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Nos 60 anos de elevação do Acre à categoria de Estado, conheça a saga do Movimento Autonomista liderado por José Guiomard Santos

Levantes de grupos prós e contras; correntes partidárias em constantes divergências de opinião; um comitê que pregava a autonomia, defendendo a nec...

15/06/2022 às 08h11
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Secom Acre
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Foto: Reprodução/Secom Acre
Foto: Reprodução/Secom Acre

Levantes de grupos prós e contras; correntes partidárias em constantes divergências de opinião; um comitê que pregava a autonomia, defendendo a necessidade dos acreanos tornarem-se iguais em direito e deveres aos demais brasileiros; e até a utilização de um jornal oficial para divulgar notícias, artigos e abaixo-assinados em favor da causa autonomista, são algumas das principais características da luta pela emancipação do Acre, que hoje completa seis décadas.

Palácio Rio Branco na década de 1950, um dos grandes símbolos da luta pela emancipação do Acre. Foto: Acervo/Centro de Documentação e Informação Histórica (CDIH)/Ufac
Palácio Rio Branco na década de 1950, um dos grandes símbolos da luta pela emancipação do Acre. Foto: Acervo/Centro de Documentação e Informação Histórica (CDIH)/Ufac

Se você acha que os embates políticos de hoje são, de longe, os mais polarizados da história do país, saiba que a elevação do Território do Acre à categoria de Estado – que nesta quarta-feira, 15, faz 60 anos – também foi marcada por uma das mais intensas disputas ideológico-partidárias que se tem notícia no desabrochar do século 20, no Brasil.

Colonos e seringueiros com o governador Guiomard Santos. Foto: Acervo Digital/Memorial dos Autonomistas
Colonos e seringueiros com o governador Guiomard Santos. Foto: Acervo Digital/Memorial dos Autonomistas

Nesta reportagem, utilizando-se dos estudos ricamente detalhados pela professora Maria José Bezerra, na sua tese de doutorado de 2006 para o Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), aAgência de Notícias do Acretraz os principais aspectos para compreender satisfatoriamente como foi o processo de elevação do Acre de Território a Estado, na tarde do dia 15 de junho de 1962, com a sanção da Lei n°4.070, pela caneta do então presidente João Goulart.

Da esquerda para a direita, Lydia Hammes Santos, Guiomard Santos, o presidente João Goulart e o primeiro ministro Tancredo Neves, na ocasião da sanção da Lei n° 4.070, de 15 de junho de 1962, que elevou o Acre a Estado. Foto: Acervo Digital/Memorial dos Autonomistas
Da esquerda para a direita, Lydia Hammes Santos, Guiomard Santos, o presidente João Goulart e o primeiro ministro Tancredo Neves, na ocasião da sanção da Lei n° 4.070, de 15 de junho de 1962, que elevou o Acre a Estado. Foto: Acervo Digital/Memorial dos Autonomistas

O discurso patriótico como arma de persuasão

Jornal O Acre, órgão oficial de imprensa do governo constitucional tornou-se, em 1950, aliado da propaganda pela elevação do Acre a Estado. Foto: cedida
Jornal O Acre, órgão oficial de imprensa do governo constitucional tornou-se, em 1950, aliado da propaganda pela elevação do Acre a Estado. Foto: cedida

“Acre livre e Brasil mais independente. Conterrâneos de coração, saímos do berço desassombradamente e aceleramos os nossos passos em busca de uma bandeira de liberdade para nossa terra, que é minha e que é tua. Saibamos honrar os méritos daqueles que tombaram pela independência deste rincão, num ardil golpe sem medirem consequência e desprendidos de paixões materiais. […] por um Acre livre, num Brasil mais independente”.

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Do artigo Exortação Cívica, no jornal O Acre, assinado por Raimundo Sales Vital no dia 19 de maio de 1957.

O texto acima é um de tantos outros lançados pelo Comitê Pró-Autonomia do Acre, grupo criado nos idos de 1956, segundo a professora Maria José Bezerra, com “caráter cívico, patriótico e ético”, aparelhado por Guiomard Santos para convencer os acreanos de que o Acre deveria tornar-se Estado.

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Hotel Chuí, na década de 1950, onde hoje é a sede da Prefeitura de Rio Branco, no centro da capital.  Foto: Acervo/CDIH/Ufac
Hotel Chuí, na década de 1950, onde hoje é a sede da Prefeitura de Rio Branco, no centro da capital.  Foto: Acervo/CDIH/Ufac

José Guiomard Santos, do Partido Social Democrático (PSD) foi governador do território entre 1946 e 1950, e eleito deputado federal logo em seguida, em 1951, tendo sido o maior defensor da elevação do Acre a Estado e obtido essa conquista.

Coronel do Exército boliviano Isaac Vasquez e membros do governo do Departamento de Pando, em cerimônia de entrega de medalha ao governador do Acre, Guiomard dos Santos, que também era major; Curiosamente, pela autonomia do Acre, Santos mencionava os feitos heroicos de Plácido de Castro contra os bolivianos para ganhar o Acre. Foto: Acervo/CDIH/Ufac
Coronel do Exército boliviano Isaac Vasquez e membros do governo do Departamento de Pando, em cerimônia de entrega de medalha ao governador do Acre, Guiomard dos Santos, que também era major; Curiosamente, pela autonomia do Acre, Santos mencionava os feitos heroicos de Plácido de Castro contra os bolivianos para ganhar o Acre. Foto: Acervo/CDIH/Ufac

Porém, para entender melhor um dos capítulos mais importantes da nossa história, é preciso compreender primeiro que, embora o Movimento Autonomista tivesse o hábito de colar à sua propaganda ideológica os feitos de Plácido de Castro – de que a elevação a Estado só honraria ainda mais a façanha dos bravos heróis da ‘Revolução Acreana’ -, a anexação do Acre como território nacional já não havia encontrado a simpatia das forças políticas que protagonizaram a ‘Revolução’, que dirá a elevação.

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Balsas de borracha descem o Rio Acre, próximas da Gameleira. Foto: Arquivo/Museu da Borracha
Balsas de borracha descem o Rio Acre, próximas da Gameleira. Foto: Arquivo/Museu da Borracha

É que “ao longo do processo da luta contra a Bolívia, [essas mesmas] forças políticas dividiram-se em vários grupos com projetos distintos para a região”, explica a professora.

Proprietários do Seringal Benfica, em Rio Branco (à direita) com oficiais dos vapores Arimos e Marcial e seringueiros. Foto: Revista O Malho
Proprietários do Seringal Benfica, em Rio Branco (à direita) com oficiais dos vapores Arimos e Marcial e seringueiros. Foto: Revista O Malho

“Havia aqueles, como Galvez, que defendiam a instauração de um regime republicano, porém subordinado à ‘mãe-pátria’ [o próprio Acre]. E alguns outros, mais ousados, com suas ideias separatistas, que também propunham a separação do Acre do território nacional, formando um novo país”, lembra Bezerra. E como exemplo prático, é “neste contexto que se insere o levante de 1910 em Cruzeiro do Sul, quando os seringalistas e comerciantes de maior peso econômico se rebelaram e depuseram as autoridades constituídas”, relata.

Grupo de oficiais do vapor Marcial no barranco do Porto Benfica, no Rio Acre, em Rio Branco. Foto: Revista O Malho
Grupo de oficiais do vapor Marcial no barranco do Porto Benfica, no Rio Acre, em Rio Branco. Foto: Revista O Malho

Nesta perspectiva, a instituição da condição de Território pelo governo federal torna-se um freio aomandonismodas forças políticas locais ante o poder nacional.

Os anos 1950, o petróleo do Moa e a visão do Juruá sobre a causa autonomista

Charge de jornal da época criticando ação do governo federal; na legenda acima, o anúncio de que o “governo expediu ordens terminantes para que sigam batalhões do Exército para o Acre, com fim de sufocar o movimento revolucionário n’aquela região”. Foto: Redalyc.org
Charge de jornal da época criticando ação do governo federal; na legenda acima, o anúncio de que o “governo expediu ordens terminantes para que sigam batalhões do Exército para o Acre, com fim de sufocar o movimento revolucionário n’aquela região”. Foto: Redalyc.org

Para reforçar seus ideais de um Acre elevado à condição de Estado, Guiomard Santos, então, organizou um bloco pró-autonomista de políticos locais que, em 1953, ele mesmo municiava com discursos, artigos na imprensa, abaixo-assinados, correspondências particulares, telegramas e relatos de debates sobre a luta pró-autonomista no âmbito do Território. Mas o que pensava-se ser uma causa do Acre como um todo acabou não incendiando todas as mentes, sobretudo os pensadores do Juruá.

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