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Caixeiro-viajante - um acelerador do progresso do país

Caixeiros-viajantes. Talvez os mais jovens nem imaginem quem seriam eles ou o que faziam. Mas, assim como os vaqueiros e boiadeiros, eles contribuí...

30/01/2025 às 10h43
Por: Redação Fonte: Prefeitura de Feira de Santana - BA
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Foto: Divulgação - Redes Sociais
Foto: Divulgação - Redes Sociais

Caixeiros-viajantes. Talvez os mais jovens nem imaginem quem seriam eles ou o que faziam. Mas, assim como os vaqueiros e boiadeiros, eles contribuíram muito para acelerar o progresso do país, com tropas de animais, levando mercadorias a locais distantes montados em burros e cavalos. Na formação de Feira de Santana e região, eles estiveram presentes.

Correria. Uma palavra que garantiu lugar no vocabulário atual como a expressão que melhor retrata a vida cotidiana do cidadão. Tudo é feito com rapidez, buscando resultados imediatos. Nada de perder tempo. Com a globalização, a internet, o telefone celular e, mais recentemente, a inteligência artificial, a vida ganhou velocidade inesperada. Hoje, adquirir algo é tão simples quanto beber água. Há uma diferença extraordinária comparando-se ao tempo do caixeiro-viajante, sobre o qual alguns mais jovens talvez nem tenham ouvido falar.

Mas vale lembrar que, no final do século XIX e início do século XX, quando começou o desenvolvimento da região a partir do expressivo desenvolvimento da cidade que viria a ser a atual metropolitana Feira de Santana, a vida tinha um ritmo absolutamente diferente. Vindas do interior do Piauí, com destino a Minas Gerais e Goiás, imensas boiadas por aqui passavam, num percurso que durava semanas e até mais de um mês, dependendo principalmente de fatores climáticos.

Mas havia também os tropeiros, ou caixeiros-viajantes, na sua missão de levar mercadorias, novidades, para as pequenas cidades do interior, e isso não era só neste estado, já que o sistema era utilizado em todo o país. Os caixeiros-viajantes da Bahia saíam de Salvador, onde era possível encontrar as mais interessantes mercadorias – tecidos, calçados, perfumes, bebidas, cigarros, bijuterias, doces, chapéus, leques, enfim, tudo que existia na época e chegava em navios para abastecer a população baiana. Viajando de vapor (navio), eles chegavam à cidade de Cachoeira, a mais importante do Recôncavo; ali começava a verdadeira tarefa.

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Em Cachoeira, uma tropa de burros e mulas já esperava cada um dos caixeiros-viajantes que iria cumprir o roteiro predeterminado. O empresário do segmento comercial e historiador Dázio Brasileiro Filho tem um relato interessante que lhe foi feito por seu pai, Dázio Brasileiro. “Viajávamos em grupo durante muitos dias, no lombo de um animal, até chegar à localidade pretendida. Tínhamos um cozinheiro e um carregador – encarregado de carregar e descarregar os animais –, e o tropeiro que cuidava dos animais.”

Chegando à cidade agendada, o caixeiro-viajante ficava em uma pensão, onde tomava banho, vestia-se bem, colocando paletó e gravata, um elegante chapéu e sapatos impecavelmente polidos, e saia para visitar clientes tradicionais e, sempre que possível, conquistando novos. No dia seguinte, ele permanecia na pensão com o mostruário exposto, aguardando a presença de clientes. O terceiro dia de permanência na cidade era destinado a fazer visitas àqueles comerciantes que demonstraram interesse em algum artigo exposto no mostruário. Eram preenchidos os pedidos de forma cuidadosa para que não houvesse erro na hora da emissão e, naturalmente, um forte aperto de mão, com o ‘volto breve’.

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No quarto dia, a tropa descansada saía com destino a outra cidade, onde haveria o mesmo processo, o mesmo ritual. Depois de cumprir o roteiro durante 30 dias, às vezes até mais, o caixeiro-viajante retornava com o grupo para a cidade de Cachoeira, de onde viajava para Salvador. Na capital baiana, era feito o relato da viagem e apresentados os pedidos à firma que ele representava.

De posse dos pedidos, a firma vendedora providenciava a entrega das mercadorias, o que era feito mediante o mesmo processo, através de uma tropa que saía do porto de Cachoeira. Um detalhe é que, entre o pedido feito e a entrega da mercadoria, transcorriam de 30 a 45 dias, quando tudo corria bem. Hoje, mediante o avanço tecnológico, o pedido é feito comodamente, através de um telefone celular, faturado e despachado de forma imediata, podendo ser entregue em poucas horas, no mesmo dia, dependendo apenas da distância.

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Era importante o trabalho realizado pelos caixeiros-viajantes, percorrendo enormes distâncias montados em mulas ou cavalos, em estradas de barro irregulares, em locais às vezes inóspitos, para levar mercadorias indispensáveis à população e novidades que eram aguardadas com extrema expectativa. A presença de um caixeiro-viajante também significava muito mais, já que ele levava notícias que, para chegar às comunidades distantes, demoravam um tempo muito grande. E, para as mocinhas interioranas, às vezes podia significar um futuro casamento.

Por Zadir Marques Porto



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