A substituição energética de combustíveis fósseis por fontes sustentáveis vai criar novos mercados que guardam oportunidades de investimento: de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil deve ampliar sua capacidade de geração de energia em 83% nos próximos anos com os renováveis. O tema está na agenda do governo federal, que acaba de lançar o Projeto de Lei do Programa Combustível do Futuro, com o objetivo de promover a mobilidade sustentável de baixo carbono.
Muito além dos carros elétricos e dos biocombustíveis, há diversos estudos com veículos híbridos – elétrico/etanol, elétrico/gás –, veículos com células de combustível a etanol, motorização a hidrogênio e inclusão do diesel verde (HVO) na matriz. Construir essa nova realidade requer investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para as motorizações e adaptação dos veículos em si, das linhas de produção, em alguns casos com a adaptação de refinarias, novas unidades de produção de combustível e criação de cadeias de suprimento.
“Hoje, o cenário ainda está indefinido, com estudos pulverizados, o que representa oportunidades: quem conseguir desenvolver o modelo de energia renovável mais aderente à realidade brasileira vai efetivamente liderar este movimento. Há dois fatores essenciais para o desenvolvimento deste mercado: a regulamentação das novas fontes renováveis pelo poder público e estudos aprofundados, que avaliem os cenários futuros para a entrada de novas fontes de energia e embasem um planejamento assertivo dos investimentos neste setor”, explica Marcus D´Elia, sócio-diretor da Leggio Consultoria, especializada em Petróleo, Gás e Energia Renovável.
Estudo indica substituição energética em duas ondas distintas
Para aprofundar o tema, a Leggio Consultoria realizou um estudo que apontou uma substituição energética gradual do diesel para fontes de energia limpa, que ocorrerá em duas ondas distintas, até a década de 2060. O trabalho foi desenvolvido através de metodologia própria da Leggio Consultoria, que adota tecnologias avançadas para cruzar informações de um robusto banco de dados – com informações estratégicas, tanto públicas como privadas – através de modelagens matemáticas desenvolvidas especificamente para o segmento. As projeções consideram a dinâmica de mercado das cadeias de suprimento do setor, projetos futuros já previstos, como novas unidades de produção em construção, e o impacto da regulação no segmento. Este estudo avaliou diferentes possibilidades de substituição energética, ou seja, novas tecnologias de motorização e de combustíveis para as aplicações atuais.
As projeções indicam que o máximo de consumo para diesel ocorrerá na década de 2040, no cenário apresentado em 2047, pois o crescimento do transporte de produtos e passageiros seguirá ocorrendo no país, assim como o uso em equipamentos agrícolas, responsáveis por cerca de 80% e 15% do consumo, respectivamente. Além disso, as formas de motorização neste período ainda utilizarão o diesel com intensidade, mesmo com a obrigação de compensar suas emissões de carbono. Após o ponto máximo espera-se que a redução de consumo ainda seja gradual, em função da velocidade de entrada de novas tecnologias que buscarão emissão zero.
“Portanto, a expectativa é que haja duas ondas distintas para substituição energética do diesel, na primeira onda, até a década de 2040, a substituição energética do diesel terá como principal propósito a redução parcial das emissões de CO2 associada a instrumentos de compensação de emissões no transporte. Em uma segunda onda, a introdução de novas motorizações com o objetivo de eliminar as emissões de CO2 deverá prevalecer, impondo o uso de outras soluções tecnológicas que irão se consolidar ao longo da década de 2040 para introdução com maior intensidade na década de 2050”, explica Marcus D´Elia.
Neste caso, mesmo no longo prazo, a preocupação com a garantia do suprimento de diesel se renova. A formulação de políticas públicas que venham a garantir a substituição energética esperada nas duas ondas no período de 2025 – 2060 deverá ser o principal instrumento utilizado para solucionar a questão da demanda por diesel no longo prazo, reduzindo efetivamente seu consumo mesmo com o aumento da movimentação de produtos e produção agrícola. A curva original apresentada na projeção indica um crescimento de 48% no período, caso se mantenham as condições de mercado e regulatórias atuais, valores que aumentariam substancialmente o risco de suprimento para o país.
Ações necessárias
Considerando o cenário apresentado, o especialista listou seis ações necessárias para iniciar a primeira onda de substituição energética por tipo de aplicação, reduzindo o consumo de diesel A, que seriam:
1- Incentivos ao desenvolvimento e maior participação de biocombustíveis (biodiesel e HVO) no transporte de cargas e passageiros;
2- Incentivo para a migração da frota de veículos de carga e passageiros em longa distância para motorizações híbridas;
3- Incentivo para migração da frota de caminhões leves em aplicação urbana para motorizações elétricas ou híbridas;
4- Incentivo para migração da frota de ônibus urbanos para motorizações elétricas ou híbridas.
5- Incentivo para migração da frota de equipamentos agrícolas para motorizações a biometano.
6- Definição de metas de descarbonização para o transporte rodoviário de cargas e passageiros, individualizada e por percurso realizado.
“No caso da segunda onda de substituição energética do diesel, que deverá ocorrer somente a partir da década de 2040, o incentivo a tecnologias plenamente comerciais neste período que garantam a emissão zero de CO2 para transporte rodoviário e para equipamentos agrícolas deverá ser o último grupo de medidas que efetivamente levará à redução do consumo de diesel, finalizando o processo de substituição do produto, que será gradual ao longo das décadas seguintes”, indica D´Elia.
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