A verdadeira causa da guerra entre a Rússia e a Ucrânia não está sendo considerada por muitos analistas de política internacional. Por ignorância ou por estarem a serviço de quem fomenta esta guerra entre tantas que aconteceram a partir do século XX, estes analistas não revelam que a indústria bélica é a verdadeira causa das guerras no mundo.
Foi a indústria bélica, sobretudo dos Estados Unidos, que, após o fim da União Soviética, incentivou a manutenção da OTAN, aliança militar criada para fazer frente à União Soviética e seus aliados após a 2ª Guerra Mundial. A decisão lógica e racional seria a dissolução da OTAN após o fim da União Soviética como ocorreu com o Pacto de Varsóvia, aliança militar dos países socialistas europeus.
A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foi criada no contexto da Guerra Fria, em 1949 tendo como seu principal objetivo conter a expansão do socialismo na Europa ocidental. A OTAN tem como um de seus pilares garantir a segurança de seus países-membros, que pode ocorrer de forma diplomática ou com o uso de forças militares.
Os países-membros da OTAN fornecem parte de seu contingente militar para eventuais ações desse porte, uma vez que a organização não possui força militar própria. Grande parte das operações realizadas pela OTAN desenvolveu-se no Hemisfério Norte, como no Afeganistão, Kosovo, norte da África, Oriente Médio, entre outros.
Após 1990, a OTAN realizou a invasão do Iraque sob a liderança dos Estados Unidos. Houve, também, intervenção da OTAN liderada pelos Estados Unidos na Guerra da Bósnia que levou à dissolução da antiga Iugoslávia em 1992. Além da cooperação militar entre seus países-membros, a OTAN também contribui com a Organização das Nações Unidas (ONU) como seu braço armado intervindo em áreas consideradas perigosas por esta última organização.
No século XXI, sob a liderança dos Estados Unidos, a OTAN envolveu-se em missões no Iraque (2004) e Afeganistão (2003), interviu na pirataria no golfo de Aden e no oceano Índico, além de realizar missões durante a Primavera Árabe, com a derrubada do governo de Gaddafi na Líbia, em 2011 e na tentativa de derrubada do presidente Bashar El-Assad da Síria, em 2013. A OTAN contava até a dissolução da União Soviética com 16 países: 1) Alemanha; 2) Bélgica; 3) Canadá; 4) Dinamarca; 5) Espanha; 6) Estados Unidos; 7) França; 8) Grécia; 9) Holanda; 10) Islândia; 11) Itália; 12) Luxemburgo; 13) Noruega; 14) Portugal; 15) Turquia; 16) Reino Unidos.
Para atender os interesses da indústria bélica, a OTAN se expandiu, após o fim da União Soviética, atraindo mais 14 países que integraram o sistema socialista do leste europeu como Albânia, Bulgária, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Macedônia, Montenegro, Polônia, República Tcheca e Romênia. Com a adesão desses países iniciou-se o cerco da Rússia que se completaria com a incorporação da Ucrânia à OTAN
É preciso entender que, do ponto de vista da indústria bélica, a tentativa de incorporação da Ucrânia à OTAN levaria à reação da Rússia como está acontecendo e ao aumento de suas vendas 2 de armamentos à Ucrânia e aos países da OTAN que adquiriram mais armas para lidar com uma possível guerra com a Rússia.
Figura 1- O cerco da Rússia pela OTAN na Europa Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60129112 A quem interessa o conflito armado na Ucrânia? Não há dúvidas que o maior interessado com o conflito é a indústria bélica com a venda de armas. Recentemente, o Congresso dos Estados Unidos votou um projeto de lei chamado “Proteger a Ucrânia”, no valor de US$ 500 milhões para fornecer armamento à Ucrânia. O mesmo está acontecendo com outros países integrantes da OTAN.
Pergunta-se: Mesmo bem armada, a Ucrânia teria condições de vencer a guerra com a Rússia? A resposta é não. Além da ampla superioridade militar, a Rússia é uma potência atômica, o que torna impossível um confronto direto dos aliados da OTAN, à exceção dos Estados Unidos, com a Rússia. Mas quase todos os países da região estão comprando armas, equipamentos militares e munição.
Com 102 guerras em seu "currículo" belicoso, os Estados Unidos são, provavelmente, um dos países mais envolvidos em ações militares do mundo que começou com a anexação de terras do México a seu território. Não é coincidência que os Estados Unidos sejam um dos países que mais se beneficiam economicamente de confrontos armados, já que as maiores exportadoras de armas do mundo são norte-americanas.
Para além da venda de 3 munição e armas, os Estados Unidos monetiza, também, com contratos de segurança e treinamento militar, o que faz com que muitos membros do Congresso estadunidense entendam as guerras como uma máquina de emprego e dinheiro. A paz, para os Estados Unidos, poderia custar muito caro. São esses fatos que levam muitos a questionarem a real motivação dos Estados Unidos na defesa da Ucrânia, que há anos vive em estado de tensão com a Rússia.
Dos 10 maiores fabricantes de armas do mundo, seis são norte-americanas, sendo cinco delas líder da indústria bélica mundial como mostra o quadro a seguir: Fonte: https://www.poder360.com.br/internacional/100-maiores-empresas-de-armas-venderam-us-531- bilhoes-em-2020/ Não há dúvidas que a indústria bélica patrocina a guerra na Ucrânia como promoveu outras guerras no passado para ganhar dinheiro.
A produção recorde de armamentos, cada vez mais letais e cirúrgicos, necessita ser posta para funcionar na prática. Pudessem ser exibidos à luz do dia, veríamos que os principais patrocinadores dessa guerra fratricida é a indústria bélica, de ambos os lados das trincheiras.
E pensar que a macabra tecnologia que fabrica esses moedores de carne humana é desenvolvida por ex-alunos das melhores universidades do planeta, sendo que muitas dessas máquinas da morte são financiadas graças aos impostos pagos pela população civil. Nas mãos de celerados, essas tecnologias mortíferas acabam promovendo o show de horrores que as emissoras de TV transmitem ao vivo e a cores.
O absurdo é observar que os alvos dispostos para receber os tiros certeiros dos mísseis de última tecnologia, orgulho da capacidade bélica de um povo, são justamente casas de civis, escolas, hospitais, praças, igrejas e outros monumentos construídos para celebrarem a vida em comunidade e a paz entre as pessoas.
O que o mundo assiste agora em tempo real é ao show da morte de sempre. 4 Fica evidente que, enquanto houver indústria bélica no mundo, as guerras continuarão a proliferar em todo o planeta. A paz no mundo só acontecerá quando houver o desarmamento de todos os países e a cessação da fabricação de armas.
* Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHCO Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998),
Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia SustentávelPara o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em coautoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021)