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Cerca de 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia
Especialista comenta as causas dos distúrbios do sono e os seus tratamentos.
08/02/2023 14h56
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Agência Dino
Foto: Reprodução

A preocupação com a qualidade ideal de sono diário vem se tornando um tópico em discussão, visto que crianças, adolescentes, adultos e idosos podem apresentar algum distúrbio relacionado a esta questão - seja pela escassez, pelo excesso ou pela má qualidade do sono. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 40% da população mundial possui algum tipo de dificuldade para dormir. Para melhorar esses índices, entrou em vigor no estado da Califórnia (EUA), a primeira lei no país que obriga as escolas a iniciarem suas aulas para estudantes do Ensino Médio a partir das 8h30.

A mudança foi embasada em estudos que apontaram que mudanças biológicas da puberdade afetam o sono e, consequentemente, o desempenho escolar. No Brasil, a ABS (Associação Brasileira do Sono) divulgou um estudo em 2021, que mostrou que cerca de 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia. A entidade também promove uma campanha para alterar a entrada dos alunos do ensino médio no Brasil para as 8h30.

Para entender os principais distúrbios do sono precisamos entender um pouco como o sono é dividido. O sono é dividido em duas grandes partes: sono de não movimento rápido dos olhos (sono não-REM) e sono de movimento rápido dos olhos (sono REM).

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"O primeiro período é importante basicamente para crescimento, e o segundo é essencial para o aprendizado e para a consolidação das memórias, aqui acontecem os sonhos e pesadelos", explica o médico neurologista Luis Felipe Coutinho Mones. "Nas crianças, são 50% do período total do sono e nos adultos e adolescentes, somente de 25 a 30%".

Principais distúrbios do sono

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Segundo o Ministério da Saúde, os distúrbios do sono mais comuns são a insônia, a apneia obstrutiva do sono e a síndrome das pernas inquietas. São comuns também o sono insuficiente e o atraso de fase de sono. Um estudo do Vigilantes do Sono, programa digital de terapia cognitiva-comportamental para insônia no Brasil, entrevistou 42 mil brasileiros em 2022, e 52,9% estão insatisfeitos com o sono.

O Dr. Mones comenta que a insônia é mais comum nos autistas, pois eles demoram mais a entrar no sono e a causa é multifatorial. Já as parassonias dificultam manutenção do sono, onde a criança pode acordar várias vezes durante a noite ou até acordar mais cedo que o necessário, o que afeta a duração e qualidade do sono.

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O último Episono (Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo) do Instituto do Sono na cidade de São Paulo mostrou que 42% dos paulistanos roncam, 5% tomam remédios para dormir e 10% rangem os dentes. Os dados apontam que 33% são portadores de apneia do sono, e 45% queixam-se de insônia ou dificuldade para dormir.

Para o neurologista, os principais distúrbios não-REM são terror noturno, sonambulismo e enurese, e os problemas com o sono na fase REM são pesadelos, alterações respiratórias durante o sono e alterações dos movimentos relacionados ao sono. "A Síndrome das pernas inquietas e Síndrome dos movimentos periódicos dos membros podem estar associadas a baixos níveis de ferritina no sangue", explica Dr. Mones.

Os dados do EPISONO ainda revelam que 9% dos paulistanos sentem sonolência durante suas atividades diurnas, 3% são sonâmbulos, 15% possuem insônia crônica e 24% têm pesadelos constantemente. Mas o que chama atenção é que apenas 10% já consultaram pelo menos uma vez um especialista queixando-se de distúrbios do sono. Somente médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios.

Como prevenir e tratar a insônia infantil

O distúrbio mais comum é a insônia. De acordo com o neurologista Luis Felipe Coutinho Mones, o sono tem uma grande parte que é comportamental e depende também de se ter um local adequado. Sobre o espaço, tem que ter pouca luminosidade, uma vez que isto aumenta a produção do hormônio do sono chamado melatonina. Sobre a insônia infantil pode ser mitigada com alguns cuidados tomados pelos pais. O especialista aconselha, por exemplo, que a cama tem que ser confortável para a criança, e especialmente não ter distrações como celulares, televisão e barulhos.

Deve-se criar uma rotina no horário de dormir, que deve-se seguir diariamente para que a criança perceba que chegou a hora de dormir. Em relação ao comportamento do sono, o Dr. Mones diz que os objetivos são que a criança aceite que é horário para dormir, manter-se na cama, e por fim, adormecer e permanecer adormecido sozinho na sua cama. Para que a criança consiga aceitar melhor essas condições, um reforço positivo com prêmios pela manhã, caso a meta seja atingida, e assim com o passar dos dias, aumentar a dificuldade dos desafios.

Um dos principais objetivos é que a criança consiga se acalmar sozinha, ou seja, que ela tenha um mecanismo adequado para poder entrar no sono. Durante o dia vai se trabalhando e a criança pode usá-la à noite para dormir. Pode-se encontrar alguns problemas como falta de motivação para dormir, associações inadequadas na hora de dormir, por exemplo a cama dos pais, ou que a criança não associe a sua própria cama como o lugar para ela dormir.

"Não se deve gritar, berrar, ou ameaçar à criança, porque este tipo de conduta somente gera mais problemas e faz com que a criança associe a hora de dormir com coisas negativas", analisa Dr. Mones.

Em caso que a criança acorde no meio da noite, o médico neurologista aconselha que deve-se levar a criança rapidamente a cama, com o mínimo de contato físico, visual, e falar o mínimo, e manter as luzes desligadas. Além disso, o especialista pontua que é importante evitar que a criança fique brincando em sua cama a fim de deter que ela associe a cama a brincadeiras. Essa associação pode vir também com crianças que dormem a tarde, "neste caso, os pais podem acabar colocando os filhos para dormir mais cedo e sem sono, o que faz com que eles fiquem procurando algo para fazer, tornando o momento de dormir em brincar na cama", explica.

Para contornar a situação, Dr. Mones diz que deve-se colocar a criança para dormir perto do horário habitual que o pequeno costuma descansar, e aos poucos ir adiantando este horário até chegar ao horário almejado pelos pais.