Atuação da fonoaudiologia em cuidados paliativos enfatiza a deglutição e a comunicação
A Fonoaudiologia é uma das áreas multidisciplinares que integra os cuidados paliativos, abordagem que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças graves e progressivas que ameaçam a vida. De forma abrangente, os profissionais da área atuam em hospitais da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), principalmente no cuidado com a comunicação e a deglutição de pacientes.
A fonoaudióloga do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), Nathaly Basilio, explica que, no contexto hospitalar, muitos pacientes não conseguem estabelecer uma comunicação verbal efetiva. “É o caso daqueles traqueostomizados que permanecem dependentes de ventilação mecânica. Nesses casos, trabalhamos com comunicação alternativa, buscando meios que permitam ao paciente se expressar, mesmo que de forma não verbal”, explica.
O trabalho do fonoaudiólogo também se concentra na deglutição, principalmente de pacientes que não têm condições de se alimentar por via oral ou só conseguem ingerir alimentos em determinadas consistências. O profissional atua ainda no auxílio às chamadas dietas de conforto.
“Diferente da alimentação voltada para fins terapêuticos ou curativos, a alimentação de conforto prioriza os desejos, preferências e bem-estar do paciente. Analisamos a segurança das consistências alimentares desejadas pelo paciente e, quando viável, oferecemos o que ele deseja, mesmo que sejam necessárias estratégias de compensação para prevenir complicações, como broncoaspiração”, explica a fonoaudióloga Nathaly Basilio.
Cássia Fonteles acompanha as orientações da fonoaudióloga Nathaly Basilio
Internada no Helv, unidade da Sesa, Maria Nilce, 86, foi diagnosticada com um problema grave no coração. Ela tem também uma obstrução no esôfago que dificulta a alimentação. Devido à idade e ao estado geral dela, os médicos descartaram qualquer tipo de intervenção cirúrgica, encaminhando a paciente para os cuidados paliativos e uma dieta de conforto.
Cássia Fonteles, 55, cunhada da paciente, diz que no começo achava que cuidados paliativos eram só para quem tinha câncer. “Não entendia direito o que significava. Mas os médicos foram explicando e conversando com a gente. Descobri que é sobre oferecer conforto, respeitar os limites e garantir o bem-estar dela”, afirma. A acompanhante diz que a cunhada tem recebido bem a dieta de conforto, apesar de às vezes sentir náuseas. “Ela come pequenas quantidades, como a fonoaudióloga explicou. Pede muita laranja, maçã e sopa”, disse.
Parte da abordagem em cuidados paliativos, Fonoaudiologia dá atenção especial às necessidades de cada paciente
No Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), unidade da Sesa localizada em Messejana, o atendimento aos pacientes em cuidados paliativos internados na unidade, também recebe o reforço do profissional de Fonoaudiologia. A fonoaudióloga Maria Inês Costa, que atua na UTI Adulto, explica que o principal intuito é proporcionar o conforto, bem-estar e segurança quanto à alimentação e comunicação, para que o paciente possa interagir com a equipe, familiares e amigos.
“Geralmente nossa atuação é voltada para proporcionar uma alimentação segura, minimizando os riscos de broncoaspiração e/ou desconforto respiratório, podendo ser feito por adequação de consistências, mudança de posturas corporal e/ou cabeça, assim como na indicação da via alimentar mais eficiente para o paciente”, detalha.
A profissional diz ainda que essas modificações e indicações são individuais, cada paciente tem sua indicação. Ela também pontua que essas mudanças refletem no agradecimento de cada paciente em sua rotina. “O objetivo maior é o conforto nesses momentos. Seja na UTI ou demais unidades, queremos tornar o período de internação confortável e seguro. Cada paciente que atendemos nos proporciona momentos únicos, seja de resiliência, serenidade em adaptar as mudanças da sua rotina, no brilho do olhar e/ou sorriso em receber uma alimentação que traz memórias afetivas e afago no coração”, afirma.
Nesta segunda-feira (9), no auditório do HGWA, ocorre o Fórum de Fonoaudiologia do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH). Na ocasião, Luciana Picanço, atual presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia, da 8ª região, fará uma palestra com o tema “A Fonoaudiologia e seu papel nos cuidados paliativos”. O evento, com inscrições encerradas, em formato híbrido, também será transmitido on-line para os inscritos.
Adriana de Oliveira, gerente do Cuidado Multiprofissional do ISGH, diz que a expectativa é discutir o que é a paliação e como os profissionais da fonoaudiologia podem olhar para esse paciente, proporcionando melhores condições para esse paciente. Será debatido o papel do profissional nesse contexto.
“Recentemente, nós tivemos o apoio do Proadi-SUS [Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde, parceria entre o Ministério da Saúde e hospitais de referência no Brasil, com o objetivo de melhorar e apoiar o SUS] que está nos capacitando na nova política dos Cuidados Paliativos”. Ela explica que a ideia é unir as técnicas, o manuseio e a forma de trabalhar para padronizar o olhar para o cuidado paliativo e em torno dos profissionais. “Queremos trazer a verdadeira essência da paliação e que as pessoas entendam que estamos em um momento de fim de vida, que precisa ter uma qualidade, estar próximo da família e ser tratado com um olhar diferenciado”, finaliza.
Mín. 24° Máx. 28°