Fernando Rufino, o "Cowboy de Aço", se prepara para representar Mato Grosso do Sul na paracanoagem em Paris-2024, carregando no peito a determinação de quem já fez história no esporte (Foto: Miriam Jeske/CPB)
Maior evento paradesportivo do planeta, os Jogos Paralímpicos começam em Paris, na França, no dia 28 de agosto e se estenderão até 8 de setembro. Contemplados pelo Bolsa Atleta, programa do Governo de Mato Grosso do Sul coordenado pela Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer) e Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura), dois atletas sul-mato-grossenses são favoritos ao pódio: Fernando Rufino, da paracanoagem, e Yeltsin Jacques, do atletismo. Ambos os atletas conquistaram medalhas e bateram recordes na última edição dos Jogos, a Tóquio-2020.
Além dos atletas, a professora de judô Anne Talitha Silva também foi convocada para representar o Brasil nas Paralimpíadas como auxiliar-técnica. Com uma trajetória dedicada ao treinamento de atletas paralímpicos desde 2006, a profissional é contemplada pelo programa Bolsa Técnico do Governo do Estado e traz sua vasta experiência para a equipe brasileira, contribuindo para o sucesso do esporte paralímpico nacional. Na capital francesa, a técnica comandará duas atletas sul-mato-grossenses nos tatames: Kelly Victório e Erika Cheres.
Fernando Rufino: o “Cowboy de Aço” na paracanoagem
Fernando Rufino de Paulo, popularmente conhecido como “Cowboy de Aço”, representará Mato Grosso do Sul na canoagem paralímpica. Natural de Eldorado, Rufino tem se destacado em competições internacionais, incluindo a recente conquista do ouro na categoria VL2M200m no Mundial de Paracanoagem, o que o torna uma das grandes promessas para Paris.
Rufino, que já brilhou nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 com uma medalha de prata, fez história na Tóquio-2020 ao conquistar a medalha de ouro nos 200 metros, com o impressionante tempo de 53,077 segundos. Para ele, o apoio governamental foi crucial em sua trajetória. “O programa Bolsa Atleta foi fundamental para minha preparação de nível mundial, permitindo-me obter bons resultados no Campeonato Mundial e nas Paralimpíadas. Espero continuar contando com esse suporte rumo a Los Angeles 2028, acreditando que, com esse apoio, podemos alcançar alta performance e garantir uma medalha em 2028”, afirma o atleta.
O “Cowboy de Aço” tem uma história de superação inspiradora. Seu sonho inicial de ser peão de rodeio foi interrompido por um acidente que o deixou paraplégico. No entanto, ele encontrou no esporte uma nova paixão e uma oportunidade de realizar novos sonhos. “O esporte mudou minha vida de uma forma maravilhosa e completa. Sou uma pessoa realizada, com uma carreira de sucesso, e o legado que quero deixar é que, mesmo vindo de uma pequena cidade do interior e tendo meu sonho interrompido, o esporte me deu a oportunidade de sustentar minha família e construir uma vida estável.”
Rufino também destaca o poder transformador do esporte na vida das pessoas. “Quero mostrar que todos podem alcançar seus objetivos. O ‘cowboy de aço’, que era peão de boiadeiro, tornou-se campeão paralímpico e conheceu mais de 20 países. O esporte não é apenas uma maneira de salvar pessoas das ruas ou das drogas; é uma profissão onde, com dedicação, disciplina e respeito, todos podem se tornar alguém na vida.”
Yeltsin Jacques: incansável e imparável
Yeltsin Francisco Ortega Jacques, de 33 anos, natural de Campo Grande, é outro nome de peso nas Paralimpíadas de Paris. Convocado para disputar as provas de 1.500 e 5.000 metros na classe T11, destinada a atletas cegos, Yeltsin é o atual campeão mundial dos 5.000 metros e recordista mundial nas duas provas. Ele entra como um dos favoritos para conquistar medalhas, depois de sua impressionante performance em Tóquio-2020, onde levou o ouro em ambas as categorias, além de estabelecer o recorde mundial.
Preparando-se para sua terceira participação nos Jogos Paralímpicos, após competir no Rio 2016 e em Tóquio 2020, Yeltsin compartilha sua jornada de 18 anos no esporte, marcada por treinos intensos e desafios diários. “Desde o início, no Mato Grosso do Sul, enfrentamos muitos obstáculos. Naquela época, não havia uma pista de atletismo oficial, nem o programa Bolsa Atleta, nem uma estrutura básica para os treinos”, relembra o atleta.
Yeltsin chegou a se mudar para outro país em busca de melhores condições de treino, mas retornou a Campo Grande assim que a infraestrutura esportiva melhorou. “Morei e treinei fora por um tempo, mas depois, com a infraestrutura disponível em Campo Grande, pude voltar para perto da minha família. Foi difícil ficar longe dos meus pais, mas era um sacrifício necessário para melhorar meu desempenho e alcançar resultados".
O programa Bolsa Atleta foi um fator decisivo para o retorno de Yeltsin ao Mato Grosso do Sul. “Com o apoio financeiro e a inauguração da pista de atletismo, já treinando em Campo Grande, conquistamos resultados espetaculares em Tóquio”, destaca o atleta, que, em 2024, quebrou o recorde mundial em Kobe, no Japão.
Yeltsin também reflete sobre a importância do esporte paralímpico para a inclusão de pessoas com deficiência. “Já ouvi muitas histórias de pessoas com deficiência que se limitavam, achando-se incapazes até de sair de casa. Hoje, ao verem o esporte paralímpico na TV, dizem: ‘Um dia, quero ser como ele’".
Ele enfatiza o impacto positivo do apoio governamental ao esporte. “Cada vez mais, o governo do estado, não só com o Bolsa Atleta, mas também com outras políticas de fomento, tem mostrado o caminho para a iniciativa privada. Empresas têm investido e patrocinado o esporte, o que é transformador não só para o alto rendimento, mas também para a educação e a inclusão. Hoje, as universidades oferecem bolsas para atletas, e empresários acreditam e investem no esporte. Isso faz toda a diferença.”
Anne Talitha: pioneirismo e dedicação no judô paralímpico
A professora de judô Anne Talitha Almeida Ferreira Silva também foi chamada para integrar a delegação brasileira nas Paralimpíadas de Paris-2024 como auxiliar-técnica. Com mais de 15 anos de experiência no treinamento de atletas paralímpicos, Anne Talitha traz consigo uma trajetória marcada por dedicação e conhecimento profundo na área.
“Para mim, foi uma grande surpresa e uma enorme felicidade ser convocada. Trabalho com o esporte paralímpico há bastante tempo, especialmente com o judô. É uma realização profissional estar indo para as Paralimpíadas”, afirma a técnica.
Sob a orientação de Anne Talitha, duas atletas sul-mato-grossenses brilharão na competição. Erika Cheres Zoaga, nascida em Guia Lopes da Laguna, competirá na categoria +70 kg da classe J1 (cegos totais). A judoca possui um currículo notável, com conquistas recentes como a prata no Grand Prix de Tiblissi e o ouro no Grand Prix de Antalya em 2024. Desde que começou no judô em 2006, devido ao glaucoma congênito, Erika tem se destacado internacionalmente.
A jovem Kelly Kethyllin Victório, de Campo Grande, também estará sob o comando de Anne Talitha. Com apenas 20 anos, Kelly competirá na categoria até 70 kg da classe J2 (baixa visão). Recentemente, ela conquistou a medalha de ouro no Parapan de Jovens em Bogotá e ocupa a décima posição no ranking paralímpico da Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA). A convocação para os Jogos Paralímpicos de Paris marca mais um passo significativo em sua promissora carreira.
Anne Talitha comemora a participação das judocas sul-mato-grossenses. “Além de ser convocada, a alegria é ainda maior por conseguir levar duas atletas, uma delas, a Erika, que treinou comigo por muito tempo. É uma dupla felicidade poder acompanhá-la na competição. É um momento de muita alegria e ver que Mato Grosso do Sul está bem representado”.
A técnica destaca ainda a importância de fomentar o esporte paralímpico. “Espero que isso motive tanto os professores quanto os atletas a seguirem, porque elas vieram de projetos e programas de apoio do governo, já foram bolsistas, e isso é muito bacana.”
Competições
Yeltsin Jacques
Fernando Rufino
Kelly Victório
Erika Cheres
Bel Manvailer e Lucas Castro, Comunicação Setesc
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