Foto: Aires Mariga
Atualmente as pesquisas da Estação têm como foco a fruticultura de clima temperado e a olericultura
A Estação Experimental da Epagri em Caçador (EECd) é responsável pelo consumo de variedades de maçã catarinenses no mundo todo ; é pioneira do Brasil no Sistema de Produção Integrada de Tomate Tutorado (Sispit); é responsável pelo desenvolvimento da primeira variedade de trigo do País e é referência na produção de alho livre de vírus. Com esse currículo, a unidade completa 85 anos de pesquisa em 2023 homenageando o agrônomo José Oscar Kurtz, que foi o primeiro presidente da Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária (Empasc), precursora da Epagri. A unidade de pesquisa vai receber o nome de Kurtz em cerimônia nesta quinta-feira, 26, às 14h.
De acordo com o Balanço Social da Epagri, em 2022 as tecnologias e ações da Empresa geraram para a sociedade catarinense a cifra de R$4,39 bilhões. Deste total, 12,6% vieram de tecnologias desenvolvidas pelos pesquisadores da Estação Experimental de Caçador, o que equivale a R$551,6 milhões. “Além disso, os royalties arrecadados com comercialização de cultivares de maçã em países europeus geraram cerca de R$870 mil para a Epagri, o que nos permitiu investir em mais pesquisas”, revela o gerente da EECd, Anderson Luiz Feltrim.
Segundo o presidente da Epagri, Dirceu Leite, a Estação é um centro de disseminação de conhecimento que beneficia agricultores e comunidades locais. “A pesquisa realizada em Caçador contribui para a segurança alimentar, a sustentabilidade agrícola e o crescimento econômico da região e do País. É uma instituição de grande relevância para o setor agropecuário e para a sociedade, que teve importante participação do pesquisador J osé Oscar Kurtz ”, salienta.
José Oscar Kurtz
Falecido em 2022 aos 84 anos, Kurtz é considerado um dos pioneiros no desenvolvimento da pesquisa agropecuária de Santa Catarina. Participou da criação e foi o primeiro presidente da Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária (Empasc), precursora da Epagri. Também foi o primeiro gerente da EECd.
A Empasc se transformou em um marco divisório na pesquisa catarinense. Antes da criação dessa instituição de pesquisa, as produções de inúmeras culturas eram inexpressivas no Estado, como é o caso da maçã que saltou de 5 mil quilos por hectare para mais de 40 mil kg/ha.
“A visão inovadora de José Oscar Kurtz na pesquisa possibilitou ganhos expressivos na agropecuária catarinense. A trajetória dele o credencia a receber a singela homenagem da Epagri em dar o seu nome à Estação Experimental de Caçador”, diz Feltrim.
O começo
A EECd nasceu em 1938 como uma unidade de pesquisa do Ministério da Agricultura. Entre 1972 e 1975 passou a fazer parte da estrutura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Em 1975 foi incorporada pelo Estado, compondo a Empresa de Pesquisa Agropecuária de SC (Empasc), que na década de 1990 se uniu a outras instituições estaduais para criar a Epagri.
A unidade foi fundada com o objetivo de incentivar a cultura do trigo em Santa Catarina e fortalecer a meta do governo da época, que era fazer com que o Brasil não dependesse tanto das importações do grão. Ela foi a responsável pelo desenvolvimento da primeira variedade de trigo do País. Com o passar dos anos, a vocação agrícola da região mudou e as linhas de pesquisa foram sendo adaptadas para atender às novas demandas, como estudos com grãos, hortaliças, adubos verdes e fruticultura. Na metade da década de 1970 começaram as primeiras pesquisas com maçã e nos anos seguintes com olericultura (alho, cebola e tomate).
Focos da pesquisa e estrutura
Atualmente as pesquisas da EECd têm como foco a fruticultura de clima temperado e a olericultura. Na fruticultura são desenvolvidos melhoramento genético da macieira , manejo de plantas e tecnologias para conservação de maçãs pós-colheita. Em olericultura, a unidade faz pesquisas em tomate, alho, cebola, morango e manejo de plantas.
Para esse trabalho, a Estação conta com uma equipe de 14 pesquisadores e outros profissionais de apoio, num total de 38 funcionários. Conta com oito laboratórios que prestam serviços à sociedade e desenvolvem análises para pesquisas, como por exemplo o de ensaio químico, que faz análise de folhas de diversas plantas e da polpa da maçã, e os de cultura de tecidos, biotecnologia, fitopatologia, entomologia, pós-colheita, melhoramento genético e defensivos.
Maçã
A EECd é a única do país a trabalhar com melhoramento genético da macieira. Em 2022 três variedades de maçã desenvolvidas na unidade passaram a ser comercializadas no mundo sob a marca Sambóa: Luiza, Venice e Isadora.
Até 2023 já foram lançados 32 cultivares de maçã de alta qualidade, adaptados ao nosso clima, resistentes a doenças e com alta produtividade. Um dos destaques mais recentes é a cultivar Gala Gui, que possui resistência à mancha da gala, umas das principais doenças da maçã.
As pesquisas com maçãs desenvolvidas pela estação experimental possibilitaram ao Estado de Santa Catarina sair de zero produção para o maior produtor da fruta no Brasil, com aproximadamente 1 milhão de toneladas por ano, o que representa um valor de mercado de aproximadamente R$7 bilhões.
Tomate
Ao longo de sua trajetória, a unidade tornou-se pioneira do Brasil no Sistema de Produção Integrada de Tomate Tutorado (Sispit). A tecnologia iniciou na década de 1990 e possibilitou uma redução de custo em aproximadamente 50% quando comparado ao cultivo tradicional, principalmente com o desenvolvimento do sistema de alerta de doenças, que também trouxe uma economia de até 50% no uso de defensivos.
“Neste contexto podemos incluir a maçã e o alho, que também reduziram o uso de defensivos com o uso do sistema de alerta. Isso também significa que estamos produzindo um alimento mais saudável e com segurança ambiental”, salienta Feltrim.
Alho
Santa Catarina é o berço nacional da cultura do alho. Devido à estação de Caçador, o Estado segue até hoje como referência em produção e pesquisa nessa cadeia produtiva.
A cadeia foi impactada positivamente pelas tecnologias desenvolvidas pela EECd. Em 1980 a produtividade dos cultivos na região era de 4 toneladas por hectare e hoje com a seleção de cultivares e a limpeza de vírus chega a 18 toneladas por hectare.
O futuro
Com 85 anos de história, a Estação Experimental da Epagri em Caçador tem uma trajetória rica em contribuições para o desenvolvimento agrícola e agropecuário. No entanto, os desafios para os próximos 85 anos são igualmente significativos. Dentre eles, Feltrim cita o desenvolvimento de variedades agrícolas mais resistentes e sustentáveis diante de eventos climáticos extremos.
“Aliado a isso, precisamos acompanhar as mudanças nos mercados globais e auxiliar os agricultores na produção de produtos competitivos para exportação, a exemplo de nossa maçã”, destaca o gerente. “Para isso, também é importante garantir que os produtores tenham acesso às mais recentes inovações e técnicas de produção”, diz ele.
Feltrim ressalta que toda tecnologia gerada não pode perder de vista a manutenção da segurança alimentar e a preservação da diversidade genética de plantas e animais e sua adaptação às condições ambientais. “Com uma dedicação contínua à pesquisa e à inovação, a Estação Experimental de Caçador está bem posicionada para enfrentar os desafios dos próximos 85 anos e continuar a desenvolver um papel vital no desenvolvimento agrícola do Estado de Santa Catarina e do Brasil”, finaliza o presidente Dirceu Leite.
Serviço
O que: cerimônia de descerramento da placa comemorativa aos 85 anos da Estação Experimental da Epagri em Caçador e sua renomeação como Estação Experimental “José Oscar Kurtz”
Quando: dia 26 de outubro, quinta-feira, a partir das 14h
Onde: Rua Abilio Franco,1500, Bairro Bom Sucesso – Caçador, SC
Informações e entrevistas: Anderson Luiz Feltrim, gerente da unidade, pelos fones (49) 99947-7552/ 3561-6800
Informações para a imprensa:Isabela Schwengber, jornalista. Fones: (48) 3665-5407 / 99167-3902
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