Às vezes de forma tímida, mas ganhando espaço, as hortaliças não convencionais, também conhecidas como plantas alimentícias não convencionais (Pancs), têm ocupado mesas, bancadas das feiras livres e festivais gastronômicos, carregando tradições e memórias afetivas.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) desenvolve estudos científicos e promove o cultivo de hortaliças Panc com o objetivo de resgatar práticas alimentares, diversificar a produção rural e fortalecer a segurança alimentar.
Os trabalhos tiveram início no Campo Experimental de Santa Rita, em Prudente de Morais, o que impulsionou outros dois bancos genéticos estratégicos no estado, nos campos experimentais da Epamig em São João del-Rei e Oratórios.
Sara Regina, produtora rural, atua na terra de sua família, em Matozinhos, há 35 anos. Inspirada por suas tradições familiares, buscou apoio da empresa para aprender a identificar e cultivar as hortaliças Panc em sua propriedade.
“A Epamig trouxe orientações sobre as espécies. O que antes era visto como mato agora faz parte da minha alimentação. Além das informações, passei a receber acompanhamento técnico da Emater e Senar e incentivo para cultivar novas espécies, como a araruta, vinda de mudas disponibilizadas a partir dos estudos”, afirma a produtora.
Atuação em conjunto
Segundo a pesquisadora da Epamig Marinalva Woods, o diálogo com produtores rurais é essencial. “O produtor contribui com o seu conhecimento com a terra para junto da pesquisa. A partir desses saberes populares, trabalhamos para otimizar os sistemas de cultivo, aprimorar o produto final e difundir os resultados”, ressalta.
As hortaliças Panc integram projetos de pesquisa conduzidos pela Epamig, em parceria com instituições como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) , Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e universidades de Minas Gerais.
Hortaliças como taioba, azedinha, capuchinha e araruta fazem parte dos projetos de pesquisa, dividindo espaço com práticas de consorciação experimental, como o cultivo do milho junto ao feijão-mangalô.
Comercialização e educação alimentar
Segundo a Emater-MG (2023), 614 dos 853 municípios mineiros contam com feiras, sendo que 73% são realizadas semanalmente. Nelas, as hortaliças Panc marcam presença em pequena escala. A sazonalidade das espécies e o baixo interesse comercial ainda dificultam a regularidade da oferta.
Com o objetivo de mudar essa realidade, projetos como o “Feira com Ciência”, da Epamig, buscam conectar agricultores e consumidores.
O objetivo é incentivar a produção e comercialização das Pancs em feiras livres ao envolver diretamente agricultores e consumidores nesse ambiente. O projeto atua na difusão das hortaliças ao unir informações técnicas e distribuição de material para a sociedade.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) também tem potencial para ampliar o consumo de Pancs. Em Nova Lima, um trabalho da secretaria municipal de educação em parceria com a Emater-MG, proporciona aos alunos, acesso a essas hortaliças no cardápio da merenda escolar.
Além disso, iniciativas de turismo gastronômico, como o Festival de Ora-pro-nóbis, em Sabará, ajudam a popularizar as Pancs.
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, o resgate dessas plantas comestíveis ainda enfrenta desafios, como a falta de conhecimento do consumidor e a baixa escala de produção.
“Investir em pesquisa, educação e divulgação é essencial para inserir as hortaliças Panc na dieta da população, valorizar o patrimônio alimentar mineiro e fortalecer as relações com o meio ambiente”, conclui Marinalva Woods.
A Epamig é uma instituição vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) .
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