Certificar, através de documento oficial da Fundação Palmares, a comunidade do Beco de Dola, localizado no bairro Pedrinhas, como Quilombo Urbano e Patrimônio de Memória Conquistense é o objetivo do processo de autorreconhecimento iniciado pela Prefeitura de Vitória da Comquista, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes).
Neste sentido, a Coordenação de Promoção da Igualdade Racial (Copir), da Semdes, que está à frente do processo, realizou um encontro, ontem (12), com membros da família de Maria Petronilia (Vó Dola, falecida em maio de 2006) para obter elementos que permitirão a construção dos documentos que serão encaminhados à Fundação Palmares.
Os representantes da família falaram sobre seus hábitos de alimentação, sua arte – como samba de roda e a escola de samba União do São Vicente -, o trabalho feito pela comunidade – como a quebra das pedras para vender, cata de café em fazendas da região, carregar água, empregada doméstica, diarista -, sua religiosidade – como candomblé e a romaria a Bom Jesus da Lapa e à gruta da Mangabeira; e a escolaridade.
Segundo Lais Gonçalves Sousa, neta de Dola, no último levantamento, realizado em 2010, os descendentes dela, já somavam mais de 300 pessoas naquela época, mas este número é muito maior hoje. Para Laís, o reconhecimento é uma forma de honrar a história de sua vó.
“Além do reconhecimento do Estado, a nossa alegria é saber que a memória de Vó Doula continuará viva, que a estrela dela nunca vai deixar de brilhar, que a estrela dela sempre vai existir em cada canto, que qualquer pessoa que procurar saber, olhar na internet, vai saber da história de vida de vó Dola e da resistência que somos”, ressaltou Lais.
O processo de certificação deve durar, no máximo seis meses, e depende da vontade da comunidade, manifestada em uma carta que será encaminhada à Fundação Palmares.
Com o reconhecimento, além da preservação da memória, a Coordenação de Promoção da Igualdade Racial busca alcançar alguns objetivos específicos: tornar visível a comunidade do Beco de Dola e a sua importância e presença na memória fundadora da cidade; permitir visibilidade por parte do poder público, através de documento legítimo certificando sua importância social e o fato de estar habilitada a receber recursos, ações e políticas públicas para a sua manutenção e a manutenção dos seus costumes; iniciar um debate com a população sobre a importância do tombamento daquela comunidade pelo IPHAN ou IPAC, considerando o seu protagonismo na construção de uma ideia de sociedade conquistense, principalmente através das suas participações nos carnavais a partir dos anos 1950 até os anos 1980; abrir caminhos para contatos mais estreitos entre a academia e as comunidades periféricas, numa relação de colaboração mútua; estreitar as relações entre poder público e comunidades periféricas, minimizando conflitos e apresentando alternativas de intervenções participativas.
O processo de certificação deve durar, no máximo seis meses, e depende da vontade da comunidade, manifestada em uma carta que será encaminhada à Fundação Palmares.Atualmente, Vitória da Conquista conta com 20 quilombos reconhecidos pela Fundação Palmares. Em 2004, o Governo Municipal chegou a identificar 42 comunidades e até 2012 foram certificadas 20. Mas, esta é a primeira vez que o autorreconhecimento está sendo realizado pela Semdes e é o primeiro reconhecimento de um quilombo urbano, de acordo com o historiador e técnico da Copir, Afonso Silvestre.
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