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Emater encerra Semana da Consciência Negra com Seminário na Grande Belém
Desde o dia 18 até esta segunda-feira (25), a Emater coordenou, em todo o Pará, ações de mutirão e festejo às populações negras, sobretudo quilombolas
25/11/2024 14h51
Por: Redação Fonte: Secom Pará

Nesta segunda-feira (25), mais de 100 pessoas coroaram o último evento da I Semana da Consciência Negra promovida pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) em todos os 144 municípios paraenses desde o dia 18 de novembro: o I Seminário da Consciência Negra reuniu movimentos sociais e agentes públicos no auditório Alberto Bentes Guerreiro, no escritório central do órgão, em Marituba, na Região Metropolitana de Belém (RMB).

Participaram a Secretaria de Assistência Social e Cidadania (Semasc) da Prefeitura de Marituba, a Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEIRDH) e a organização não-governamental (ong) Negro Zum.

O destaque da programação foi a Palestra Magna de Letramento Racial e Racismo Institucional, ministrada pelo gerente estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Seidrh, Denilson Silva, de 36 anos, o Pai Denilson, líder do terreiro de tambor de mina Terreiro de Mina Nagô Caboclo Flecheiro, no bairro da Terra Firme, na capital Belém.

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“O ‘racismo institucional’ consiste em práticas travestidas de burocracia exagerada no tratamento, imersão e interatividade das pessoas pretas, quando no contexto de acesso a serviços públicos. O maior desafio para a nossa população é ser enxergada pelas gestões oficiais como ‘grupo tradicional’, porque somos uma vivência sem diretriz escrita, baseada na ancestralidade”, explica.

O dirigente menciona escalas como violência obstétrica e violência policial: “Somos as principais vítimas dessas dinâmicas de agressão e letalidade. As mulheres, a juventude. Precisamos de ações afirmativas e mobilização para debater a transversalidade das políticas públicas, mitigar os efeitos da história de discriminação e opressão e tirar da invisibilidade os pretos da Amazônia, porque a Amazônia é preta”, diz, com foco na estatística de o Pará constar atualmente como segundo estado com maior proporção de pessoas negras, por autodeclaração, no Brasil, de acordo com dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - 79,6 % da população, atrás apenas da Bahia, com 79,7 %.

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A secretária de assistência social e cidadania de Marituba, Joelma Reis, sinaliza a capacitação de servidores e a integração entre entidades públicas e da sociedade civil como caminhos para a igualdade étnica e racial: “Hoje trabalhamos com reconhecimento e autonomia, para garantir plenitude de direitos, valorização dos territórios e respeito aos costumes. Podemos colocar como demandas vagas em cursinhos populares e descentralização de oferta de exames médicos”, resume.

Para o diretor administrativo da Emater, Robson Silva, que compôs a mesa de abertura do Seminário, a oportunidade reforça o compromisso da Emater com os povos tradicionais, a partir da Política de Interesses Difusos e Coletivos (PIDC), lançada pela Instituição em 2023: “São ferramentas, dinâmicas e metodologias de atendimento, acolhimento e parceria de ater [assistência técnica e extensão rural] pública quilombola e com os Potma [Povos Tradicionais de Matrizes Africanas e Terreiros]. A inclusão é para todas as classes, todas as cores e todas as culturas”, apontou, em discurso na cerimônia.

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Na ocasião, ainda, os movimentos sociais entregaram moções à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), à Prefeitura de Marituba e à Câmara de Vereadores do município, com requerimentos sobre projetos de lei, criação de um Fundo Municipal de Combate e Erradicação da Pobreza (Funmari) e a permanência de uma comissão municipal de igualdade racial e combate à intolerância religiosa.

Segundo o fundador da ong Nego Zum, Marcelo Ferreira, de 37 anos, responsável pelo recolhimento de assinaturas dos documentos coletivos, Marituba é uma “cidade preta”: “Se a maioria dos habitantes é preta, é parda, não se tem como ignorar a necessidade de direcionamento de discussões e especificações no âmbito público”, declara.

Seminário

O Seminário também sediou uma feira de produtos da tradição afro, como roupas estilizadas, bonecas de pano, biojóias e preparados de ervas.

Yaô Makini, de 43 anos, representante do grupo Arte de Kiloa, da Comunidade do Abacatal, em Ananindeua, na Grande Belém, expôs e comercializou misturas para defumação e fluidos para banhos de harmonização e limpeza. Os princípios ativos percorriam de patchuli a pitanga - tudo plantado, colhido e processado no próprio Abacatal, onde se pratica umbanda da vertente “afrobudígena”, de influência africana, budista e indígena.

A marca Arte de Kiloa é acompanhada pelo slogan “Arteiras que Tecem o Amanhã” e pelo lema “A Consciência é o Pilar dos Tempos”.

“Somos a resistência da resistência. Uma comunidade liderada por mulheres, atuantes sob afrorreligiosidade. Estes banhos e estas defumações podem ser feitos por qualquer pessoa de qualquer religião, dentro de casa mesmo, desde que não se molhe a cabeça. A ideia é limpeza espiritual e energética e harmonização da ‘centelha crística’, centro da Divina Presença, sobre o Deus ou deuses em que cada um acredita”, ensina.

Semana da Consciência Negra

De 18 a 25 de novembro, a Emater coordenou, em todo o Pará, ações de mutirão e festejo às populações negras, sobretudo quilombolas. Houve entrega de cadastros nacionais da agricultura familiar (cafs), prospecção de demandas para crédito rural e reuniões para inserção nas políticas públicas do segmento, entre outras atividades.

O presidente da Emater, Joniel Abreu, afirma que a Emater já desenvolvia atividades em territórios quilombolas, porém que somente a partir de 2024 iniciou de maneira afetiva atendimento inerente aos Potmas.

“A I Semana da Consciência Negra consagrou, assim, a visibilidade e o evidenciamento de atribuições e metas que passaram a fazer parte do dia a dia extensionista, em uma perspectiva antirracista e de postura de combate ao racismo estrutural, com o objetivo de agregar desenvolvimento social e econômico”, conclama.

Texto de Aline Miranda