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LAMPIÃO DA FEIRA – DEIXOU UMA HISTÓRIA DIGNA DE UM BELO ROMANCE

Sempre trajado como cangaceiro e repetindo, com candura, a paternidade de uma apresentadora de televisão que, maldosamente, teria sido afastada del...

21/02/2025 às 10h38
Por: Redação Fonte: Prefeitura de Feira de Santana - BA
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Foto: Divulgação - Arquivo ZMP
Foto: Divulgação - Arquivo ZMP

Sempre trajado como cangaceiro e repetindo, com candura, a paternidade de uma apresentadora de televisão que, maldosamente, teria sido afastada dele, Fidelis Marques dos Santos foi o Lampião da Feira, mas um homem de paz, extremamente diferente do verdadeiro Lampião (Virgolino Ferreira da Silva). Participou do filme “Foi Assim no Sertão” e teve um fim de vida triste, sem jamais poder realizar o sonho de se aproximar da estrela da TV que afirmava, veementemente, ser sua filha.

Tornou-se uma figura conhecida na cidade e até querida por muitos, principalmente aqueles mais sensíveis que o escutavam e lhe davam crédito. Lampião da Feira (Fidélis Marques dos Santos), natural de Jequié, mas feirense, como milhares de pessoas que chegam à cidade princesa e aqui ficam sob as graças de Senhora Santana. Meio violeiro, já que gostava de versejar com uma viola, foi para o Rio de Janeiro muito jovem em busca do futuro.

A construção civil abriu-lhe as portas, embora no fundo do coração circulasse outra arte: o cinema. E a oportunidade surgiu inesperadamente e até de forma hilária, como ele contava. Passava por determinado trecho da Cidade Maravilhosa e ficou sem entender nada. A rua estava fechada e uma multidão parada assistia a dois homens em luta corporal, desproporcional, já que um deles empunhava uma faca. Sem pensar duas vezes, entrou na briga, deu um empurrão no homem armado, tomando-lhe a ‘viana’ (peixeira), sob aplausos e risos do público.

“Tirem esse maluco daí, quem é esse doido? Vamos começar a cena de novo. Parem tudo!” Gritou um cidadão de camisa colorida que chegou correndo. Sem saber, Fidelis havia interrompido a tomada ou uma cena de um filme que retratava personagens do Nordeste e, enquanto um diretor reclamava, outro, ao vê-lo em ação, trajando chapéu de couro e gibão, chamou-o para conversar. Resultado: o baiano Fidelis Marques tornou-se ator, como sempre desejara, mas fazendo algumas pontas na película, representando um nordestino. Logo foi chamado ou batizado de ‘Lampião’.

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Em plena forma, também atuou como mergulhador e, na praia de Botafogo, foi ‘fisgado’ por uma loura bonita. Com Zenilda, a vida virou um conto de fadas. Moraram em uma favela (na época, não existia a violência de hoje) e depois se mudaram para Niterói, já que ele estava trabalhando na Ponte Rio-Niterói. Mas aí começou o infortúnio: um acidente na obra valeu-lhe uma forte pancada na cabeça. Meio ‘desorientado’, parou em um hospital e, quando teve alta, foi ‘embarcado’ para a Bahia, para se recuperar, deixando a mulher Zenilda e a filinha Angélica.

Restabelecido fisicamente, mas ainda ‘meio desajustado da cabeça’, como ele mesmo contava, voltou para o Rio de Janeiro meses depois (ele não lembrava o tempo exato) para reencontrar a mulher e a filha. Uma luta inglória. Queixava-se sempre que foi vítima de um golpe. A mulher teria registrado a filha em outro cartório, além do que já fora, mas com o sobrenome de um cidadão estrangeiro, e nunca lhe foi franqueado o direito de ver a menina, que seria Angélica, a apresentadora de televisão. Várias vezes ele voltou ao Rio de Janeiro e fez tudo o que podia para se aproximar dela, sem êxito. Provavelmente, sua aparência, depois do acidente, e seu estado de desequilíbrio, tenham contribuído diretamente para isso. A família da mulher impedia a aproximação dele. Mas a história contada por Fidelis era absolutamente crível.

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Radicado em Feira de Santana, ele participava de eventos folclóricos, rodas de samba e teve uma boa atuação no filme “Foi Assim no Sertão”, produzido pelo cineasta e ator Pedro Vieira, interpretando o papel do valente cangaceiro ‘Ouro Negro’. Vivendo só no bairro Campo Limpo, sem alimentação adequada e usando bebida alcoólica, na fantasia de um dia ainda poder ver a filha, o que não aconteceu, Lampião da Feira faleceu, deixando uma história digna de um romance, mas perfeitamente possível de ter sido verídica.

Por Zadir Marques Porto

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