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Cultura: Iniciado em 1982 na Praça Duque de Caxias, Festejo Junino de Marabá foi oficializado em 1985

O Festejo Junino de Marabá está na 37ª edição e, neste ano, mais de 40 agremiações culturais entre juninas e bois-bumbás vão se apresentar na Aren...

26/06/2024 às 14h09
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Prefeitura de Marabá - PA
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Foto: Reprodução/Prefeitura de Marabá - PA
Foto: Reprodução/Prefeitura de Marabá - PA

O Festejo Junino de Marabá está na 37ª edição e, neste ano, mais de 40 agremiações culturais entre juninas e bois-bumbás vão se apresentar na Arena Z-30, no bairro Santa Rosa, até o dia 30 de junho. Mas você já se perguntou como surgiu e se fortaleceu esse evento tão importante do nosso calendário cultural da nossa cidade? A gente vai te contar um pouco da história da festa junina no Brasil e em Marabá com a historiadora Camila Caetano e depoimentos de personalidades do município, a vereador Vanda Américo, o Ademar da Santa Rosa, coordenador da junina e bloco carnavalesco Fogo no Rabo, e Manoel Nunes dos Reis, o Mestre dos Reis.

Segundo a historiadora Camila Caetano, que atua no Museu Municipal Francisco Coelho, a festa junina como é conhecida hoje é bem diferente de sua origem. De acordo com as fontes históricas, a festa tem raiz pagã e estava relacionada ao solstício de verão e às colheitas, durante o mês de junho.

É em Portugal que a festa passa a ser chamada de “joanina”, referente a São João. Os portugueses, por meio da colonização, trazem a festa para o Brasil. Por aqui, a festa agrega elementos das culturas africana e indígena presentes na colônia, enriquecendo a manifestação religiosa e popular.

“Então, nós percebemos as fogueiras, os alimentos típicos da festa, as características como a musicalidade, o forró, o Boi-Bumbá, que são elementos que vão surgir aqui. É interessante porque a quadrilha não é uma dança que surge no Brasil, mas esse caráter caipira, os passos, as brincadeiras que acontecem, essas características que conhecemos hoje, que marcam a nossa quadrilha, vão sendo agregadas à festa aqui no Brasil. Essa diversidade é agregada pela cultura negra, pela cultura indígena local, agregada pelos elementos que vão ser construídos principalmente na região do nordeste, mas que depois vão se espalhar por outras áreas do país”, explica Camila Caetano.

 Camila Caetano, historiadora
Camila Caetano, historiadora

Na Idade Média, com a consolidação da Igreja Católica, muitas festas pagãs e populares foram apropriadas e ressignificadas pela instituição, passando, então, a ter caráter religioso. Com o tempo, essas festas foram associadas a santos católicos celebrados durante o mês de junho – Santo Antônio, São João e São Pedro – ganhando um forte caráter religioso.

Festejo Junino de Marabá

No município, de acordo com a vereadora Vanda Américo, que tem anos de dedicação à cultura, inicialmente, as festas juninas eram realizadas nas escolas como Judith Gomes Leitão, José Mendonça Vergolino e Plínio Pinheiro, na Marabá Pioneira.

“A comunidade não fazia, depois que começaram a fazer nas ruas e a prefeitura começou a assumir os espaços públicos, fazer as disputas, mas era muita quadrilha roceira. Depois que passou para as alegóricas, para todas essas indumentárias riquíssimas, belíssimas e Marabá tomou conta”, observa.

Vanda Américo, vereadora e ex-presidente da Casa da Cultura de Marabá
Vanda Américo, vereadora e ex-presidente da Casa da Cultura de Marabá

Mas contar a história do Festejo Junino de Marabá passa por montar um quebra-cabeça, que envolve a memória de muitas pessoas, que foram cruciais para que essa grande manifestação cultural fosse o que é hoje. Por vezes, as datas indicadas não coincidem, mas todas as informações giram em torno da década de 1980.

Uma das pessoas que foram fundamentais para a consolidação da tradição junina de Marabá é Manoel Nunes dos Reis, o Mestre dos Reis, hoje com 68 anos.

No início da década de 1980, ele tinha o desejo de fazer um concurso de quadrilhas e bois-bumbás, pois nessa época os arraiais já aconteciam nas comunidades. Ele conseguiu reunir os grupos e fazer a primeira festa em 1982, na Praça Duque de Caxias, na Marabá Pioneira. Um apoio importante nesse início foi do grupo Jovens Unidos de Marabá (Juma), que também era uma quadrilha junina.

Em 1983, a festa teve aprovação da Câmara de Vereadores. No entanto, o novo prefeito, na época, o ocupante do cargo era nomeado pela Ditadura Militar – achou desrespeitoso realizar a festa em frente ao busto de Duque de Caxias, patrono do Exército, e aplicou uma suspensão a Manoel dos Reis.

“Nessa época, que recebi a suspensão, eu fiz uma versão lá na quadra Osorinho, depois nós fomos para a Praça do Manduquinha, era a Praça da Igreja Matriz, e lá a festa tomou outra dimensão, maior espaço e foi crescendo”, afirma.

Manoel dos Reis, agente cultural
Manoel dos Reis, agente cultural

Segundo Mestre dos Reis, a prefeitura começou a organizar o festejo oficialmente em 1985. E, de fato, foi em meados da década de 1980 que a festa teve início. O primeiro festejo oficial aconteceu em 1986. A festa, atualmente, está na 37ª edição, mas deveria estar na 39ª, já que devido à pandemia, o festejo não foi realizado nos anos 2020 e 2021.

“Eu me sinto realizado. Fui entrevistado e me perguntaram ‘O que você mais se orgulha em Marabá?’ e eu respondi ‘É do Festejo Junino, que eu criei em praça pública'”, ressalta orgulhoso.

Outro agente cultural de destaque no mundo junino de Marabá é o Ademar Dias que é uma figura reconhecida no bairro Santa Rosa, tanto que é conhecido como Ademar da Santa Rosa.

Na grande enchente de 1980, Ademar e sua família se mudaram para a Nova Marabá, especificamente na Folha 16. Nessa época, estudou na Escola Gaspar Viana e foi ali que teve contato com a quadrilha junina pela primeira vez.

Em 1981, retornou para a Marabá Pioneira e foi convidado a participar de uma junina. Ele recorda que participaram de um concurso organizado pela prefeitura, mas que ainda não era o oficial.

Da época em que a festa era na Praça Duque de Caxias, em frente ao Armazém Paraíba, ele tem uma recordação para compartilhar.

“A prefeitura fazia um tablado de madeira e a gente dançava em cima. Eu lembro como se fosse hoje. Eu fui convidado a participar de uma junina tradicional lá da Santa Rosa. Nós até erramos uma hora a coreografia e o rapaz que ficava na frente, naquela época a gente usava até facão, ele puxou o facão, deu umas lapadas no tablado, fez aquela zoada, os casais se encaixaram e a gente saiu”, detalha.

Ademar Dias, coord. da junina Santa Rosa
Ademar Dias, coord. da junina Santa Rosa

Em 1988, ele fundou a Junina Fogo no Rabo e começaram a participar do Festejo, que já era oficial e, segundo ele, acontecia na Praça São Félix de Valois.

Ademar lembra também que, na época, a quantidade de bois-bumbás e juninas era grande, principalmente na Marabá Pioneira, que era o centro cultural do município. Quando a Fogo no Rabo começou a disputar, eram 48 juninas adultas. Na década de 1990, houve a expansão do movimento.

“Havia uma grande preocupação de quem fazia os eventos para que a gente pudesse expandir. Ir para a Nova Marabá, ir para o núcleo Cidade Nova, principalmente ali na Liberdade. E aí, a gente começou a fazer esse trabalho de deslocamento. Por exemplo, quem é da Marabá Pioneira, vai pra Liberdade dançar na Praça da Liberdade, dançar na escola Anísio Teixeira. Isso vai expandir. Já na década de 1990, houve um crescimento muito grande de juninas que se tornaram tradição, que tinham 50 pares”, destaca.

Dessa época, ele cita algumas juninas históricas como “Parece mas não é”, “Princesinha do Sertão” e “Espoletada”.

Mudança para a Praça São Félix

Como o espaço na Praça Duque de Caxias era pequeno e o número de juninas grande, logo a festa foi transferida para a Praça São Félix de Valois. Com base no que foi relatado pelos entrevistados, a mudança ocorreu entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990.

“A estrutura nós primeiros anos era bem pequena. Nem arquibancada na época tinha. Aí, depois começaram a fazer arquibancada de madeira, que pegava umas 100, 200 pessoas. Depois, foi aumentando para 500. A quantidade de pessoas que vinham prestigiar o evento foi aumentando, já não suportava mais. A quantidade de brincantes das juninas também foi aumentando”, pontua Ademar, sobre o espaço na Praça São Félix de Valois.

Arena Z-30

Durante a gestão do secretário de Cultura Wilson Teixeira, houve a mudança para o bairro Santa Rosa. De acordo com Ademar, foi em 2008 o primeiro ano do Festejo na Arena Z-30.

“Em 2009, a gente colocou em votação e ninguém mais quis tirar da Santa Rosa. A Liga Cultural é 100% favorável que continue ali devido as pessoas gostarem, ser um espaço aonde tem local para se concentrarem, para o ônibus, para a Praça de Alimentação. Nós entendemos que ali sempre será um lugar ideal para fazer o festejo junino”, reitera Ademar.

Foto: Reprodução/Prefeitura de Marabá - PA
Foto: Reprodução/Prefeitura de Marabá - PA
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Vanda Américo lembra da oposição que a mudança para o bairro Santa Rosa teve no início, mas que logo foi superada. Quinze anos depois, não tem como pensar o festejo sem ser na Arena Z-30.

“Quando o Tião fez a Arena, o pessoal falava que não ia porque era na Santa Rosa, era distante. Nada disso. O espaço ficou maravilhoso, foi bem trabalhado. Naquela época, o Wilson, secretário de cultura, criou o arrastão, dando uma super valorizada nas quadrilhas. Aumentou consideravelmente a quantidade de representatividade de bairros com aquele envolvimento. Então, ele fez um movimento muito forte para chegar onde estamos hoje. O Wilson Teixeira tem um papel importante. Foi um trabalho que está aí até hoje”, diz.

Olhar para trás é ver a evolução do Festejo Junino de Marabá, com médias de público que podem chegar a 15 mil pessoas em uma noite, a retomada e crescimento no número de juninas e bois-bumbás que participam, chegando a mais de 40 grupos que irão se apresentar neste ano.

Muito além da preparação física e dedicação aos ensaios por meses, hoje, grande parte das quadrilhas juninas cumpre um papel social, que é de dar ao jovem uma experiência positiva com a cultura e afastá-lo da violência e criminalidade.

“Muitos deles estão aprendendo a arte do artesão, das quadrilhas, de corte e costura, das indumentárias caras, bonitas e maravilhosas. Eles fazem um exercício de teatro. Além da dança, o teatro é muito forte. Eu vejo assim, aplaudo mesmo”, celebra a vereadora.

Para Ademar, que acompanhou a cultura junina de Marabá nos últimos 40 anos, o crescimento da festa foi extraordinário e não se pode esquecer os grandes nomes que iniciaram isso tudo na década de 1980. Ele ainda destaca a atuação hoje da prefeitura nesse crescimento.

“A gente só tem a agradecer a todas as pessoas que se envolveram, que fizeram esse festejo mudar, que estão ajudando no que é possível. A gente não deve esquecer da Prefeitura Municipal de Marabá, que não é só a questão de estrutura, é uma questão também de subvenção, que nós aumentamos de uma forma bem significativa, graças a Deus. Porque a gente via essa necessidade de aumentar. Nós temos a Lei Semear, através da Equatorial, que também está dando uma ajuda muito importante para o movimento junino”, conclui.

Na visão de Vanda Américo, o crescimento das juninas de Marabá é tão grande que, além de terem proporções que ultrapassam os limites do município, muitas estão conquistando campeonatos em outras cidades, outros estados e até a nível nacional. Vanda ressalta ainda os impactos do Festejo em outros aspectos.

“Hoje a festa Junina para a economia do município é bem mais forte do que outras datas porque você vê o tanto de roupas, de fantasias, material, comida, alimentação, transporte, que o povo vai de um lugar pra outro. É muito material, as roupas são muito ricas. Hoje, já passa por um movimento muito bacana, muito forte”, observa.

Analisando o Festejo Junino de Marabá hoje, a historiadora Camila Caetano, do início da reportagem, observa que a festa apresenta diversas pautas sociais e temas pertinentes na atualidade, como as temáticas abordadas pelas juninas que passeiam por cultura, seja com foco no estado ou em outra região, meio ambiente, musicalidade, histórias não contadas e valorização das expressões genuinamente brasileiras.

“Ou seja, esse festejo daqui de Marabá sempre representa de diferentes formas essa diversidade, que é a principal característica das festas juninas na atualidade e também a principal diferença dessa festa Junina que a gente pensa lá em Portugal, que tinha esse caráter religioso para o que acontece hoje em dia e que bebe menos nesse caráter religioso, mas que culturalmente se ampliou de uma forma a abarcar um universo cultural mesmo que nós temos no Brasil”, finaliza.

Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Sara Lopes e Jordão Nunes

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