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Modelos de remuneração na saúde enfrentam mudanças

O pagamento baseado em valor representa uma mudança paradigmática que pode potencialmente melhorar a qualidade dos cuidados de saúde no Brasil. No ...

11/10/2023 às 17h21
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Agência Dino
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A saúde suplementar brasileira, composta por planos de saúde privados oferecidos pelas Operadoras de Saúde, desempenha um papel fundamental no sistema de saúde do país, atendendo a mais de 50 milhões de brasileiros, de acordo com as informações periódicas divulgadas pela ANS. No entanto, a maneira como os serviços de saúde são remunerados tem sido alvo de debate e reforma nos últimos anos. Nesse aspecto, um modelo que tem ganhado destaque é o de Remuneração Baseada em Valor, em contraposição ao tradicional pagamento por serviço prestado. 

Historicamente, o modelo de pagamento por serviço tem sido o padrão na saúde suplementar brasileira. Nesse sistema, os prestadores de serviços de saúde, como hospitais, médicos e clínicas, são pagos com base na quantidade de procedimentos realizados. Isso significa que quanto mais procedimentos são feitos, mais os profissionais e instituições de saúde recebem. Essa modelagem cria incentivos para o volume de serviços, o que pode levar a procedimentos desnecessários e custos inflados.

De acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2021, 91% dos planos de saúde no Brasil ainda utilizavam o modelo de pagamento por serviço como sua principal forma de remuneração. Isso levanta preocupações sobre o desperdício de recursos e a falta de foco na qualidade e eficiência dos cuidados de saúde. Além de ser responsável pelo aumento substancial das mensalidades cobradas, afetando o beneficiário final.

O modelo de Remuneração por Valor, por outro lado, busca mudar esse paradigma. Nesse sistema, os prestadores de serviços de saúde são pagos com base na qualidade dos cuidados prestados e nos resultados obtidos pelos pacientes, ao contrário de apenas na quantidade de exames ou procedimentos realizados. Esse modelo promove a prestação de cuidados eficazes e de alta qualidade, com um foco maior na prevenção e na coordenação dos cuidados ao paciente (que passa a ser o foco central do tratamento). Ainda segundo informações da ANS, em 2021, apenas 9% dos planos de saúde utilizavam o modelo de Remuneração por Valor, mas esse número tem aumentado gradualmente à medida que os benefícios desse sistema se tornam mais evidentes. 

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Segundo o Guia para Implementação de Modelos de Remuneração baseados em valor, da ANS, os pagamentos baseados em valor incentivam a inovação, a colaboração entre os profissionais de saúde e uma abordagem mais centrada na saúde do paciente. Entre as vantagens, algumas merecem maior destaque. Ênfase na qualidade: Os prestadores de serviços de saúde são incentivados a oferecer cuidados de alta qualidade, focados nos resultados dos pacientes e a melhorar o diagnóstico de enfermidades, colaborando para um desfecho de maior resolutividade. Redução de desperdício: menos incentivos para procedimentos desnecessários podem levar a uma redução de custos e desperdício de recursos, reduzindo os reajustes anuais de mensalidades que hoje são preocupantes. Melhor coordenação de cuidados: o modelo promove a coordenação entre diferentes profissionais de saúde, melhorando a continuidade dos cuidados e o acompanhamento, por exemplo, de doentes crônicos. Desfecho para o paciente: os pacientes tendem a receber cuidados mais personalizados e apropriados às suas necessidades, com tratamentos sob demanda, aumentando a satisfação geral com o plano médico adquirido.

Segundo Andrea Mente, sócia e atuária da ASSISTANTS Consultoria, “embora o modelo de Remuneração por Valor ofereça benefícios significativos, sua implementação não é isenta de desafios. A transição pode ser complexa, exigindo mudanças nas práticas de pagamento, na infraestrutura de TI, na cultura dos prestadores de serviços e, acima de tudo, na legislação vigente”, destaca.

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Para Andrea, “além disso, é importante garantir que os indicadores de qualidade sejam relevantes e justos, de modo a não criar incentivos distorcidos. A avaliação constante e o refinamento do modelo são essenciais para o seu sucesso a longo prazo”, lembra a especialista.

A adoção do pagamento por valor na saúde suplementar brasileira é baseada em evidências sólidas de outros sistemas de saúde ao redor do mundo. Os Estados Unidos são um exemplo de um país que está fazendo a transição para o pagamento por valor em saúde. Uma das iniciativas mais conhecidas é o "Medicare Access and CHIP Reauthorization Act" (MACRA), que promove a transição de um sistema de pagamento predominantemente baseado em fee-for-service (pagamento por serviço) para um sistema que valoriza a qualidade e a eficiência dos cuidados. O MACRA introduziu o sistema de pagamento conhecido como "MIPS" (Merit-Based Incentive Payment System) e o "Advanced Alternative Payment Models" (APMs), incentivando os médicos a melhorar a qualidade do atendimento e a reduzir custos.

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O sistema de saúde do Reino Unido, o NHS (National Health Service), também tem adotado o pagamento por valor como parte de sua estratégia para melhorar a qualidade e a eficiência dos cuidados. Iniciativas como o "Quality and Outcomes Framework" (QOF) recompensam os médicos com base no desempenho em indicadores de qualidade, como o controle da pressão arterial e a prevenção de doenças cardíacas. Além disso, o NHS está implementando modelos de pagamento por valor em áreas como cuidados hospitalares e cuidados integrados.

"O pagamento baseado em valor representa uma mudança paradigmática que pode potencialmente melhorar a qualidade dos cuidados de saúde no Brasil. No entanto, sua implementação enfrenta desafios complexos, que vão desde a infraestrutura tecnológica até questões culturais e regulatórias. Superar esses obstáculos requer uma abordagem colaborativa entre profissionais de saúde, hospitais, operadoras e autoridades regulatórias, buscando um equilíbrio entre a busca pela excelência e a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar", conclui Andrea.

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