Geral Opinião
Inteligência artificial e a crise perpétua do jornalismo.
(*) Guilherme Carvalho
15/04/2025 00h14
Por: Redação Fonte: Jennifer Koppe / @nqm.com.br
Guilherme Carvalho é professor do Centro Universitário Internacional Uninter Arquivo Uninter

A pesquisadora estadunidense Elisabeth Breese escreveu: “toda vez que uma tecnologia nova aparece, alterando as configurações do mercado e da atividade, elas são vistas pelos próprios jornalistas como uma deterioração do jornalismo e não como agregação”. A aversão que muitos jornalistas têm em relação a tecnologias como a inteligência artificial é mais uma das impressões negativas que todas as mudanças ao longo da história provocaram em termos de impacto na atividade profissional. Foi assim com a introdução do rádio, quando o impresso era o principal meio de comunicação. O mesmo com a TV, com a passagem da máquina de escrever para os computadores e com o aparecimento da internet e das redes sociais.

Parte do pessimismo dos jornalistas é alimentado por fatores como mudanças estruturais no emprego em redações, redução de tiragem e extinção de impressos, um cenário de hiperconcorrência com outros formatos midiáticos, sobretudo em redes sociais, fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional, entre outros aspectos.

Como se não bastasse tudo isso, o jornalista opera na mediação entre o espaço público e privado. Precisa conciliar os interesses do público, dos políticos, dos anunciantes, dos chefes e, claro, os seus próprios. Ao lidar cotidianamente com estes interesses que esticam a corda da ética jornalística e, às vezes, arrebentam-na, o jornalista, não raras vezes, se frustra pela incapacidade de exercer maior autonomia no seu trabalho.

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Por fim, consideremos ainda o fato de que a atividade jornalística é marcada prioritariamente pela notícia-problema. Ou seja, são os fatos negativos da sociedade que se tornam mais relevantes e vendáveis, conforme descrito por Jeremy Iggers, no livro “Good news, bad news”, isto é, notícia boa comercialmente falando, são as notícias sobre fatos ruins.

A mesma Elisabeth Breese diz que o jornalismo é uma atividade marcada historicamente pelo signo da crise. Uma crise perpétua, diz ela. Portanto, diferentemente de outras áreas, no jornalismo o pessimismo é uma marca histórica e valorativa. Um bom profissional é aquele que exercita o senso crítico apurado, sensível aos problemas, às irregularidades, às injustiças.

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A incompreensão desta condição pode levar muitos jornalistas a um comportamento conservador, em que as mudanças precisam ser evitadas. Por outro lado, se adequar a um contexto em que entretenimento em redes sociais torna-se mais atrativo do que a informação tratada profissionalmente também é arriscado. 

Sou dos que entendem que os jornalistas precisam se distinguir das demais formas de comunicação, principalmente em tempos de proliferação de conteúdos falsos. É preciso resguardar a essência da profissão: atenção aos fatos relevantes, apuração, precisão, checagem e outros procedimentos que podem assegurar a confiabilidade da notícia para o público consumidor. Estas práticas que associam ética, teoria, técnica e estética jornalística, formadas no âmbito ensino superior, precisam estar associadas à disposição em aprender constantemente, incorporando tecnologias e linguagens que permitam se conectar com o público. A inteligência artificial, assim como outras tecnologias, precisa fazer parte do trabalho jornalístico, sem abrir mão do velho senso crítico que permitirá reconhecer as limitações e riscos que estes sistemas oferecem.

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*Guilherme Carvalho tem pós-doutorado em jornalismo, professor de graduação do curso de jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)