Ação Social Bahia
Técnicos do Cras e do Creas recebem qualificação sobre saúde mental da população LGBTPQIA+
Objetivo foi melhorar a escuta oferecida pelos serviços da rede socioassistencialComo parte da programação do Maio da Diversidade, a Prefeitura de ...
17/05/2022 19h20
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Prefeitura Mun. Vitória da Conquista - BA
Foto: Reprodução/Prefeitura Mun. Vitória da Conquista - BA
Objetivo foi melhorar a escuta oferecida pelos serviços da rede socioassistencial

Como parte da programação do Maio da Diversidade, a Prefeitura de Vitória da Conquista ofereceu na tarde de hoje (17), no auditório do Planetário Professor Everardo Públio de Castro, no Centro Cultural Glauber Rocha, a oficina “Saúde Mental da População LGBTPQIA+”, direcionada a coordenadores e gerentes do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), além de representantes da própria população LGBTPQIA+.

A palestra foi ministrada pela psicóloga Aracely Schettine, ex-gerente do Caps-AD. Segundo ela, é possível identificar, em pessoas afetadas pelo sofrimento mental, comportamentos típicos de alguém cuja personalidade encontra-se em desorganização – ou “em desconstrução”, como explicou a palestrante. Como exemplo, ela citou o comportamento de esquiva, a introversão, a dificuldade de aprendizagem e de interação social e o sentimento de autodepreciação. Tudo isso pode levar a condutas autolesivas.

Como um sintoma dessa rejeição da própria personalidade – ou do próprio eu –, tanto pela própria pessoa quanto pelas pessoas que a cercam, Aracely citou o abuso de drogas. Trata-se de uma tentativa de “anestesiar” a dor existencial causada por todo esse sofrimento mental. É um subterfúgio para suportar o que, na prática, pode ser descrito como uma violação de seus corpos.

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Aracely descreveu que esse sentimento de ausência de saúde mental toma todas as pessoas que não se sentem incluídas na chamada sociedade cis-heteronormativa – aquela que considera “normais” apenas as pessoas que se enquadram nas definições sexuais convencionais. Ou seja, as pessoas que podem ser incluídas na heterossexualidade e na cisgeneridade. Explicando melhor: somente homens e mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente com pessoas do sexo oposto.

A psicóloga Aracely Schettine falou sobre o processo de “desconstrução” das pessoas em razão do sofrimento mental.

Qualquer pessoa que não viva de acordo com essas normas binárias de gênero e sexualidade, como informou Aracely, costuma ser excluída do grupo dos seres humanos ditos “normais”. E, em razão disso, geralmente sofre um processo de marginalização por parte daqueles que consideram legítimas apenas as condutas sexuais heteronormativas. Daí o sentimento que essas pessoas expressam: sofrimento mental, auto-depreciação, dificuldade de interação, ect. – isso quando não chegam ao ato extremo de se autolesionar.

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“É muita dor sustentável. Quanto mais a gente naturalizar, falar sobre isso, problematizar, escutar o outro e ter também os limites dessas pessoas, e sinalizar para elas que elas podem se desvencilhar disso e se reconstruir, é algo que a gente precisa ofertar sim”, detalhou a palestrante. “Não é em uma conversa que a gente consegue, não é nenhum atendimento. É um processo de desconstrução para tentar acabar com isso”, disse ainda Aracelly.

Dar melhor condição de vida e acolhimento

Todo esse conteúdo, segundo José Mário Barbosa, coordenador municipal de Políticas LGBT da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes), precisa ser repassado aos trabalhadores da rede de serviços que lida com o público em geral. Foi essa a intenção da oficina: prepará-los para lidar com os recortes populacionais, a exemplo das populações preta, indígena, quilombola, pobre, mulher, juventude, LGBTPQIA+, etc.

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“Nós percebemos que a pessoa que é travesti, que é trans, tem dificuldade de dizer: eu sou, eu tenho direito de ser bem acolhido. Então, esta oficina é para que os nossos trabalhadores do Cras e do Creas, que são os territórios vivos e físicos, possam se qualificar para a escuta e dar uma melhor condição de vida para o acolhimento a essas pessoas”, afirmou José Mário.

“É para que eles identifiquem, dentro da rede, para quais redes essas pessoas podem ser orientadas a ir para terem uma condição de atendimento muito melhor”, complementou o coordenador.

Ed Souza, gerente do Centro Pop Adulto.

Escuta é melhorada

Para o gerente do Centro Pop Adulto, Ed Souza, a participação na oficina terá consequências futuras positivas, tanto para ele para seus colegas de serviço quanto para as pessoas buscarem pelo atendimento que eles oferecem. “A nossa escuta é melhorada. E eu, na condição de gerente, passo a treinar e a passar coisas novas para os nossos técnicos, já que eles têm contato direto com esse público”, relatou Ed.

“Nós não temos tido dificuldades, até então, em receber o público LGBTPQIA+. Mas é claro que o aprendizado vai nos dar mais condições de dar a eles um melhor atendimento. Vou passar isso à frente para que os técnicos, levando materiais audiovisuais para que possamos te rum Centro Pop mais adequando a esse público em especial”, concluiu o gerente.