a seguir estudando, praticar o respeito com os pais e se tornarem bons cidadãos que contribuem com a sociedade onde moram.
“Estarei velhinha e ainda nessa função, porque é uma coisa maravilhosa, prazerosa. Meus filhos já estão crescidos, mas atendo essas crianças como se fossem os meus próprios filhos”, compara.
Texto: Thales Moreira/Secom
Edição: Vitor Necchi/Secom
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