Doutora Nancy. É assim que todos se reportam à gerente de Enfermagem do Hospital São José (HSJ), Nancy Costa de Oliveira Caetano. O termo não só faz alusão à sua qualificação como Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC), como também denota respeito e reverência à gestora, que, há mais de uma década, exerce a função de liderar 487 profissionais da Enfermagem na instituição.
Servidora do Sistema Único de Saúde (SUS) há 31 anos, Nancy Costa iniciou a carreira de Enfermagem em Capistrano, município do interior do Ceará, no ano de 1994, sendo uma das pioneiras na implementação do Programa de Saúde da Família no estado, lançado naquele mesmo ano. A enfermeira integrou ainda a primeira turma de especialização em Saúde da Família na Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE).
Servidora do SUS há mais de 30 anos, enfermeira Nancy Costa destaca amor pelo ato de cuidar como motivo pelo qual escolheu a profissão
“Eu tive a oportunidade tanto de vivenciar na teoria como na prática, o que nos dá uma fortaleza enquanto profissionais, por essas questões consubstanciadas de teoria e prática. Viver com e para a população do SUS, ensinando e aprendendo com essa população, foi um momento riquíssimo na minha vida”, relata. Além do doutorado, Nancy também possui especialização em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e mestrado em Enfermagem pela UFC, além de diversos cursos na área de gestão e saúde, definindo-se como uma “eterna aprendiz” para fazer frente aos desafios inerentes à profissão.
A paixão pelo ofício, segundo ela, vem desde criança. “Aos sete anos de idade, eu já me sentia enfermeira. Eu lembro que, naquela época, tinha aquelas marchas e comemorações do sete de setembro, e eu disse para a minha mãe: eu quero ir de enfermeira, porque eu sou enfermeira”, recorda, entre risos. Para Nancy, essa atração pela Enfermagem está relacionada ao seu amor pelo ato de cuidar de pessoas. Ao longo de sua carreira, ela vivenciou várias experiências marcantes, mas destaca uma que considera um verdadeiro divisor de águas, envolvendo um paciente com tuberculose que já havia abandonado o tratamento três vezes, devido ao vício em bebida alcoólica.
Após alguns meses, o paciente já não ia mais tomar a cachaça pela manhã e passou a frequentar as consultas regularmente. O fim do tratamento, conforme Nancy relembra, foi uma verdadeira comemoração no posto de saúde, com direito a bolo e refrigerante. “Para mim, isso foi uma vitória, o maior troféu que eu já ganhei”, compartilha.
O amor pelo ato de cuidar, no entanto, não se restringe somente aos pacientes, alcançando também a equipe de Enfermagem do Hospital São José, instituição onde trabalha há mais de duas décadas, sendo metade desse período dedicado à gerência de Enfermagem da unidade. Há 10 anos, Nancy lida com a difícil tarefa de gerir uma equipe plural, sempre com foco em levar o melhor atendimento ao protagonista da instituição: o paciente. “De um modo geral, para mim, é um desafio que vale a pena, em todos os sentidos. Porque eu amo a gestão e amo o cuidar. E esse cuidar se estende, inclusive, para os colaboradores”, finaliza a gestora.
E se a arte pudesse tornar a jornada do tratamento de doenças renais crônicas mais leve? Foi com este pensamento em mente que a enfermeira Suely Freitas de Oliveira, hoje já aposentada, ajudou a criar em março de 2001, no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), o projeto Rim Art.
A iniciativa reúne pacientes transplantados e da ala de hemodiálise do hospital para a produção de artesanato, como bonecas, mandalas, porta-retratos, chaveiros, porta-joias e outros itens. Mais do que uma ocupação, o projeto tornou-se um espaço de acolhimento e fortalecimento da autoestima dos participantes.
“Eu via no olhar deles o peso da rotina hospitalar, a angústia da espera, as incertezas. E aí, um dia, conversando com a [também aposentada] assistente social Ana Filizola, eu disse: ‘Ana, vamos ensinar artesanato para esses pacientes?.’ Ela respondeu: ‘Suely, eu não sei pregar nenhum botão.’ E eu disse: ‘Mas eu sei.’ E foi assim que tudo começou”, relata a enfermeira.
Cada ponto bordado e cada peça moldada carregam histórias de superação. Uma delas é de Ana Colares, de 58 anos, transplantada há quatro anos. Para ela, o projeto é, também, um lugar de pertencimento. “No começo, eu só observava. Minha cabeça estava cheia de problemas, vivia preocupada, com medo do futuro, pensando besteira e o Rim Art me trouxe vontade de viver. Me sinto em casa aqui”, pontua.
A residente de assistência social do HGF, Kyssula Costa, acompanha o projeto e vê de perto como a arte tem um poder que a medicina, sozinha, não alcança. “Aqui, eles não são apenas pacientes, são artistas, amigos, pessoas que se ajudam e se fortalecem. O projeto cria um ambiente de acolhimento que vai além da terapia médica”, relata.
Aos 75 anos, Suely continua se dedicando ao projeto com a mesma dedicação de sempre, mas reconhece que manter a iniciativa é um desafio constante. “Cada peça produzida é um pedacinho dessa história que começou há 24 anos. É um testemunho de superação”, defende ela.