Meio Ambiente ESPECIAL
Norte e Nordeste têm cidades com os piores serviços de água tratada e saneamento do país
Estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil, tendo como base os indicadores de saneamento das 100 maiores cidades do país, que concentram aproximadamente 40% da população, revelou que mais de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada e 100 milhões não têm coleta de esgoto.
22/03/2022 15h47 Atualizada há 3 anos
Por: Paulo Amâncio Fonte: Da Redação IBI
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), apenas 50% do esgoto é tratado no Brasil, o que significa que mais de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza diariamente". Foto: Reprodução internet (conexaot

O documento, que considera os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes ao ano de 2020, mostra também que apenas 50% do esgoto é tratado no Brasil, o que significa que mais de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza diariamente.

O levantamento aponta que, historicamente, as cidades dos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais ocupam as primeiras posições do ranking. Na outra ponta, entre os piores municípios, estão principalmente cidades das regiões Norte e Nordeste e do estado do Rio de Janeiro.

Aqui na Bahia, os municípios de Salvador, Feira de Santana e Camaçari são os únicos situados entre os 100 melhores do Brasil, ocupando, respectivamente, a 39ª, 69.ª e 77.ª posições. No Norte e Nordeste, capitais importantes como Macapá (AP), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Belém (PA), Maceió (AL), Manaus (AM), São Luís (MA), Teresina (PI) e Recife (PE) estão entre as 20 piores cidades do ranking.

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Apesar de a situação geral ser preocupante, o estudo mostrou que, nas cidades avaliadas, houve um aumento da cobertura de água tratada  de 93,5% para 94,4% entre 2019 e 2020, quando a população com acesso a coleta de esgoto também cresceu de 74,5% para 75,7%. Já o esgoto tratado passou de 62,2% para 64,1%. Na contramão dos outros indicadores, a perda de água na distribuição aumentou de 35,7% para 36,3%. Neste caso, o aumento significa piora, já que mais água está sendo desperdiçada.

Segundo a presidente-executiva do Trata Brasil, Luana Pretto, a melhora da maioria dos indicadores é positiva, mas o ritmo é abaixo do esperado. “A tendência de melhora é baixa. Vemos um ganho de 0,9, 1,2 e 1,9 ponto percentual nos indicadores, o que ainda é muito pouco para a realidade que temos no país”, diz.

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Essa situação é ainda mais grave quando são comparadas as 20 melhores com as 20 piores do país. “Existe uma discrepância muito grande. A população atendida com coleta de esgoto nas melhores é de 95,5%, enquanto, nas piores, é de 31,8%”, diz Luana.

Segundo ela, umas das principais correlações que o estudo estabelece é que, quanto mais investimentos são feitos no setor do saneamento, melhores são os serviços e os indicadores. Isso pode parecer óbvio, mas, na prática, significa que as cidades com indicadores péssimo e com grande necessidade de investimento gastam muito menos do que as cidades com bons indicadores e com serviços melhores.

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“O investimento por habitante, ou seja, quantos reais foram investidos por habitante do município, mostra esta diferença. Entre as melhores cidades, o investimento é de R$ 135,24 por pessoa. Já entre as piores, é de R$ 48,90”, atesta. Por isso, geralmente, as melhores cidades seguem melhorando e permanecendo no grupo das melhores, enquanto as piores seguem estagnadas nas últimas posições.

DIFERENÇAS REGIONAIS

Luana Pretto destaca que essas diferenças regionais estão relacionadas ao estabelecimento de políticas públicas que incentivem o saneamento. “O Sudeste é muito forte em termos de política pública e de estabelecimento de metas. Já o Norte é uma região em que, muitas vezes, as empresas do setor foram sucateadas. Não há investimento adequado.”

É possível constatar estas diferenças regionais por meio dos indicadores. Embora a média de cobertura de água tratada entre as 100 maiores cidades seja de 94,4%, em Porto Velho, por exemplo, apenas 32,9% da população tem acesso a este serviço.

Já em relação ao serviço de coleta de esgoto, Piracicaba e Bauru, no interior de São Paulo, coletam 100% do esgoto produzido, ao paço que Ananindeua, no Pará, coleta apenas 4,1%. “São cidades que geralmente não têm planos municipais de saneamento e não há o estabelecimento de metas, nem a fiscalização e o aporte de recurso para realizar estas metas”, diz Luana.

CAPITAIS: EVOLUÇÃO DOS INVESTIMENTOS

O estudo também avaliou como o investimento em saneamento básico evoluiu entre 2016 e 2020 nas capitais do país. Neste período, foram investidos cerca de R$ 23 bilhões nestas cidades, sendo que São Paulo realizou quase metade desse investimento (R$ 11 bilhões). A capital paulista é seguida por Brasília (R$ 1,5 bilhão) e pelo Rio de Janeiro (R$ 1 bilhão).

Já considerando o investimento médio anual por habitante, Cuiabá foi a capital que mais investiu, com R$ 213,33 por pessoa. A segunda capital que mais investiu foi São Paulo, com R$ 180,97, seguida de Natal, com R$ 141,21.

O patamar nacional médio de investimento anual por habitante para atingir a universalização do saneamento, de acordo com dados do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), é de R$ 113,30. A média das capitais, porém, ficou abaixo disso: R$ 91,03.

Os patamares mais baixos foram observados em João Pessoa, com R$ 26,36 por habitante, em Maceió, com R$ 21,61 por habitante, e em Macapá, com R$ 11,25 por habitante — o que justifica parcialmente sua posição como último do ranking.

É bom lembrar que, estando em um ano eleitoral, torna-se importante que as pessoas tenham cada vez mais noção sobre saneamento básico do país para poder debater e cobrar mais melhorias dos futuros governantes. O saneamento básico é um serviço que reflete diretamente na vida das pessoas com reflexos importantes na educação, turismo e saúde. Daí a necessidade de que os futuros governadores tenham um planejamento adequado para o setor, estabelecendo metas e disponibilizando recursos.

 Ranking do Saneamento Básico completo:

Em primeiro lugar a cidade de Santos (SP) e na sequencia vem: Uberlândia (MG); São José dos Pinhais (PR); São Paulo (SP); Franca (SP); Limeira (SP); Piracicaba (SP); Cascavel (PR); São José do Rio Preto (SP); Maringá (PR); Ponta Grossa (PR); Curitiba (PR); Vitória da Conquista (BA); Suzano (SP); Brasília (DF); Campina Grande (PB); Taubaté (SP); Londrina (PR); Goiânia (GO); Montes Claros (MG); Sorocaba (SP); Palmas (TO); Niterói (RJ); Campinas (SP); Praia Grande (SP); Petrópolis (RJ); Uberaba (MG); Campo Grande (MS); Jundiaí (SP); São José dos Campos (SP); Boa Vista (RR); Santo André (SP); Petrolina (PE); Ribeirão Preto (SP); Anápolis (GO); João Pessoa (PB); Belo Horizonte (MG); Taboão da Serra (SP); Salvador (BA); Diadema (SP); Campos dos Goytacazes (RJ); Caruaru (PE); Porto Alegre (RS); Rio de Janeiro (RJ); Osasco (SP); Sumaré (SP); Aparecida de Goiânia (GO); Mauá (SP); São Bernardo do Campo (SP); Serra (ES); Contagem (MG); Carapicuíba (SP); Vitória (ES); Mogi das Cruzes (SP); Cuiabá (MT); Betim (MG); Itaquaquecetuba (SP); Guarujá (SP); São Vicente (SP); Florianópolis (SC); Ribeirão das Neves (MG); Caxias do Sul (RS); Aracaju (SE); Paulista (PE); Olinda (PE); Blumenau (SC); Mossoró (RN); Guarulhos (SP); Feira de Santana (BA); Juiz de Fora (MG); Vila Velha (ES); Natal (RN); Bauru (SP); Nova Iguaçu (RJ); Santa Maria (RS); Fortaleza (CE); Camaçari (BA); Joinville (SC); Caucaia (CE); Pelotas (RS); Canoas (RS); Belford Roxo (RJ); Recife (PE); Teresina (PI); São Luís (MA); Cariacica (ES); São João de Meriti (RJ); Jaboatão dos Guararapes (PE); Manaus (AM); Duque de Caxias (RJ); Maceió (AL); Gravataí (RS); Várzea Grande (MT); São Gonçalo (RJ); Ananindeua (PA); Belém (PA); Rio Branco (AC); Santarém (PA); Porto Velho (RO) e na centessima colocação a cidade de Macapá (AP).