Por Carlos Tautz*
Àquela altura, saímos da ditadura empresarial e militar de 1964, construindo frágeis pactos de convivência entre vencedores (os empresários e os militares) e os perdedores (todo o povo brasileiro) do golpe que derrubou João Goulart.
O principal desses pactos foi a Constituição promulgada pelo Congresso Nacional em 5 de outubro de 1988. Com ela, tentávamos compreender o mundo onde a “questão ambiental” emergiu como novo paradigma articulador de uma hegemônica cosmovisão global.
O kayapó Raoni percebeu, como poucos, aquele momento histórico. Manejou as oportunidades abertas pela emergência ao nível global da “questão ambiental” e liderou uma geração de indígenas que incluiu na Carta Magna — uma ambiciosa tentativa de retomar e modernizar a conclusão de Brasil criminosamente interrompida no 1.º de abril que derrubou Jango — direitos reivindicados por povos indígenas.
Aqueles pactos consolidados na Constituição vêm sendo desfeitos por toda sorte de conjunturas políticas. A mais recente, abjeta e perigosa é protagonizada desde 2018 por este Jair Bolsonaro.
Tendo clara a ressonância global de sua voz, ele vem resistindo à clara estratégia de genocídio perpetrada por Bolsonaro e suas bases eleitorais.
Formal e/ou informalmente, essas bases são integradas pelo grande negócio agrícola, mineradoras ilegais e, até, pelo crime, como pode ser observado nas (gangues) de bandidos-garimpeiros que invadiriam terras Yanomami contíguas ao rio Palimiú (RR).
Por ter-se colocado publicamente contra este cenário, Raoni foi indicado em 2020 ao Prêmio Nobel da Paz.
A ABI escolheu entrevistar Raoni para marcar este 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Não foi possível fazê-lo a tempo. Raoni, além de ser uma pessoa idosa (tem incertos mais de 90 anos), que precisa de cuidados especiais com a saúde, vive no interior no Mato Grosso, na Terra Indígena Capoto-Jarina. Periodicamente passa por exames médicos — e, durante uma dessas passagens, gravou um depoimento histórico, em resposta às questões que lhe enviamos.
A entrevista que gravamos com o Cacique está sendo editada no momento em que você está lendo esse texto, e deve estar disponível aqui, com exclusividade no site da ABI, entre os dias 6 e 7 de junho. Para tanto, foi decisiva a ajuda do Instituto Raoni, criado e mantido por membros das comunidades Mẽbêngôkre/Kayapó em 2001, e sediado na cidade de Peixoto de Azevedo (MT).
*Jornalista e doutorando em História Contemporânea na Universidade Federal Fluminenses (UFF).
PS — Esse texto sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente marca a criação da Comissão de Meio Ambiente da ABI.