Precabura, maior lagoa da Grande Fortaleza, será transformada em uma Unidade de Conservação (UC) estadual. Essa foi a boa notícia, que todos os participantes da reunião ocorrida nessa quinta-feira (23), no gabinete executivo da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), levaram como certa. “Mesmo sendo uma área com o entorno muito antropisado, com flora e fauna, ainda muito relevantes, tem todo potencial para se tornar uma área protegida, ademais é uma antiga reivindicação de lideranças ambientalistas e da comunidade que vive na região”, disse.
Trata-se de um manancial localizado na divisa entre os municípios de Fortaleza e Eusébio, Brasil. Formando-se a partir do leito do Rio Coaçu, um afluente do Rio Cocó, a lagoa também recebe água da UC de Proteção Integral das Dunas da Sabiaguaba. Com rico ecossistema, no qual se destacam as áreas de carnaúbas, de dunas e a grande variedade de espécies aquáticas, a lagoa é considerada o maior espelho d’água da Região Metropolitana de Fortaleza.
O geógrafo e pesquisador, Jader Oliveira Santos, e integrante do Programa Cientista Chefe Meio Ambiente, também participou e explicou que a UC que será criada faz parte do escopo do sub- projeto do Programa Cientista Chefe Meio Ambiente, que é o de realização de estudos técnicos para criação de áreas protegidas. “A Precabura é uma das áreas prioritárias levantadas pela nossa equipe que já se reuniu com a comunidade, levantou estudos que já vinham sendo desenvolvidos e elaborou proposta para a criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA)”, afirmou.
“Hoje foi um encontro com lideranças comunitárias, lideranças políticas, para apresentação de uma proposta inicial do que seria a UC. Essas reuniões já aconteceram com as administrações municipais de Fortaleza e Eusébio. Vamos dar seguimento com a marcação da consulta pública, prevista para a segunda quinzena de julho, quando será apresentada a proposta geral para a sociedade”, seguiu relatando o pesquisador. A área a ser protegida abrange dois municípios, Fortaleza e Eusébio, com aproximadamente 646 ha.
Daniele da Silva Ferreira, presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Precabura, e que já esteve em reuniões anteriores na Sema para tratar contou da peleja pela preservação do recurso hídrico e que carrega dentro de si, a questão da proteção da lagoa, desde o tempo do seu avô pescador. “Eu nasci e me criei na Precabura, sempre comi o peixe que vinha de lá, uma luta longa e mesmo assim satisfatória”, recorda. “Hoje saímos daqui com notícias muito positivas e agora tenho a certeza que sai essa tão esperada unidade de conservação”, declarou.
Também participou da reunião, outro importante representante da comunidade, Paulo Pereira da Silva. Ele nasceu à margem da Lagoa da Precabura, assim como seus pais e todos os seus ancestrais. “Eu sou da família Floriano, a primeira que temos notícias de ter se estabelecido no território”, relatou. Disse ainda, que que não por acaso, a palavra Precabura é de origem do Tupi e significa “Vale da Batalha”. Para Silva, a criação da UC tem sido uma longa batalha e criá-la será “um grande passo” para que as próximas gerações possam conhecer e usufruir , “no futuro”, do recurso bem cuidado e preservado. “Proteger a Lagoa da Precabura é proteger o futuro de todas as gerações”, declarou com veemência.
De acordo com Renan Guerra, da Célula de Diversidade Biológica (Cedib/Cobio), da Coordenadoria de Biodiversidade (Cobio/Sema), e integrante do Cientista Chefe, o processo que propõe a nova UC, dentro de um contexto histórico, remonta a Década de 90, mas a tramitação só iniciou em 2017. Explicou que a Cedib/Cobio veio responsável pelo processo e condução dos estudos e agora conta com a parceria do Cientista Chefe, para a finalização dos mesmos. “Assim chegamos ao cenário de uma APA que terá como principal diferencial a conectividade com outras UCs”, destacou.
Quando criada, a APA fará limites , mais ao Norte, com a Sabiaguaba, mais ao Leste com a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Sítio Curió, o que vai gerar um grande mosaico de UCs no contexto de Fortaleza e Região Metropolitana. “Inclusive vai reverberar com a próxima criação do Parque das Águas”, destacou Guerra. Assim, o Corredor Ecológico vai conseguir conectar o Litoral até o Maciço de Baturité. O técnico também se referiu ao Coaçu e afirmou que mais importante que criação da própria UC da Precabura, é o rio que deságua na Lagoa”, encerra.
A pesquisadora Angela Ostritz, da área de cooperação social da da Fiocruz no Eusébio, um dos municípios da área de interesse da lagoa, informou que a Fiocruz ao se instalar nesse território teve a “grande preocupação de integrar a ciência e a saúde” com a comunidade. “Começamos um trabalho de integração e buscamos entender as demandas dessa comunidade e descobrimos que a grande demanda da mesma é a criação dessa unidade de conservação”, informou, destacando que por meio da Fiocruz, foi feita “uma articulação para chegarmos a esse momento”.
Também participaram da reunião: os vereadores Guilherme Sampaio (PT) e Gabriel Aguiar (Psol); o Advogado João Alfredo; e Fernando Carneiro da Fiocruz.
As UCs são criadas apenas por ato do Poder Público, seja no âmbito dos governos federal, estaduais ou municipais, podendo ser públicas ou privadas. No caso do Ceará, a SEMA é a responsável pela criação de UCs e em âmbito federal, o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMbio). O Ceará conta com 34 UCs estaduais e 95 federais. Para saber mais sobre UCs no Estado do Ceará visite o site da Sema.