Uma distância de 8 mil quilômetros e quase 45 graus de diferença no termômetro. Esses são alguns dos desafios que a jovem Mônica Cristina Lima, de 15 anos, vai cumprir para realizar um sonho. Ela vai trocar a Ilha das Peças, em Guaraqueçaba, no Litoral paranaense, por outra ilha na Nova Escócia, província do Canadá. A estudante está entre os 500 alunos que embarcam nesta semana para o país norte-americano, por meio do programa Ganhando o Mundo, do Governo do Estado.
Nascida em Paranaguá, Mônica mora há cinco anos na ilha com a mãe, a irmã, o padrasto e vários animais, e vai ser a primeira estudante da comunidade, que tem cerca de 300 habitantes, a participar do Ganhando o Mundo. É também a primeira pessoa da família a viajar para fora do país – até agora, as viagens mais longas que já fez foi para Santa Catarina e São Paulo, esta última, para tirar o visto para o intercâmbio.
“Era um sonho da minha mãe fazer intercâmbio, mas minha avó não permitiu na época porque achava perigoso ficar longe da família. E o meu sonho era ir para o Canadá, que foi isso o que me deu mais ânimo para persistir e participar do programa”, diz Mônica. “Apesar de morar na ilha, eu gosto muito de frio, sonho em conhecer a neve, fazer um programa dehigh school, andar nos ônibus amarelos. Tudo isso está próximo de acontecer”.
O embarque está marcado para a próxima sexta-feira (31), no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Além dos 500 alunos que vão para o Canadá, ao todo 1,2 mil estudantes da rede estadual participam da atual edição do Ganhando o Mundo, que é a maior até agora, com intercâmbios previstos também para Estados Unidos, Irlanda, Reino Unido e Nova Zelândia. Outros 100 alunos dos colégios agrícolas paranaenses vão estudar por um período em escolas do estado de Iowa, nos Estados Unidos.
A preparação de Mônica para o intercâmbio começou logo que recebeu a notícia de que tinha sido selecionada, em junho, quando o diretor fez uma surpresa compartilhando a conquista dela com a escola inteira. “O diretor reuniu a escola toda para anunciar. Depois de uns três ou quatro meses, descobri que ia para o Canadá, e então começou a corrida para o cartório, para tirar visto em São Paulo, as aulas de inglês. Agora só falta o embarque”, conta.
E além da oportunidade de futuro que se traça – a estudante pretende cursar Medicina Veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFPR) –, a participação no Ganhando o Mundo também uma ponte com o passado, realizando o sonho da mãe, a técnica de enfermagem Andreia de Freitas Correia, de 45 anos.
"Era um sonho antigo meu, que hoje minha filha está realizando. Sempre quis fazer um intercâmbio, mas na época meus pais não tinham muitas condições e nem muita confiança para me mandar para fora. Hoje tem as tecnologias, com celular e internet é possível conhecer as famílias e o lugar onde o filho vai ficar, mas antigamente tinha nada disso”, afirma.
“É uma mistura de sentimentos, porque vou ficar longe dela por seis meses, mas também sinto orgulho e alegria por ela estar realizando esse sonho, que é compartilhado com a família e a comunidade. Eu faço minha parte como mãe, mostro os caminhos, mas agora é com ela, que vai ganhar o mundo”.