Justiça Reparação.
‘Acervo da Pandemia’ pode ajudar famílias de vítimas da Covid-19 a buscar reparação na Justiça.
A coleta e curadoria dos documentos foram feitas por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores.
26/04/2025 00h42
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Agência Acadêmica / José Roberto Ferreira
Rosângela Oliveira Silva, presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico). Fotos: Divulgação.

Apresentado como marco dos cinco anos da primeira morte por Covid-19 no Brasil, o Acervo da Pandemia — uma plataforma digital desenvolvida pelo Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) — é uma ferramenta estratégica não apenas para preservar a memória do que ocorreu durante a crise sanitária, mas também para embasar juridicamente ações de familiares de vítimas em busca de reparação. 

“O Acervo contém um arcabouço de fatos que demonstram toda a responsabilidade do estado brasileiro no período da pandemia”, afirma Rosângela Oliveira Silva, presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico), que foi parceira no projeto. “A um operador do Direito, por exemplo, que queira entrar com uma ação na Justiça, o Acervo dá a possibilidade de recorrer aos fatos de forma séria, com dados fidedignos, bem catalogados, de fácil acessibilidade”. 

A coleta e curadoria dos documentos foram feitas por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores. Informações enganosas promovidas pelo “necrossistema da pandemia” são contrapostas por explicações de fontes científicas qualificadas. 

Continua após a publicidade
google.com, pub-9319522921342289, DIRECT, f08c47fec0942fa0

Para Rosângela, além de colaborar com a responsabilização de agentes públicos que negligenciaram a gestão da crise, o Acervo pode embasar a construção de políticas públicas de assistência, saúde e previdência, a partir das evidências registradas. “O Brasil ainda não deu resposta do ponto de vista da reparação. Mas o Acervo colabora no sentido de permitir que a população não fique no esquecimento. São materiais que podem ser utilizados inclusive por autoridades e parlamentares”, diz. 

Com cerca de 150 registros com evidências de condutas criminosas e negacionistas já disponíveis e mais de 100 em análise, o Acervo da Pandemia expõe vídeos, documentos oficiais, reportagens, áudios e análises em 17 eixos temáticos — entre eles, Omissões e ConivênciasÉtica e Autonomia MédicaCiência e Evidência, Tratamento Precoce, e Vacina. A plataforma, inédita em sua abrangência e curadoria, mostra como a condução da pandemia no Brasil impactou diretamente a vida da população, com ênfase nas decisões e omissões de agentes públicos. 

Continua após a publicidade
google.com, pub-9319522921342289, DIRECT, f08c47fec0942fa0

“O Acervo da Pandemia não é apenas um repositório de documentos. Ele é um testemunho do que ocorreu no Brasil durante um dos períodos mais críticos da nossa história. Seu propósito é servir como fonte para pesquisadores, jornalistas, formuladores de políticas públicas e para qualquer cidadão que queira entender os erros e acertos na gestão da pandemia”, afirma Soraya Smaili, coordenadora do SoU_Ciência, professora titular da Escola Paulista de Medicina e ex-reitora da Unifesp. 

Além da participação da Avico, a plataforma foi construída com a colaboração da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Centro de Pesquisas em Direito Sanitário da USP (Cepedisa/USP), além de grupos de mídia independente, como Medo e Delírio em Brasília e Camarote da República. 

Continua após a publicidade
google.com, pub-9319522921342289, DIRECT, f08c47fec0942fa0

“A criação do Acervo da Pandemia representa um esforço fundamental para evitar que essa história seja apagada e permaneça impune. O negacionismo teve consequências concretas e, para que erros semelhantes não se repitam, é essencial que a sociedade tenha acesso a esses registros e que justiça e reparação sejam feitas”, completa Soraya Smaili. 

De acesso gratuito, o Acervo está disponível aqui. O SoU_Ciência convida pesquisadores e cidadãos a contribuírem com o envio de novas evidências que possam progressivamente ampliar a base de dados. 

Soraya Smaili, coordenadora do Centro de Estudos SoU_Ciência.