Após percorrer a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes e subir as cordilheira dos Andes, o 12° Festival Pachamama – Cinema de Fronteira, retorna a cidade de Rio Branco, onde começa nesta terça-feira, 10, e vai até o dia 14 de dezembro, a 3ª etapa, com exibições de filmes, debates, formações e muita celebração. Realizado pela produtora Saci Filmes, por meio da Lei Paulo Gustavo, o festival conta com apoio do governo do Acre, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM).
A 3ª etapa do “Festival Pachamama: da Floresta aos Andes” conta com entrada gratuita, será realizada em diferentes pontos estratégicos, tendo como base principal o Cine Teatro Recreio, na Gameleira, conectando a cultura da floresta aos Andes e promovendo reflexões sobre cinema, sustentabilidade e diversidade cultural.
Após as duas primeiras etapas, realizadas em outubro e novembro e que passaram por Xapuri, Brasiléia, Assis Brasil, Bolívia e cidades no Peru, como Cusco, Lama, Moyobamba e Pucallpa, o festival volta à capital acreana.
Para a diretora artística do festival, Karla Martins, o Festival Pachamama é, para além de um festival de cinema, um lugar de mostra e de intercâmbios transfronteiriços que compõem a tríplice fronteira: Brasil, Bolívia e Peru. “Esse encontro é muito importante, e a partir da cultura, tracionar esses pensamentos de emanamento, de construção de pontes transfronteiriças e, a partir da cultura, criar ligas diferenciadas para conectar pessoas”, afirma.
Em edições anteriores, o Festival Pachamama se deslocava somente até à cidade de Cusco. Este ano o evento adentrou a Amazônia Peruana, seguindo para as cidade de Lamas, Moyobamba e Pucallpa. “Essa é uma maneira de utilizar um momento cultural, um momento artístico, para ampliar as relações de intercâmbio e as possíveis criações coletivas na área da cultura; e eu poderia dizer que até em outras áreas a partir desse intercâmbio”, destaca a diretora.
Este é o 12º ano do Festival. Houveram dez edições contínuas, uma interrupção em 2020, uma edição on-line em 2021, 2022 e 2023 não teve, e retoma em 2024, e a expectativa é que ano que vem as mostras competitivas retornem.
Karla Martins traz ainda um destaque: “Nós temos na programação do Festival um filme peruano, que acabou de ganhar o Festival de Cine de Lima, que chama Kinra (2023), um filme todo falado em quechua, tradicional língua indígenas da América do Sul. Então o encontro com esse filme veio a partir dessa circulação, ou seja, já estamos pondo em prática esse encontro cultural transfronteiriço que muito pode contribuir com o panorama da nossa cultura do Acre.”
Sobre as expectativas para a próxima etapa, a diretora artística do festival, Karla Martins, afirma serem extremamente positivas, pois vai contar com estreias nacionais e filmes que não passariam nas salas convencionais de cinema, mas que têm uma trajetória de sucesso no Brasil.
“A questão da distribuição e escolha dos cinemas, que frequentemente priorizam blockbusters ou filmes europeus, é um desafio para filmes brasileiros como Ainda Estou Aqui, que recentemente se tornou a maior bilheteria da história do cinema nacional. Apesar do crescimento das plataformas digitais, as pessoas estão retornando às salas de cinema, especialmente quando encontram histórias que se conectam com seu contexto e tempo. O festival tem um papel importante ao levar essa entrega cultural e artística a diferentes localidades, como Rio Branco, a Resex e Senador Guiomard, celebrando a cultura e os pensamentos que impulsionam a humanidade”, conclui Karla Martins.
A retomada do Festival Pachamama, após três anos e uma pandemia, marca um momento muito especial. Segundo o cineasta e realizador do Festival Pachamama, Sérgio de Carvalho, este não é somente um festival de retomada, mas também de renovação. “Sentimos uma alegria imensa por poder reunir novamente público, artistas e cineastas para celebrar a arte e o cinema. Ao mesmo tempo, há um enorme senso de responsabilidade, porque sabemos o quanto a cultura sofreu — não só pela crise sanitária que nos afastou dos encontros presenciais. Ver o Pachamama de volta é sentir que, de alguma forma, as coisas estão melhorando, que estamos reconstruindo pontes e espaços essenciais para o diálogo e a cultura”, afirma.
O realizador também afirma que o festival é, antes de tudo, uma celebração da resistência. A prova que o cinema latino-americano, com sua potência e força, sobreviveu e segue mais vibrante do que nunca, reflexo do que somos, do que sentimos e do que acreditamos. “Retomar o Pachamama é reafirmar o poder da arte de nos transformar, de nos unir e de nos fazer acreditar em um futuro melhor. Estamos prontos para celebrar isso juntos, e isso é algo que nos enche de esperança e orgulho”, destaca.
“Esse intervalo [referente ao período da pandemia da covid-19] acabou criando uma necessidade social pelo Festival Pachamama. Desde que anunciamos a retomada, temos recebido tantas mensagens afetuosas, com relatos de pessoas dizendo o quanto sentiam falta do festival. Há uma sensação de que o Pachamama deixou uma lacuna nas atividades culturais do Acre, e isso mostra o quanto ele é significativo para a nossa comunidade”, afirma Sérgio de Carvalho.
O festival vai além de exibir filmes: conecta pessoas, promove reflexões e celebra a identidade cultural acreana.
Sobre a decisão de incluir filmes de outras regiões do Brasil, o diretor afirma a importância de trazer filmes brasileiros que dialoguem com diversas realidades e histórias fora do eixo mais tradicional, valorizando produções que representam diferentes partes do país. “É o caso de Oeste Outra Vez (2024), vencedor dos festivais de Gramado e Goiás, e também de obras independentes e ousadas, como O Clube das Mulheres de Negócios (2024), que abre o festival com a direção brilhante de Anna Muylaert. Este último, além de propor uma discussão super atual e relevante, reflete a força e a diversidade do cinema nacional contemporâneo”, indica.
“Nossa curadoria foi extremamente cuidadosa, priorizando um festival que não apenas faz sentido para o Acre e para a Amazônia, mas que também cria pontes de conexão com outras regiões e culturas. O cinema tem esse poder único de nos aproximar, de nos fazer refletir sobre o que nos une e o que nos diferencia, e o Pachamama é um espaço onde essas trocas acontecem de forma vibrante e significativa. Queremos que cada sessão seja um encontro transformador, que celebre o melhor do cinema latino-americano e brasileiro”, ressalta.
O diretor afirma que nesta edição do Festival é impossível escolher apenas um filme favorito, pela diversidade e riqueza que todos apresentam, mas faz destaques: “Destaco Apocalipse nos Trópicos (2024), da Petra Costa, pela temática tão contundente sobre a crescente mistura entre religião e política no Brasil, um tema que não poderia ser mais atual. Também o lindíssimo A Queda no Céu (2024), de Erik Rocha, que brilhou em Cannes por trazer o pensamento dos Yanomamis e levantar questões urgentes sobre a Amazônia. Não posso deixar de mencionar Centro Ilusão (2024), do talentosíssimo Pedro Diógenes, que representa a força do cinema cearense.”
“E, claro, os filmes acreanos têm um espaço especial no festival. Obras como Peregrina (2024), de Juliana Barros, Velando (2024), de Letícia Mamed, Altino Machado e Thiago Melo, e A Trégua da Flauta (2024), de Silvio Margarido, são reflexos da nossa identidade e da potência criativa local. É uma honra apresentar uma programação tão diversa, que conecta diferentes vozes e territórios por meio do cinema”, destacou.
Concluindo, o organizador afirma que as expectativas estão altíssimas para o Festival Pachamama 2023. “Minhas expectativas para o Festival Pachamama deste ano são altíssimas. Depois de três anos de pausa, temos a oportunidade de não apenas retomar, mas também renovar o festival, trazendo uma programação diversa, reflexiva e repleta de encontros significativos.”
“Espero que o Pachamama seja um espaço de conexão — entre o público e os filmes, entre culturas e territórios, e entre passado e futuro. É um momento para celebrar a resistência cultural, valorizar o cinema latino-americano e brasileiro, e provocar reflexões profundas sobre as questões sociais, ambientais e políticas que nos atravessam”, continua.
Conclui: “Também espero que o público se sinta tocado, inspirado e, acima de tudo, representado. Que possamos reafirmar a força do cinema como ferramenta de transformação e resistência, e que o Pachamama continue a ser um lugar de trocas, afeto e construção coletiva. Tenho certeza de que será uma edição memorável!”
O Festival Pachamama começa nesta terça-feira, 10, com a exibição do filme O Clube das Mulheres de Negócios (2024), da diretora Anna Muylaert, no Cine Teatro Recreio, em Rio Branco.
10 de dezembro (terça-feira)
19h: Abertura oficial no Cine Teatro Recreio
19h30: Filme longa-metragem O Clube das Mulheres de Negócios (95 min, 2024, Brasil, Class. 14 anos)
11 de dezembro (quarta-feira)
15h: Cine Teatro Recreio
18h: Programa de curtas no Cine Teatro Recreio
19h: Exibição itinerante no Quinari
21h: Filme longa-metragem Apocalipse nos Trópicos (110 min, 2022, Brasil, Class. Livre)
12 de dezembro (quinta-feira)
17h: Filme longa-metragem Peregrina (2022, Brasil, Class. Livre)
18h30: Première Velande (20 min, 2024, Brasil, Class. Livre)
19h: Filme longa-metragem Zafari (100 min, 2022, Peru/Brasil/México/França/Chile/República Dominicana/Venezuela, Class. 12 anos)
21h: Filme longa-metragem Centro Ilusão (85 min, 2024, Brasil, Class. 10 anos)
13 de dezembro (sexta-feira)
15h: Programa de curtas – Cine Teatro Recreio
18h: Filme longa-metragem Mestras (52 min, 2024, Brasil, Class. Livre)
19h: Filme longa-metragem Oeste Outra Vez (2024, Brasil, Class. 14 anos)
14 de dezembro (sábado)
10h: Masterclass sobre roteiro (2 horas)
15h: Programa de curtas no Cine Teatro Recreio
16h: Filme longa-metragem Kinra (157 min, 2023, Peru, Class. 16 anos)
19h: Cerimônia de encerramento
19h30: Filme longa-metragem 3 Obás de Xangô (77 min, 2024, Brasil, Class. 12 anos)
22h: Pachafesta
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