Direitos Humanos BAHIA
Nota de Repúdio
O Coletivo de Entidades Negras (CEN) vem a público manifestar o mais amplo repúdio às ações da Polícia Militar do Estado da Bahia nas comunidades periféricas, desta vez com especial atenção voltada para as comunidades da Gamboa e do Solar do Unhão, localizadas ambas às margens da Avenida Contorno, e que são alvo da violência contra corpos negros e das incessantes ações de extermínio que vitimizam a população negra das periferias soteropolitanas.
01/03/2022 20h30
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Coletivo de Entidades Negras (CEN).
Coletivo de Entidades Negras (CEN) vem a público manifestar o mais amplo repúdio às ações da Polícia Militar do Estado da Bahia nas comunidades periféricas. Card divulgação.

No dia 27/02, polícias armados, em plena luz do dia, agrediram um jovem negro, na entrada da Comunidade Solar do Unhão, durante o exercício do seu ofício enquanto guardador de veículos, desempenhado ao lado de outros moradores. Na madrugada de 28/02 para 01/03, a mesma Polícia Militar do Estado da Bahia, realizou a “Operação  Força Total", que segundo o Comandante Geral apreendeu diversas armas, mas que teve como "efeito colateral" (palavras do Comandante) o extermínio a sangue-frio de 3 jovens negros da Comunidade da Gamboa, sem estes poderem reagir.

Mais uma vez, famílias foram destruídas pelas balas da PM baiana. Mães sofrem desesperadas com a perda dos seus filhos, como conseguem mostrar imagens do protesto ocorrido após a operação. Até quando choraremos sobre o sangue dos nossos jovens negros periféricos? Até quando a morte da juventude negra periférica será tratada pelo Governo da Bahia como efeito colateral?

A Polícia Militar do Estado da Bahia institucionalizou a pena de morte à revelia do ordenamento legal. Essa pena de morte tem validade tão somente para pessoas negras das comunidades periféricas baianas. Trata-se do braço armado do Estado a serviço da higienização étnica da sociedade baiana, que continua a se valer dos privilégios da Casa Grande e da manutenção das relações coloniais em um estado que possui mais de 80% da sua população formada por negros e negras.

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Em regra, também são negros e negras que vestem a farda da Polícia Militar do Estado da Bahia e que, investidos da função de policiais militares, esquecem as suas origens e vínculos ancestrais para agir como capitães do mato a serviço de um projeto de elite, burguês, que quer fazer as nossas história e ancestralidade escorrerem em poças de sangue.

Estes são policiais (de)formados para matar seus iguais e apagar das próprias memórias os seus locais de origem, ou ainda para onde retornam diariamente após se despir da farda, as periferias da cidade.

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Nesta oportunidade, cobramos do Governador do Estado da Bahia, que silencia as mortes de negros e negras das periferias baianas em nome da boa relação com um projeto genocida, a imediata investigação e punição dos(as) polícias militares envolvidos nestas ações.

Não aceitaremos, sem reações sociais e políticas, sem denúncias Internacionais, que vidas nossas sejam tiradas como se fôssemos animais à espera do abate. Acionaremos os organismos de Direitos Humanos globais e regionais das Américas para denunciar o Estado da Bahia, como fizemos em outros casos de violações graves, a exemplo da violência sofrida por religiões de matriz africana. Estamos dispostos a expor o Estado da Bahia em tribunais internacionais pela sua prática fascista e persecutória contra os negros das favelas! 

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Toda ação policial que tenha a morte como resultado, seja de um civil ou de um militar, é uma ação mal sucedida, fazendo  da Polícia Militar do Estado da Bahia um exemplo de fracasso, ineficiência e imprecisão técnica.  Continuaremos sem nos calar jamais ao extermínio das vidas negras! Continuaremos nas frentes de batalha pela vida do nosso povo. 

Convocamos as entidades do movimento negro baiano e toda a sua militância para ser organizado ato de repúdio contra o extermínio das vidas negras. A reunião de organização será realizada no dia 03/03, 10 horas, na sede do Coletivo de Entidades Negras — Rua das Laranjeiras, n° 25, Pelourinho, Salvador/BA.