O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), acompanha a segunda etapa do Inquérito de Prevalência para certificação da eliminação do tracoma como problema de saúde pública no Brasil. No Maranhão, o inquérito será desenvolvido nas aldeias Escalvado e Porquinhos, em Barra do Corda (MA), até 30 de novembro.
"O Governo, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, apoia o inquérito de validação da eliminação da tracoma. A estratégia teve início no estado e acontece até o dia 30 de novembro, tendo como objetivo avaliar a prevalência da doença em territórios de situação de risco epidemiológico e social. Isso reafirma o nosso compromisso junto à Organização Mundial de Saúde para a eliminação dela em todo o território maranhense. Na oportunidade também trouxemos os insumos necessários para iniciar o tratamento, uma vez tratada a população ela vai estar livre da doença", pontuou a chefe do Departamento de Epidemiologia da SES, Monique Maia.
O projeto Inquérito de Prevalência do tracoma está sendo desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS) e a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI/MS) em todo o país. No Maranhão, a ação é desenvolvida em parceria com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI-MA).
O foco da pesquisa está na detecção da inflamação Tracomatosa Folicular (TF) em crianças de 1 a 9 anos de idade, e na Triquíase Tracomatosa (TT) na população de 15 anos ou mais de idade. O modelo piloto da pesquisa foi aplicado, nesta terça-feira (12), na Aldeia Januária, na cidade de Santa Inês. A comunidade indígena da etnia Guajajará possui 576 habitantes e fica localizada a 10 quilômetros do município de Santa Inês. A atividade adotou o modelo piloto que será aplicado nas aldeias Escalvado e Porquinhos, em Barra do Corda.
O pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica na linha de Informação e Saúde (Fiocruz), Paulo Borges, destacou a importância da eliminação do tracoma como problema de saúde pública no Brasil.
"O tracoma é uma infecção ocular causada por uma bactéria da clamídia. A transmissão acontece pelo contato das mãos com os olhos, causando foliculites que quando cicatrizam deformam a região da pálpebra, invertendo os cílios, provocando lesões no globo ocular que podem levar a cegueira. A ideia do projeto é eliminar o tracoma como um problema de saúde pública no Brasil e uma vez verificada a eliminação do Brasil poderá ser certificada pela OMS como um país livre da doença como um problema de saúde pública", explicou Paulo Borges.
O técnico do Ministério da Saúde vindo do Ceará para fazer esse levantamento no Maranhão, Flávio Farias, detalhou como é feito o exame. "No momento do exame nós investigamos a presença de entrópios, que é uma condição na pálpebra. Se ela virar para dentro do olho e o cílio ficar fixo voltado para dentro do olho também, isso se mostra como um sinal. A tracoma é uma doença evolutiva crônica, se não tratado a tempo, ocasionam os entrópios e atriquias na pálpebra, causando cegueira".
O resultado do exame ocular externo é informado ao indivíduo no momento da realização, e aos pais ou responsáveis, no caso de ser uma criança examinada.
Cristina Caragiu Guajajara é agente de saúde na Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI- Januária) e líder da aldeia Januária. Ela comentou sobre a importância da realização do inquérito. "A gente nunca teve na nossa comunidade pessoas que viessem para fazer esse tipo de teste. A gente também nunca sabe quem tem e quem não tem. Está sendo muito bom porque a gente recebe orientação, porque a gente não sabia que é o tracoma".
Leilane Rodrigues Souza Guajajara, de 30 anos, e quatro dos seus seis filhos participaram da pesquisa e realizaram o exame feito pelos profissionais na ação em Januária. "Eu achei bom, apesar de ser a primeira vez que eu estou fazendo, mas é muito bom para saber o que tem. Isso me deixa mais tranquila para a gente saber o que a gente tem, se está bom, ou se tem algum tipo de doença".
A pesquisa
Durante o levantamento dos dados do Inquérito de Prevalência para certificação da eliminação do tracoma como problema de saúde pública no Brasil, os pesquisadores adotam etapas, como: visita aos domicílios; abordagem e consentimento para a pesquisa (TCLE) com preenchimento da ficha de domicílios e de moradores; entrevista com o responsável pelo domicílio sobre o número de residentes; exame clínico dos olhos dos moradores de 1 ano ou mais de idade; tratamento medicamentoso e ações educativas de higiene.
Durante a execução da pesquisa é observado o número de moradores com 1 ano ou mais de idade, quantas crianças de 1 a 9 anos residem no domicílio, além de todos os moradores de 1 ano ou mais de idade das aldeias selecionadas serão examinados quanto à presença de tracoma.
O número de moradores e os resultados do exame ocular externo são registrados com auxílio de smartphone por um aplicativo desenvolvido para este fim. Os dados coletados na pesquisa são analisados sem a identificação dos sujeitos da pesquisa, e só serão utilizados no nível coletivo para estudos estatísticos e epidemiológicos. Após a análise dos resultados, será preparado um dossiê documentando o alcance das metas de eliminação em cada uma das Unidade de Avaliação.
Primeira etapa
A primeira etapa da pesquisa no estado aconteceu em 2022 e foi realizada por amostragem com as populações indígena e não indígena. Nesta, o objetivo é obter uma linha de base da situação da doença na população indígena, uma vez que houveram casos da infecção no grupo, servindo também para estimar os indicadores de eliminação do tracoma através de uma pesquisa de base populacional.
A ênfase dada à população indígena se deve as especificidades desse grupo populacional, pelas suas características demográficas, distribuição geográfica e organização dos serviços de saúde.
As metas de eliminação do tracoma são prevalência na fase inflamatório folicular (TF) em crianças com idade de 1 a 9 anos deve ser menor que 5%, enquanto que prevalência na fase Triquíase Tracomatosa (TT) desconhecida para o sistema de saúde, precisa ser menor que 0,2% na população de 15 anos ou mais.
O diagnóstico do tracoma é feito de modo clínico por meio de exame ocular. A pesquisa realizada pelo inquérito tem como foco a detecção da inflamação Tracomatosa Folicular (TF) em crianças de 1 a 9 anos de idade, e na Triquíase Tracomatosa (TT) na população de 15 anos ou mais de idade.
No Maranhão, segundo o Ministério da Saúde, entre os anos de 2021 a 2023, a prevalência do TF em crianças com idade de 1 a 9 anos é de 2,9%, correspondente a 1.275 crianças examinadas, enquanto que a prevalência na fase TT, entre pessoas com 15 anos ou mais, foi de 0,12%, o correspondente a 2.347 examinados.
Até o momento, a pesquisa já foi executada em cinco Distritos Sanitários Indígenas (DSEI): Alto Rio Solimões, Interior Sul, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Leste de Roraima e Tocantins.