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Saúde mental pode ter relação com o intestino
OMS indica que há mais de 1 bilhão de pessoas no planeta convivendo com transtornos como depressão, ansiedade e outros males
12/01/2023 11h00
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Agência Dino
Crédito:Depositphotos/IgorVetushko

A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou, em 2022, a maior revisão mundial sobre saúde mental deste século. O trabalho tem como objetivo fornecer um plano para governos, acadêmicos, profissionais de saúde e sociedade civil no sentido de lembrar ao mundo para a necessidade de cuidar da saúde mental. Dados da OMS indicam que, em 2019, quase 1 bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental – incluindo 14% dos adolescentes do planeta – que englobam os transtornos de ansiedade, de humor, depressão e outros.

Para incentivar a busca de ações em prol desse tema, foi criado no Brasil a campanha Janeiro Branco, cujo objetivo é chamar a atenção para as questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional. O mês de janeiro foi escolhido porque, para a maior parte das pessoas, é o período de repensar a vida, fazer novos planos e projetar sonhos e expectativas. O Brasil é considerado o país mais ansioso do planeta, com cerca de 19 milhões de indivíduos diagnosticados, e ocupa o quinto lugar no ranking global da depressão, com total de 11,5 milhões de casos.

Embora o adoecimento mental ocorra por fatores biológicos, psicológicos e ambientais, cada vez mais estudos científicos têm demonstrado que também pode haver uma estreita relação com a microbiota intestinal. “Alguns cientistas sugerem que a depressão, a ansiedade e outros transtornos mentais estão relacionados à disbiose intestinal e ao funcionamento inadequado do intestino, o que indica que o eixo intestino-cérebro-microbiota pode ter importante papel para o desencadeamento desses distúrbios”, informa a gerente de Ciências e Pesquisas da Yakult do Brasil, Helena Sanae Kajikawa.

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Uma revisão sistemática desenvolvida por cientistas da Melbourne School of Psychological Sciences da The University of Melbourne, na Austrália, mostra que evidências crescentes indicam que a comunidade de microrganismos em todo o trato gastrointestinal (microbiota intestinal) está associada a transtornos de ansiedade e depressão. Segundo os autores, pesquisas sistemáticas, seguindo as diretrizes PRISMA, identificaram 26 estudos: duas comparações caso-controle da microbiota intestinal no transtorno de ansiedade generalizada, 18 na depressão, uma incorporando ansiedade/depressão e cinco incluindo medidas apenas de sintomas. 

Pesquisadores do Department of Biological Sciences da Texas Tech University, nos Estados Unidos, publicaram um artigo mostrando que o estudo do microbioma intestinal tem revelado cada vez mais um papel importante na modulação da função cerebral e da saúde mental. Nesta revisão, destacam caminhos e mecanismos específicos pelos quais o microbioma intestinal pode promover o desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, documentam vários caminhos pelos quais a inflamação induzida pelo estresse prejudica a função cerebral e, em última análise, afeta a saúde mental, e revisam como os tratamentos com probióticos e prebióticos demonstraram ser benéficos. 

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Em um estudo realizado por pesquisadores chineses com a cepa probiótica Lactobacillus casei Shirota (LcS) foram investigados os possíveis efeitos do LcS no alívio de sintomas depressivos e na composição da microbiota intestinal. Ao final do experimento, os cientistas observaram uma melhora significativa nos sintomas depressivos após a ingestão do probiótico LcS. Em outro estudo, cientistas avaliaram o probiótico LcS na síndrome da fadiga crônica (SFC), uma doença complexa de etiologia desconhecida que, entre a ampla gama de sintomas, pode levar a distúrbios no âmbito emocional, como a ansiedade.

As pesquisas indicam que pacientes com SFC e outros distúrbios somáticos funcionais apresentam alterações na microbiota intestinal, e os cientistas sugerem que as bactérias intestinais patogênicas e não patogênicas podem influenciar os sintomas relacionados ao humor e o comportamento em animais e humanos. Neste estudo piloto, os pesquisadores relataram uma diminuição significativa nos sintomas de ansiedade, sugerindo uma interface intestino-cérebro.

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Apesar dos muitos resultados que indicam essa conexão entre os dois órgãos, a comunidade científica mundial concorda que há necessidade de ampliar os estudos para a obtenção de mais comprovações sobre o eixo cérebro-intestino-microbiota. Portanto, entender a relação dos mecanismos envolvidos com a composição da microbiota intestinal pode ser um caminho para a descoberta de novas soluções terapêuticas para esses transtornos que prejudicam tanto a vida de milhares de pessoas. “Independentemente dos novos resultados, há um consenso entre os cientistas de que é fundamental manter o bom funcionamento do intestino para a manutenção da saúde e a longevidade”, acentua Helena Sanae Kajikawa.

Mais informações – A edição de janeiro/março da revista Super Saudável, publicação da Yakult do Brasil, traz uma ampla matéria abordando a saúde mental. Na reportagem, pesquisadores explicam as diversas nuances dessas enfermidades que diminuem a qualidade de vida e prejudicam as relações pessoais e profissionais dos pacientes.