O técnico de boxe Adailton Gonçalves, bolsista do programa estadual Geração Olímpica e Paralímpica, treina a equipe de boxe que vai à Olimpíada de Paris neste ano. Com 10 atletas, a delegação brasileira tem chance de medalhas, inclusive de ouro, no maior evento esportivo do mundo. É também a chance de manter a tradição conquistada a partir dos Jogos de Londres em 2012: o boxe leva medalhas em todas as edições.
Boxeador desde os 9 anos, Adailton disputou as carreiras olímpica, com 68 lutas e seis derrotas, e a profissional, com 10 lutas e duas derrotas. Já como técnico, em 1998, Adailton se consagrou como campeão baiano por equipe, repetindo o feito no ano seguinte.
Desde então sua carreira deu um salto, contribuindo para o auge do boxe brasileiro, como ele mesmo destaca o momento em que a modalidade se encontra hoje. As maiores equipes que vão para Paris são Austrália (13 atletas), Uzbequistão (12 atletas) e Brasil (10 atletas), à frente de países com maior tradição na modalidade, como Estados Unidos e Cuba.
“Eu não posso dizer nem que sim nem que não”, afirma sobre a sua influência nos resultados recentes do boxe brasileiro. “Somos uma equipe, então todo mundo trabalha. Quando estamos em alto rendimento, são pequenos ajustes que levam ao resultado melhor ou pior, mas eu não tiro meus méritos”, salientou. “Eu entrei em uma equipe que já vinha vencendo e desde então evoluímos mais, sem cair, superando metas que antes não eram superadas”.
SELEÇÃO BRASILEIRA– O caminho até ser convocado pela Seleção Brasileira de Boxe, em 2021, foi vitorioso. Adailton mudou-se da Bahia para o Espírito Santo (ES) em 2005, após um convite do diretor técnico da Federação de Boxe capixaba, e elevou a seleção local de 23º para 3º lugar no ranking nacional. Lá abriu a Dudhal Boxing Club, academia referência no boxe e o embrião para projetos sociais que ele viria a realizar na sua carreira.
No Espírito Santo ele conseguia suprir a demanda da equipe capixaba e colocar seus atletas em outras seleções, inclusive com uma segunda equipe pelo Paraná, uma vez que o Estado não tinha todos os atletas. Foi durante essas seletivas que ele teve a oportunidade de conhecer, gostar e mudar-se para Curitiba, em 2015, a convite da Federação Paranaense.
Logo no ano seguinte, Adailton ajudou Lucas Collado a ser campeão brasileiro na categoria 75 kg juvenil. “Em 2019, eu conquistei o título de melhor técnico do Brasil, levando o Paraná de 21ª para 1ª lugar do Brasil por equipe, à frente de Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, estados que têm o esporte mais difundido”, conta.
CHANCE DE MEDALHA– O Brasil chega a Paris 2024 com um excelente histórico recente no boxe. Até Londres 2012, a única medalha conquistada em uma Olimpíada havia sido o bronze de Servílio de Oliveira, na Cidade do México, em 1968. Na capital inglesa, o Brasil quebrou o jejum de 44 anos e conquistou três medalhas (dois bronzes e uma prata). Em casa, no Rio 2016, veio o primeiro ouro e, em Tóquio 2020, a melhor campanha nacional entre todas as modalidades: um ouro, uma prata e um bronze, superando esportes mais tradicionais como o judô, por exemplo.
Mas é em Paris que o boxe brasileiro chega como um dos favoritos. Serão 10 atletas, sendo cinco no masculino (Abner Teixeira, Michael Douglas, Keno Machado, Luis de Oliveira e Wanderley Pereira) e cinco no feminino (Bárbara Santos, Beatriz Ferreira, Carol Santos, Jucieli Romeo e Tatiana Chagas). Todos eles passaram pelas mãos e treinos de Adailton.
Junto com seus atletas, Adailton conquistou medalhas nos campeonatos Sul-Americano, Pan-Americano, Continental e Europeu, principais conquistas possíveis dentro do boxe. Falta a medalha olímpica. “Eu praticamente zerei o game. O que se entende de boxe olímpico no mundo eu participei com méritos”, celebra. “Esse ciclo 2021/2024 será difícil de ser superado pela nova geração de atletas e técnicos”.
Com chance de medalha em praticamente todas as categorias, uma delas chama a atenção. Vice-campeão mundial em 2023, Wanderley Pereira, também bolsista do Geração Olímpica e Paralímpica (GOP), é baiano, mas representa o Paraná em competições e veio até Adailton para trabalhar em sua carreira nacional e internacional.
“É um garoto jovem, de 22 anos, com uma promessa imensa”, comenta. “O Wanderley é peça-chave. Um garoto que não tinha o dinheiro da passagem para da academia ao Centro. Hoje ele tem um bom salário, com bolsas como a Pódio e o Geração Olímpica”, comentou. “O Geração tem grande parte nisso que ele está vivendo hoje, porque esse apoio na base é fundamental para que os atletas não deixem de treinar para ter que suprir as necessidades em casa”.
BASE FORTE– Apoiar o boxe desde a base, formando atletas de alto rendimento e colocar atletas paranaenses na Seleção Brasileira. Esse é o objetivo de Adailton assim que voltar de Paris. Envolvido com projetos sociais desde que começou a ser técnico, ele quer fazer do Paraná um celeiro do boxe nacional.
“O meu ideal de vida é formação de atletas. É formar campeões e tenho conseguido isso na minha longa trajetória. Nós captamos atletas aqui da região, junto com as academias. Também vamos fazer a formação de novos técnicos e árbitros em Curitiba e em outras cidades do Estado, como Londrina e Maringá”, explica.
O objetivo é, após a formação de novos técnicos e árbitros, iniciar o projeto com alunos, com visitas de atletas olímpicos em escolas e comunidades. O trabalho terá como base a planificação, com formação acadêmica planejada, modelos de treino diários e bases de treinamento em vários pontos pelo Brasil. Tudo com relatórios para posterior análise.
“A ideia é fazer do Paraná um polo grande como é a Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, e existe esse material humano aqui. Curitiba já é um polo de muay thai e MMA, então a gente só precisa colocar o boxe em evidência”, acrescenta.
APOIO– Logo após chegar ao Paraná, Adailton conseguiu um apoio importante: a bolsa do Geração Olímpica e Paralímpica (GOP), do Governo do Paraná. Criado em 2011, o GOP é o maior programa estadual de incentivo ao esporte na modalidade bolsa-atleta, conforme pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) divulgada na Revista Latino-Americana de Estudos Socioculturais do Esporte. Desde então, tem sido uma iniciativa de destaque no fomento e apoio aos talentos esportivos no Paraná. Em 2024 o programa está em sua 13ª edição e terá investimento da Copel de R$ 5,2 milhões.
“Quando eu cheguei em Curitiba eu nem sabia que existia a bolsa. Eu comecei a dar aula na Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude como voluntário. Lá me falaram sobre o Geração e isso me manteve aqui por um bom tempo”, lembrou o técnico. “Eu conseguia não só dar aula de personal, mas também ter liberdade para trabalhar em projetos”, afirmou.
Ele também destaca que logo que seu projeto estiver a todo vapor, o GOP será um aliado importante. “Eu sei que quando a gente implantar esse projeto, o Geração vai ser uma base forte para continuar formando na base, que é o que estamos fazendo”, conclui.
COPEL– Até o final de 2024, o programa Geração Olímpica e Paralímpica terá investido mais de R$ 55 milhões em bolsas financeiras para atletas e técnicos vinculados a instituições paranaenses (federações e escolas), atendendo desde jovens promessas a estrelas de renome internacional. A iniciativa é patrocinada pela Copel desde o início - e de forma exclusiva desde 2013.
Para o presidente da Copel, Daniel Slaviero, o apoio busca tornar o Paraná referência de esporte olímpico e paralímpico no Brasil, ao valorizar os atuais talentos do estado. "Nós temos orgulho de apoiar, junto com o governo do Paraná, esses atletas e profissionais que por muito tempo vêm se preparando para um dos momentos mais significativos da história dos esportes. Estamos torcendo com toda energia”, comenta.
O programa abrange, além do pagamento mensal de bolsas financeiras a atletas e técnicos, recursos necessários para a execução e gestão das atividades previstas, confecção de uniformes, material de divulgação e promoção, infraestrutura de logística (hospedagem, alimentação e transporte), programas de treinamento e capacitação, bem como avaliações médicas e laboratoriais dos atletas.
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