No dia 27/02, polícias armados, em plena luz do dia, agrediram um jovem negro, na entrada da Comunidade Solar do Unhão, durante o exercício do seu ofício enquanto guardador de veículos, desempenhado ao lado de outros moradores. Na madrugada de 28/02 para 01/03, a mesma Polícia Militar do Estado da Bahia, realizou a “Operação Força Total", que segundo o Comandante Geral apreendeu diversas armas, mas que teve como "efeito colateral" (palavras do Comandante) o extermínio a sangue-frio de 3 jovens negros da Comunidade da Gamboa, sem estes poderem reagir.
Mais uma vez, famílias foram destruídas pelas balas da PM baiana. Mães sofrem desesperadas com a perda dos seus filhos, como conseguem mostrar imagens do protesto ocorrido após a operação. Até quando choraremos sobre o sangue dos nossos jovens negros periféricos? Até quando a morte da juventude negra periférica será tratada pelo Governo da Bahia como efeito colateral?
A Polícia Militar do Estado da Bahia institucionalizou a pena de morte à revelia do ordenamento legal. Essa pena de morte tem validade tão somente para pessoas negras das comunidades periféricas baianas. Trata-se do braço armado do Estado a serviço da higienização étnica da sociedade baiana, que continua a se valer dos privilégios da Casa Grande e da manutenção das relações coloniais em um estado que possui mais de 80% da sua população formada por negros e negras.
Em regra, também são negros e negras que vestem a farda da Polícia Militar do Estado da Bahia e que, investidos da função de policiais militares, esquecem as suas origens e vínculos ancestrais para agir como capitães do mato a serviço de um projeto de elite, burguês, que quer fazer as nossas história e ancestralidade escorrerem em poças de sangue.
Estes são policiais (de)formados para matar seus iguais e apagar das próprias memórias os seus locais de origem, ou ainda para onde retornam diariamente após se despir da farda, as periferias da cidade.
Nesta oportunidade, cobramos do Governador do Estado da Bahia, que silencia as mortes de negros e negras das periferias baianas em nome da boa relação com um projeto genocida, a imediata investigação e punição dos(as) polícias militares envolvidos nestas ações.
Não aceitaremos, sem reações sociais e políticas, sem denúncias Internacionais, que vidas nossas sejam tiradas como se fôssemos animais à espera do abate. Acionaremos os organismos de Direitos Humanos globais e regionais das Américas para denunciar o Estado da Bahia, como fizemos em outros casos de violações graves, a exemplo da violência sofrida por religiões de matriz africana. Estamos dispostos a expor o Estado da Bahia em tribunais internacionais pela sua prática fascista e persecutória contra os negros das favelas!
Toda ação policial que tenha a morte como resultado, seja de um civil ou de um militar, é uma ação mal sucedida, fazendo da Polícia Militar do Estado da Bahia um exemplo de fracasso, ineficiência e imprecisão técnica. Continuaremos sem nos calar jamais ao extermínio das vidas negras! Continuaremos nas frentes de batalha pela vida do nosso povo.
Convocamos as entidades do movimento negro baiano e toda a sua militância para ser organizado ato de repúdio contra o extermínio das vidas negras. A reunião de organização será realizada no dia 03/03, 10 horas, na sede do Coletivo de Entidades Negras — Rua das Laranjeiras, n° 25, Pelourinho, Salvador/BA.