Uma mala de livros herdada do pai fez parte do despertar da escritora Monique de Magalhães, ainda na infância. O contato com clássicos da literatura nacional e internacional a ajudou a trilhar o caminho dos contos, romances e crônicas. No próximo dia 19, às 19h, será promovido o lançamento do segundo romance da escritora “Linha da Vida: a costura dos nós”, na Biblioteca Orlando Lima Lobo, na Praça São Félix de Valois, na Marabá Pioneira.
O livro foi lançado em São Paulo e, depois de Marabá, tem lançamento previsto para Belo Horizonte, em janeiro, onde Monique mora há 11 anos.
Nascida no Piauí, ela veio para Marabá aos 17 dias de vida. A família se estabeleceu na região a partir do garimpo. Apesar da habilidade com as letras, ela optou por ser engenheira agrônoma.
Inspirada pela escritora Conceição Evaristo e o conceito de “escrevivências”, Monique acredita em uma literatura baseada no viver e observar.
O livro narra histórias de personagens complexos que são traspassados por traumas e outras experiências. O desenrolar dos fatos busca compreender esses agentes tão diversos e encontrar respostas sobre como os comportamentos estão ligados às suas vivências.
“Eu fui fazendo uma costura de modo que o fio condutor do livro era o trauma. E todo personagem antagonista, depois era protagonista, ele tinha lugar de fala. Quando você lê cada capítulo, você vai achar que é um conto. Quando você terminar o livro, você vai falar ‘está todo mundo aqui’, é a história de todo mundo”, ressalta.
Dando um leve spoiler do livro, uma das personagens é Lindalva, que na adolescência foi raptada para se casar. Essa passagem da trajetória dela acaba por reverberar na vida dos filhos.
“Uma vez que a Lindalva foi raptada e ela cria os seus filhos normalizando esse tipo de relacionamento, todo mundo fica impactado e aí vem uma linha de trauma. É genealógica mesmo”, ressalta.
Aliás, o universo de fala e escuta feminina é uma das temáticas presentes nos trabalhos de Monique. Desde os 10 anos, ela escreve versos, poemas e pequenos trechos, mas sempre percebeu uma certa censura sobre o falar feminino.
“Um dos nossos primeiros escapes foram os diários e, mesmo assim, eram travados, tolidos. Os nossos diários precisavam ter cadeado e chave, né?! E aí, eu vi na literatura esse espaço de poder falar sem filtro”, afirma.
Depois dos primeiros poemas, a escritora se viu provocada a escrever contos a partir das redações da escola e resenhas de obras de Machado de Assis e Clarice Lispector, por exemplo.
O primeiro romance, “Tempo de isolamento”, veio depois dos 30 anos e em meio ao período de pandemia. Muito além de escrever, Monique buscava apresentar uma obra com sentido, assim como os autores que sempre gostou de ler e que a inspiraram, pois ainda tinha dúvidas sobre a própria habilidade.
“Eu acho que o autor precisa inspirar essa geração que está sentada recebendo entretenimento fácil, recebendo entretenimento líquido que em meia hora eles estão trocando o vídeo, não consegue deixar finalizar e a crônica te deixa mastigando aquela história por dias impactado por dias. Eu acho que é assim que eu quero fazer literatura”, comenta.
Em “Linha da vida: a costura dos nós”, a autora se inspirou também em uma técnica que pode ser utilizada por psicólogos para ajudar os pacientes a compreenderem as próprias histórias.
“Esse livro é uma provocação para que a gente possa entender que nem todo mundo é vilão. Ninguém nasce ruim, ninguém nasce errado. Ninguém é o que tem que ser. A gente é o que dá para ser. Olhar para as pessoas e para as práticas delas. Existem perversões, existem pessoas que cometem por prazer, mas existem pessoas adoecidas e a gente precisa ter acolhimento, entendimento. A gente precisa falar mais sobre os traumas, os transtornos das pessoas porque isso vai fazer a gente mais humano”, explica.
Monique de Magalhães finaliza lembrando que já lançou livros em outras cidades, mas foi em Marabá que sentiu mais afeto. Ela aproveita e deixa um convite.
“É com esse afeto que eu quero receber as pessoas aqui no dia 19, às 19 horas. Para a gente falar da vida e das palavras e da força que as palavras têm. Para a gente conversar, para a gente alar da nossa casa, da nossa arte”, conclui.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Patrícia Pereira (sob supervisão de Ronaldo Palheta)
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