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Desenvolver fármacos contra a COVID-19 ainda é crucial para enfrentar a pandemia

Mesmo com vacinas, é essencial evitar o agravamento dos casos e tratar surtos futuros causados por outros coronavírus, avaliam pesquisadores

29/04/2022 às 14h15
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Secom Estado de São Paulo
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Foto: Reprodução/Secom Estado de São Paulo
Foto: Reprodução/Secom Estado de São Paulo

Ainda que as vacinas tenham reduzido de forma significativa os casos de COVID-19, medicamentos antivirais e outros capazes de bloquear respostas imunes exacerbadas no organismo ainda são fundamentais para salvar vidas. O reposicionamento de fármacos já usados contra outras doenças e o desenvolvimento de novas entidades químicas são os dois caminhos possíveis para chegar a esse objetivo.

O assunto foi tema do webinário “Fármacos Promissores contra a COVID-19”, realizado em 25 de abril no âmbito do Ciclo ILP-FAPESP de Pesquisa e Inovação. A iniciativa tem o objetivo de divulgar a legisladores, gestores públicos e à sociedade em geral os avanços das pesquisas científicas financiadas com recursos públicos.

“A vacinação é fundamental, precisa continuar para evitar a infecção. Mas precisamos de fármacos também, pois os imunizantes não são suficientes. As pessoas ainda ficam doentes de COVID-19. A farmacoterapia para vírus respiratórios tem sido em geral malsucedida. Para além das variantes conhecidas [do SARS-CoV-2], existe o fator da resistência aos antivirais. E existem muitos outros coronavírus que nunca desapareceram”, ressaltou Carlos Alberto Montanari, professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) durante sua apresentação.

O pesquisador relatou os avanços de um projeto, financiado pela FAPESP, que busca inibidores para a 3CLpro, principal protease do SARS-CoV-2, essencial para o desenvolvimento do vírus.

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“Utilizamos aprendizado de máquina e selecionamos 702 substâncias químicas que estão sendo testadas no nosso laboratório contra essa protease. Em paralelo, estabelecemos a hipótese de que elas poderiam ser testadas diretamente no próprio vírus e 72 delas foram ativas”, contou.

Uma infraestrutura instalada de pesquisa é fundamental para esses estudos, como ressaltou Rafael Guido, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP).

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Em uma das etapas do projeto “Desenvolvimento de antivirais para o tratamento da COVID-19”, o grupo do qual Guido faz parte foi o primeiro a utilizar os recursos do Sirius, o novo acelerador de partículas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

Graças à luz síncrotron do Sirius, foi possível determinar a estrutura de mais de 200 cristais de duas proteínas do SARS-CoV-2 e obter candidatos a medicamentos antivirais (leia mais em: https://agencia.fapesp.br/34396/).

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Guido é integrante do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.

No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), uma das linhas de pesquisa lideradas por Cristiane Guzzo também envolve a protease 3CLpro. Com auxílio de ferramentas de inteligência artificial, o grupo fez a triagem virtual de mais de 11 mil medicamentos. O objetivo foi encontrar inibidores da protease viral.

“O uso dessas técnicas trouxe alguns possíveis fármacos. Vamos testar a eficiência dos sete mais promissores em ensaios laboratoriais”, disse.

Regular a defesa

Coordenador de outro CEPID da FAPESP, Fernando de Queiroz Cunha, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), mostrou como um mecanismo imunológico contribui para o agravamento dos quadros de COVID-19.

Ainda no início da pandemia, o grupo liderado por ele no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) mostrou o papel das chamadas NETs (sigla em inglês para “rede extracelular liberada por neutrófilos”) no agravamento das infecções (leia mais em: agencia.fapesp.br/33435/).

O pesquisador já estudava o papel das NETs na sepse e mostrou como elas afetam os pulmões de alguns pacientes com COVID-19. Em algumas situações extremas, as células imunes conhecidas como neutrófilos morrem e o material de seu núcleo é lançado para o meio externo na forma de redes, que são tóxicas tanto para os patógenos quanto para as células humanas.

O pesquisador mostrou como dois medicamentos já disponíveis no mercado podem ser eficazes para brecar essa resposta imune exacerbada e evitar o agravamento da COVID-19.

“Esses medicamentos abrem a perspectiva de que, além das vacinas e dos fármacos que matam o vírus, sejam desenvolvidas estratégias que levam à proteção do organismo, inibindo a liberação dos mediadores inflamatórios”, disse.

As duas drogas, uma usada para tratamento de alcoolismo e outra para fibrose cística, atualmente estão em ensaios clínicos fora do Brasil para COVID-19. O seminário foi mediado por Horácio Forjaz, gerente de Relações Institucionais da FAPESP. Para assistir ao evento na íntegra, acesse: https://youtu.be/kLvPtScVURk.

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