O impacto da guerra da Ucrânia nos preços dos combustíveis tornou ainda pior o ambiente econômico e social em que o nefasto Bolsonaro tenta a reeleição. Com a Petrobras preocupada apenas em aumentar os dividendos de seus acionistas, sobem o preço da gasolina, do diesel e do botijão de gás, este já acima de R$ 120. Tudo isso terá impacto no preços dos alimentos e no bolso das famílias, principalmente as de baixa renda que usam transporte coletivo e não têm acesso a gás encanado. Desenha-se, portanto, o pior cenário para a ambição do Capitão Corona.
Mesmo assim, Bolsonaro e seus asseclas vão fazer de tudo para conseguir ao menos disputar o segundo turno com o ex-presidente Lula. A ordem no Palácio do Planalto é escancarar os cofres públicos para atrair a simpatia das camadas mais pobres da população. Nessas faixas de renda, a rejeição a Bolsonaro é enorme e o favoritismo de Lula é absoluto. O jeito encontrado pelo governo é soltar as amarras do orçamento, liberar benefícios a torto e à direita e torcer pelo retorno na forma de votos nas urnas de outubro.
Obviamente, ao anunciar o pacote de bondades, o Planalto não se refere às eleições para a Presidência. O ministro Paulo Guedes diz, na maior cara de pau, que o objetivo é “aquecer a economia”. Pura bobagem. Essa até pode ser uma consequência das benesses oficiais, mas o objetivo deslavado é mesmo o de comprar votos, de forma genérica e no limite das normas do TSE. Ao decidir antecipar o pagamento do 13º para aposentados e pensionistas do INSS, beneficiando 31 milhões de segurados com cerca de R$ 56 bilhões, o governo aposta suas fichas no impacto positivo em termos eleitorais.
Na previsão de Carlos Andreazza, neto do ministro Mário Andreazza, que tocou os projetos de “Brasil Grande” da ditadura militar, “com a estrutura do Estado a seu favor”, Bolsonaro vai chegar forte à eleição de outubro. Ele também ressalta que “não pode ser subestimado o efeito do novo Bolsa Família, de R$ 400, sobre sua campanha, nem o ritmo como a Caixa (duplo de comitê de campanha bolsonarista e banco de crédito) multiplica agências pelo Brasil adentro”. Para Andreazza, “é difícil que Bolsonaro não cresça”.
Pode ser. Mas não tenho tanta certeza. Penso que a memória sobre as conquistas sociais e econômicas das duas gestões de Lula falam muito mais alto quando comparadas aos fracassos de Bolsonaro em todas as frentes. Há, porém, que prestar atenção no abuso da máquina de Estado pelo Capitão Corona. Até junho, o tresloucado terá liberdade para sangrar o Tesouro em busca de votos populares. Depois disso, será brecado pela legislação eleitoral.
No pacote anunciado agora, além da antecipação do 13.º do INSS, foi liberado saque do FGTS de até R$ 1 mil por trabalhador, uma conta que favorece 40 milhões de cotistas do fundo ao custo de R$ 30 bilhões. Somadas as medidas que beneficiam trabalhadores, aposentados e pensionistas, chega-se a um total de R$ 86 bilhões a serem liberados nos próximos três meses.
Por enquanto, a margem de Lula nas pesquisas de intenção de voto é bastante folgada. Ele se mantém acima de 40%, contra 28% do inimigo do povo. Moro e Ciro patinam em torno de 8%. Porém, Bolsonaro, apesar da alta rejeição, ainda não entregou os pontos. Tem a caneta na mão, aposta no antilulismo e ameaça virar a mesa se perder a eleição. Mesmo assim, Lula tem tudo para vencer e voltar ao principal assento do Palácio do Planalto. Pelo bem do país e da democracia. Mas, como dizia um famoso colunista, olho vivo, que cavalo não desce escada.
Octavio Costa é jornalista, candidato à presidência da ABI pelo Movimento ABI Luta Pela Democracia.
Carioca, 68 anos, é jornalista há quase cinco décadas. Deu os primeiros passos na profissão na Rádio Tupi em 1970 e começou em 1971 no jornal O GLOBO. Depois trabalhou na área de economia por 14 anos na Editora Abril, onde foi editor-assistente de Veja e editor de Exame. Teve longa passagem pelo Jornal do Brasil, desde editor de política, em 1998, até diretor da sucursal de Brasília, em 2004. Na revista IstoÉ, chefiou a sucursal do Rio e dirigiu a sucursal de Brasília. Ganhou dois Prêmios Esso e menção honrosa no Prêmio Herzog. Foi vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas de 1986 a 1992.
ESTE ARTIGO FOI PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE ULTRAJANO.